Concentração de CO2 ultrapassou definitivamente
as 400ppm.
A
concentração de gases de efeito estufa (GEE) ultrapassou o limiar de 400 partes
por milhão e atingiu um perigoso ponto de não retorno. Nos 800 mil anos antes
da revolução industrial a concentração de CO2 na atmosfera ficou abaixo
de 280 partes por milhão (ppm). Ou seja, em cada um milhão de moléculas de ar
no planeta, havia menos de 280 do principal gás de efeito estufa. As medições
com base no estudo do gelo, mostram que em 1860 a concentração atingiu 290 ppm.
Em 1900 estava em 295 ppm. Chegou a 300 ppm em 1920 e atingiu 310 ppm em 1950.
Em
1958, Charles Keeling, instalou no alto do vulcão Mauna Loa o primeiro
equipamento para medir as concentrações de CO2 na atmosfera. A
pesquisa tinha como objetivo comprovar a tese de um professor dele de que o CO2
produzido por atividades humanas estava se acumulando progressivamente no ar e
aquecendo o planeta. A partir de uma série de dados mensais da concentração de
CO2, Charles elaborou um dos gráficos mais famosos da história
climática, a chamada curva de Keeling (como mostrado na figura acima).
Com
base nos dados do laboratório de Mauna Loa, constata-se que a concentração de
CO2 na atmosfera, na média mensal, chegou a 399,76 partes por milhão
(ppm) em maio de 2013 e só ultrapassou a barreira de 400 ppm no ano seguinte.
Em abril de 2014 a concentração de CO2 ficou em 401,34 ppm, passou
para 401,88 ppm em maio e caiu para 401,20 ppm em junho de 2014. Mas como a
concentração segue um padrão sazonal, ao longo do ano, com os picos acontecendo
no mês de maio e os vales acontecendo nos meses de setembro, a média anual de
2014 foi de 398,61 ppm.
Em
2015, a marca das 400 ppm foi ultrapassada em 8 dos 12 meses, sendo fevereiro
(400,28), março (401,54), abril (403,28), maio (403,96), junho (402,80), julho
(401,31), novembro (400,16) e dezembro (401,85). Na média anual, 2015 foi o
primeiro ano a ultrapassar a barreira simbólica e marcou a cifra de 400,83 ppm.
O
ano de 2016 vai ser o primeiro a ultrapassar a marca de 400 ppm em todos os
meses e em todas as semanas. Somente no dia 29 de agosto a concentração de CO2
ficou abaixo da marca histórica e marcou 399,46 ppm. Nos demais 364 dias do ano
a concentração se manteve acima de 400 ppm, com o recorde no dia 10 de abril
com 409,34 ppm. A semana de 10 a 16 de abri teve a marca recorde semanal de
408,69 ppm e o mês de maio de 2016 teve o recorde mensal de 407,7 ppm. Houve
queda nos meses seguintes e o mês de agosto teve média de 402,25 ppm.
Nos primeiros dias de setembro a concentração de
CO2 ficou em 400,98 ppm. Na semana de 5 a 11 de setembro ficou em
400,97 ppm. Na última semana de setembro a concentração ficou em 400,72 ppm, a
menor média semanal do ano. Na média de setembro de 2016, a concentração
atingiu 401,03 ppm, o nível mensal mais baixo para o ano de 2016.
No
mês de outubro a concentração mensal voltou a subir e atingiu a média mensal de
401,57 ppm. Foi o primeiro mês de outubro com concentração acima de 400 ppm.
Seguindo as tendências sazonais, a concentração de CO2 deve subir
até maio de 2017, quando, provavelmente, deve ultrapassar a marca de 410 ppm. O
que mostra que o mundo está indo para uma situação perigosa e sem precedentes
pelo menos nos últimos 800 mil anos.
Quanto
mais sobe a Curva de Keeling, mais aumenta o aquecimento global e mais rápido
acontece o degelo do Ártico, da Groenlândia, da Antártica e dos glaciares. Tudo
isto provoca a elevação do nível dos oceanos que pode ficar, em um futuro não
muito distante, de 6 a 9 metros acima da média do século XIX. O excesso de
dióxido de carbono também provoca acidificação dos solos e das águas. Assim, o
aquecimento global, gerado pela emissão de gases de efeito estufa (GEE) passa a
ser a maior ameaça para a continuidade do processo civilizatório e a
permanência da vida na Terra tal como evoluiu nas últimas dezenas de milhões de
anos.
Ultrapassar
o limite de 350 ppm já é um grande risco. Ir além de 410 ppm é um risco muito
maior, pois o Planeta pode repetir a temperatura do período Eemiano, que
terminou a 115 mil anos atrás, quando a temperatura estava cerca de 2ºC acima
da média do século XX e havia muito menos gelo e o mar estava entre 6 e 9
metros acima dos níveis atuais. Para evitar uma catástrofe, o mundo vai ter não
só que zerar as emissões, mas também sequestrar carbono para reduzir o efeito estufa.
Infelizmente,
a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA deve agravar os problemas
ambientais, enfraquecer o Acordo de Paris e deve aumentar as emissões de CO2,
já que ele pretende incentivar o crescimento econômico e a indústria fóssil. A
consultoria em inovação Lux Research, de Boston, projeta que os EUA devem
emitir 3,4 bilhões de toneladas adicionais de CO2 caso Trump governe
o país por oito anos e coloque em práticas os seus planos econômicos.
Artigo
de Tobias Friedrich et. al., publicado na revista Science (09/11/2016) sugere
que o clima da Terra poderia ser mais sensível aos gases de efeito estufa do
que se pensava. Usando novo valor para a sensibilidade do clima à alta na
concentração de CO2 na atmosfera, chegou-se ao cenário de que a alta
na temperatura média global poderia variar de 4,8 a 7,4°C em 2100 na comparação
com os níveis pré-industriais. Se a temperatura da Terra subir nesses níveis, o
aquecimento global poderia transformar o Planeta em um inferno.
O
mundo corre perigo. O efeito estufa trará custos enormes e as sociedades podem
não estar preparadas para pagar o alto preço de limpar no futuro a sujeira
feita no passado e no presente. No ritmo atual, as gerações futuras vão receber
uma herança maldita, que pode provocar uma significativa mobilidade social e
ambiental descendente. (ecodebate)
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