Não
há o que comemorar em 22/03/17 quando celebramos o Dia Mundial da Água. Com a
privatização do nosso patrimônio hídrico a pleno vapor no Brasil, só nos resta
uma pergunta: por que comemorar?
Com
a posse de 12% da água doce do planeta, o Brasil é a bola da vez para o mercado
da água. Tudo, claro, justificado com eufemismos como modernização do setor
hídrico, bom gerenciamento, alavanca para o desenvolvimento, água para quem tem
sede e outros mais. Todos nós já conhecemos muito bem o resultado do “cuidado”
por parte dos que detém o poder para com os nossos recursos naturais. Basta
pensar no que aconteceu com os nossos minérios nas últimas décadas. Acontece
que a água não é um elemento natural qualquer. Ela é essencial para manter a
vida no planeta.
O
Brasil sediará na capital do país, em 2018, o Fórum Mundial da Água. A grande
mídia dirá que a discussão será pautada pela universalização do saneamento. A
conclusão do documento final do Fórum eu adiantarei aqui para vocês: sem a
participação da iniciativa privada não será possível levar saneamento a toda a
população brasileira. Não, eu não tenho o dom de prever o futuro. É que basta
ler alguns dos documentos dos Fóruns Mundiais da Água anteriores e dos eventos
promovidos pelo Banco Mundial com relação a água. O resultado é sempre a
afirmação de que a água tem valor econômico e deve ser tratada como uma
mercadoria.
Houve
um tempo que a água era privatizada por grandes proprietários, e ainda o é em
muitos lugares deste país. Hoje, multinacionais e algumas empresas nacionais
perceberam que a água pode ser o último recurso natural na lista dos
privatizáveis. Ainda há mais um grande atrativo: diferente das outras matérias
primas, a água não precisa passar por uma transformação para a venda. Está lá
pronta para o consumo. Basta que seja captada, transportada e seguir para a
venda.
A
autorização para que a CEDAE, empresa de saneamento do Rio de Janeiro, seja
privatizada acendeu a luz vermelha (creio que todas a luzes estão acesas neste
momento do país). Há pouco ficamos sabendo que uma multinacional canadense comprou
uma empresa privada de saneamento brasileira e será responsável pela
distribuição de água de 5% da população no Brasil. Para os próximos anos
anuncia-se a privatização de mais de uma dezena de companhias estaduais de água
utilizando outros eufemismos como Parceria Público Privada e Parceria Pública
de Investimento. Uma verdadeira ironia quando sabemos que cidades como Berlim e
Paris reestatizaram as suas companhias de distribuição de água, gesto que já
foi repetido por mais de 200 cidades ao redor do mundo nos últimos anos.
A
questão da privatização da água tornou-se tão séria que até mesmo o Papa
Francisco em sua encíclica Laudato Si afirma que “em alguns lugares cresce a
tendência de se privatizar este recurso escasso, tornando-se uma mercadoria
sujeita as leis do mercado.”2 Hoje sabemos que um destes lugares é o Brasil.
Só há uma maneira de parar esta insanidade. A
necessidade de conscientização da população brasileira é urgente e necessária
para contrapor-se com celeridade e eficácia a esta ameaça ao acesso a um bem
comum. Sabemos por experiência com o que aconteceu na Bolívia no ano 2000 com a
privatização da água que serão os mais pobres que pagarão o preço com esta
política de exclusão. Água é importante demais para ser uma mercadoria.
(ecodebate)
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