Aquecimento recorde em 2016 e os seis anos de contínuo
aumento da temperatura.
O
ano de 2016 foi o mais quente já registrado. Desde o início da série de medição
regular da temperatura do planeta, que começou em 1880, é a primeira vez que a
temperatura atinge 0,94ºC acima da média do século XX e, ao mesmo tempo, o
aquecimento global aumenta por seis anos seguidos.
As
temperaturas ficaram, acima da média do século XX, em 0,58ºC em 2011, 0,62º C
em 2012 e 0,67ºC em 2013. Mas, nos 3 casos, as temperaturas foram menores do
que em 2010 que estabeleceu a marca de 0,70ºC acima da média do século XX. Nos
anos seguintes, pela primeira vez a temperatura bate recordes sucessivos por
três anos seguidos, 2014 com 0,74ºC, 2015 com 0,90ºC e 2016 com 0,94ºC. Estes 3
anos foram os mais quentes já registrados.
O
aumento da temperatura não segue uma tendência retilínea e monotônica. A
temperatura cresce em espiral com momentos de pico e momentos de vale. Houve um
pico em 1998, quando a temperatura atingiu a marca de 0,63ºC, acima da média do
século XX. Foi o maior valor do século passado. Mas nos anos seguintes a
temperatura caiu e só voltou a níveis acima daquele patamar em 2005 e 2010, com
0,66ºC e 0,70ºC, respectivamente.
Embora
o aumento da temperatura não seja monotônico e mesmo havendo oscilações
naturais, dos dezessete anos mais quentes já registrados, dezesseis estão no
século XXI.
Como
em 2011 a temperatura global ficou abaixo daquela atingida em 1998, isso fez os
céticos do clima falarem em hiato climático e argumentarem que o aquecimento
global seria uma fraude. Mas, na realidade, a temperatura média do século XXI
tem sido muito mais elevada do que a temperatura média do século XX e o
aquecimento global não está estagnado, mas, sim, está se acelerando.
Considerando toda a série histórica (entre 1880
e 2016), o aumento médio por década foi de apenas 0,07ºC, como mostra o gráfico
abaixo. As barras azuis são dos anos em que a temperatura ficou abaixo da média
do século XX, enquanto as colunas vermelhas são dos anos que ficaram acima da
média do século passado. Nota-se que desde 1977, todos os anos apresentaram
temperatura acima da média do século XX. E o aumento foi crescente.
O
gráfico abaixo mostra que a média do período 1950-2000 foi de 0,11ºC, por
década, apresentando um aumento significativo em relação ao 0,07ºC. da média de
toda a série.
Já o
gráfico abaixo mostra que a média do período 2000 a 2016 aumentou e foi de
0,19ºC, por década. Ou seja, o ritmo de aquecimento nos 16 primeiros anos do
século XXI está aumentando quase o dobro do que aconteceu na segunda metade do
século XX e quase o triplo do ritmo prevalecente em toda a série. No ritmo dos
primeiros 16 anos do século XXI o aquecimento global deve ultrapassar 2,5ºC.
Artigo
de Dutton e colegas (2015), na revista Science, analisando o nível dos oceanos
durante períodos quentes na história recente da Terra, semelhantes ou
ligeiramente superiores aos atuais, particularmente o último interglacial – um
período quente entre eras glaciais cerca de 125 mil anos atrás – quando a
temperatura média global foi semelhante à atual. Eles observaram que o nível
médio do mar estava entre 6 e 9 metros em relação aos níveis atuais, causado
pelo derretimento do gelo dos glaciares, da Groenlândia e da Antártida. Antes
disso, cerca de 400 mil anos atrás, quando as temperaturas médias globais foram
estimadas entre 1°C e 2°C acima dos níveis pré-industriais, o mar chegou a
estar entre 6 e treze metros acima do que está hoje.
Artigo
de Tobias Friedrich et. al., publicado na revista Science (09/11/2016) sugere
que o clima da Terra poderia ser mais sensível aos gases de efeito estufa do
que se pensava, elevando o espectro de um cenário apocalíptico da elevação da
temperatura de mais de até 7º C dentro do espaço de uma vida.
Relatório
do Banco Mundial (2016), divulgado durante a COP-22 em Marrakesh, estimou as
perdas causadas pelas catástrofes naturais em US$ 520 bilhões ao ano, revisando
para cima a alta dos prejuízos sofridos pela população mais carente. A nova
avaliação de perdas do BM é superior em 60% aos cálculos habituais das Nações
Unidas (US$ 300 bilhões). A diferença se dá porque os autores do informe não
calcularam apenas as perdas materiais (moradias, infraestruturas, meios de transporte),
como também a perda do “bem-estar” que um desastre natural causa aos mais
desfavorecidos. Isso inclui gastos com alimentação, educação, saúde etc, já que
os atingidos perderam tudo ou quase tudo. Por isso, o BM acredita que, se o
planeta não sofresse catástrofes naturais durante um ano, mais de 26 milhões de
pessoas escapariam da pobreza.
Chegar
a 1,5ºC será um perigo. Ultrapassar os 2ºC será uma catástrofe. Mas quando
consideramos a linha base de comparação o período 1881-1910, o limite de 1,5ºC
já foi alcançado em março de 2016. Na final do ano de 2016, a temperatura ficou
em torno de 1,2ºC, em relação ao período 1881-1910 (mais próximo da etapa
pré-industrial), conforme mostra o gráfico abaixo:
Se o
aquecimento global ultrapassar os 2ºC e o nível do mar subir 6 metros todas as
praias do mundo, na forma atual, desaparecerão e grandes áreas das cidades
litorâneas e terrenos férteis para a agricultura e pecuária também
desaparecerão. Os prejuízos imobiliários serão incalculáveis e haverá um
impacto negativo na economia e haverá um empobrecimento generalizado da
população mundial e um aumento da pobreza.
De
fato, o aquecimento global está se acelerando como mostra os gráficos acima e
isto gera negatividades crescentes não só para a civilização, como também para
toda a biodiversidade do Planeta. Se a temperatura da Terra ultrapassar os 2ºC
e continuar subindo, poderá atingir o nível mais alto dos últimos 5 milhões de
anos e desencadear uma cadeia de eventos catastróficos e mudanças climáticas
que podem transformar o Planeta em um inferno, para todas as formas de vida.
(ecodebate)
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