O ser humano é fruto de uma longa evolução das
espécies em meio à biodiversidade do Planeta. Isto não quer dizer que somos os
animais maiores, mais fortes e mais rápidos da natureza. Ao contrário, o ser
humano nasce de maneira bem débil e sem poder caminhar e procurar a sua própria
comida. Em geral, o ser humano não pode nadar grandes distâncias e não pode
voar. Também não possui em sua constituição física garras para se defender ou
atacar e nem venenos para paralisar suas vítimas ou predadores. Não possui nem
penas e nem pêlos para se proteger do frio. O ser humano é uma espécie bastante
frágil.
Porém, esta espécie natural e biologicamente
frágil desenvolveu uma arma poderosíssima que é o cérebro. O homo
sapiens (homem sapiente) desenvolveu o raciocínio, a linguagem, a
cultura e as civilizações. A inteligência humana também foi fruto de um longo
processo de evolução que se aprimorou enfrentando as adversidades da natureza.
Para superar suas fragilidades, o homo sapiens passou a
construir ferramentas e se transformou em homo faber (homem
fabricante). Uma coisa fortaleceu a outra, pois a inteligência permite
construir ferramentas e utensílios e a construção destes aparelhos ampliou os
limites da inteligência. O cérebro desenvolvido permite a resolução de
problemas práticos e a postura ereta do homo erectus (bípede)
possibilitara o uso dos braços para manipular objetos, especialmente com a
capacidade prensil do polegar. Foi assim que o ser humano conquistou uma grande
mobilidade espacial e social.
Primeiro, o ser humano aprendeu a usar a pedra
lascada, depois a pedra polida, as lanças, o arco e flexa, as facas, etc.
Aprendeu a controlar o fogo para cozinhar, gerar calor e luz. Depois juntou o
fogo com o domínio da mineração para construir ferramentas e armas com os
avanços da metalurgia. Inventou a roda e os meios de transporte. Criou o zero,
o sistema decimal de números e o sistema binário (zeros e uns) que, hoje em dia,
são a base da sociedade da informação. Aprendeu a plantar e a domesticar os
animais para melhorar sua alimentação. Depois construiu cidades, fábricas,
hospitais, escolas, carros, trens, aviões, navios, submarinos, etc. Com isto, o
ser humano passou a andar, nadar e voar por todo o planeta e se tornou uma
espécie onipresente na Terra. Hoje em dia, os homens e mulheres podem dizer:
“está tudo dominado”.
Tudo começou há cerca de 200.000 anos. Os estudos
com o DNA mitocondrial de fósseis humanos mostram que a espécie teve origem na
África oriental. A expansão e a migração dohomo sapiens para fora
do continente africano começou há cerca de 100.000 anos.
A primeira diáspora bem sucedida aconteceu entre
90 mil e 85 mil anos, quando um grupo dehomo sapiens atravessou o
Mar Vermelho e seguiu em direção ao sul da Ásia. Entre 85 mil e 75 mil anos
chegaram à Índia, Indonésia e ao sul da China. Entre 65 mil e 50 mil anos, um
fluxo chegou à Austrália e outro ao Oriente Médio (até o Bósforo). Entre 50 e
45 mil anos, chegaram à Europa. Entre 45 e 40 mil anos, novos grupos de
migrantes chegaram à Ásia Central, Tibet, interior da China, Córeia e Japão. De
40 a 25 mil anos, outros fluxos chegaram à Rússia, ao Circulo Polar Ártico, à
Sibéria e ao estreito de Bering. De 25 a 22 mil anos um pequeno grupo chegou à
América do Norte. Mas os rigores da Idade do Gelo restringiram a expansão
humana. Entre 15 e 12 mil anos a diáspora que começou na África, se espalhou
pela América do Norte e chegou à América Central e à América do Sul.
Com o fim da Idade do Gelo, entre 10 mil e 8 mil
anos atrás, houve expansão da agricultura e o ser humano se espalhou pelo
Globo, ocupando todos os continentes e todas as regiões do mundo. Estima-se que
a população mundial passou de poucos milhares de indivíduos há 50 mil anos para
5 milhões de habitantes há 8 mil anos, cerca de 250 milhões de habitantes no
ano 1 da era Cristã, algo em torno de 500 milhões no ano de 1500 (descobrimento
do Brasil), 1 bilhão em torno do ano 1800 e 7 bilhões de habitantes em 2011.
Estima-se que a soma de todas as pessoas nascidas desde o surgimento do homo
sapiens chegue na casa de 110 bilhões de pessoas.
Diversos historiadores consideram que a migração
humana foi um sucesso e que a humanidade criou uma grande civilização cheia de
realizações e invenções geniais. Porém, existem outros historiadores que
consideram que o ser humano, a despeito de ter realizado algumas obras geniais,
tem causado muitos danos à natureza e ao Planeta. As migrações humanas desde a
África trouxeram grandes destruições ambientais e a biodiversidade dos biomas
foi alterada.
A natureza do continente
americano sofreu muito com a chegada humana, especialmente após o crescimento
do volume de pessoas. Por exemplo, as migrações humanas que chegaram à ilha de
Páscoa (Rapa Nui), pertencentes atualmente ao Chile, acabaram por
destruir a natureza local e a própria civilização da terra dos Moais.
A civilização Nasca no Peru, além de fazer as famosas linhas de
Nasca, contribuíram para a degradação ambiental ao cortar as árvores
locais que resistiam à pouca precipitação pluviométrica.
Mas foi após a chegada de Cristóvão Colombo que os
danos ao meio ambiente se intensificaram e a crise ambiental se agravou
progressivamente. Em Galápagos, os equatorianos, durante mais de um século,
mataram as tartarugas para fazer óleo e iluminar as cidades (como Guayaquil e
Quito). Das diversas espécies de tartarugas, uma tem uma dramática extinção,
pois só havia sobrado o “solitário George” (último exemplar da espécie), que
morreu no mês passado. Além disto, houve a introdução de diversas espécies
invasores de plantas e bichos que destruíram grande parte da riqueza natural do
arquipélago. Em dimensão bem maior, os Estados Unidos da América (EUA) são
campeões mundiais de destruição ambiental e estão afetando, não só o seu
território, mas o clima do Planeta.
No Brasil, 93% da Mata Atlântica foi destruída a
ferro e fogo. Outros biomas, como o Cerrado, os Pampas e a Amazônia estão indo
pelo mesmo triste caminho. Os rios das grandes cidades foram destruídos ou
simplesmente viraram canais de esgoto, como os rios Tietê, Carioca e Arrudas,
respectivamente, em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os exemplos do
impacto negativo da população humana são muitos e dramáticos. A destruição do
solo, das águas e do ar se espalha com grande velocidade, destruindo a riqueza
biológica e as espécies nativas e endêmicas.
Por isto, alguns pensadores estão reavaliando o
papel das migrações e até considerando o ser humano uma espécie invasora. As
espécies invasoras são aquelas oriundas de outra região ou bioma, e que se
adaptam e proliferam muito bem no novo ambiente, competindo com as espécies
nativas por nutrientes, luz solar e espaço físico. Em geral, elas modificam o
ecossistema original e reduzem a biodiversidade. Por falta de predadores
naturais, as espécies invasores multiplicam sua presença como uma praga.
Por exemplo, o filósofo britânico John Gray, em
entrevista à revista Época (29/05/06), apresenta um prognóstico pessimista
sobre a humanidade: “A espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a
existência dos outros seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o
equilíbrio do planeta. E a Terra reagiu. O processo de eliminação da humanidade
já está em curso e, a meu ver, é inevitável. Vai se dar pela combinação do
agravamento do efeito estufa com desastres climáticos e a escassez de recursos.
A boa notícia é que, livre do homem, o planeta poderá se recuperar e seguir seu
curso”.
O homo sapiens utilizou o
cérebro para construir uma avançada civilização planetária, mas tem utilizado a
sua inteligência de maneira instrumental e egoísta. O impacto humano já
ultrapassou a capacidade de regeneração de todos os continentes. Não há mais
fronteiras para novas migrações. Será que o homo sapiens que
se espalhou pelo Planeta (chegando por último ao continente americano) pode ser
classificado como uma espécie invasora? Ou haverá uma forma de evitar seus
efeitos daninhos? (ideiaweb)
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