Vazamento de água
Este
é um tema recorrente, mas que nem por isso merece ser negligenciado. Imagine se
na indústria farmacêutica houvessem perdas de 36 ou 38% nos caríssimos sais que
constituem as mais importantes matérias primas. São estimadas perdas bem
inferiores a 1% para viabilizar indústrias farmacêuticas.
Na
indústria têxtil se estima valores que oscilam entre 1 e 2% de perdas na
matéria-prima constituída por fios têxteis. E já se considera este índice muito
elevado. Na indústria da construção civil, reconhecida por acolher as frações
mais despreparadas de recursos humanos, com mais baixa escolaridade, e neste
sentido presta um importante serviço de inclusão social, mas pessoal que por
sua reduzida qualificação é desprezado por todos os outros setores.
Mesmo
assim, na construção civil, nas pequenas e mais carentes empresas, as perdas
são inferiores a 30%, em proporções muito variáveis. Mas isto já é um absurdo.
Imaginar que o custo da ineficiência de precisar pagar por uma casa a cada 3,
esteja embutido nos preços finais das construções. Nas grandes construtoras se
imagina que os índices de desperdício, em média já sejam inferiores a 10%. Mas
ainda assim absurdamente elevados.
E
sobre as perdas registradas na distribuição de água potável, que se estimam com
foi citado em números próximos a 40% em média? Nenhum comentário, nenhuma
radical providência ou quebra de paradigma. Mas agora não tem mais protelação
possível. Não importa quem pague o preço por esta fantástica ineficiência dos
concessionários. Não existem águas disponíveis para sustentar este astronômico
desperdício. A água perdida no caminho, é a água que não se dispõe para uso
doméstico de qualquer natureza.
Segundo
dados do Instituto Trata Brasil, o pior é a estimativa que menos de 40% dos
esgotos, mais exatamente 37,9%, receba tratamento adequado antes de disposição
final na rede hídrica superficial. Este esgoto sem tratamento acaba encarecendo
ou inviabilizando a potabilização de muitas águas, além das perdas vergonhosas.
Mas sejam serviços públicos ou concedidos via concessões legais, quem paga todo
este circo de desperdício de água, que nem existe disponível para tais malversações,
é o contribuinte através de impostos ou o consumidor via taxas.
Existem
inúmeros motivos para este descalabro, começando como sempre pela incúria de
políticas públicas. Onde existem amplos financiamentos subsidiados para obras
de captação ou tratamento e reservação de águas, mas não são fáceis
financiamentos de baixo custo para melhorias nas redes de distribuição. Sempre
o povo pagando as inversões de prioridades nefastas.
Porque
estes fatos se registram e se repetem na história? Não é forçar a barra num
período tão conturbado da história do país, mas o financiamento eleitoral que
empreiteiros sempre fizeram aos políticos brasileiros e que mais pode ser
caracterizado como empréstimo com segundas e explícitas intenções que não
comungam com o interesse público, moldam este cenário constatado. Praticamente
inexistem casos relevantes e sistêmicos de recuperações de redes subterrâneas
de distribuição.
Não
faz mais sentido no país que a lógica e os interesses de empreiteiros e
situações eleitorais continuem hegemonizando as questões vinculadas com água ou
com saneamento básico. Ou então que se volte manifestar observações simplistas
de que canos enterrados não sejam bons cabos eleitorais. Se não houver
disponibilidade de água em unidades domésticas se desafia a afirmar que canos
enterrados não se tornem potentes indutores de votos.
Dados
levantados pelo Instituto Trata Brasil realizados com dados recentes do
Ministério das Cidades, estimam em valores próximos ao intervalo de 8 a 10
bilhões anuais, as perdas econômicas geradas com os descaminhos da distribuição
de água tratada. Poderia se repetir que este quadro é inadmissível, mas isto
seria corolário de uma dança tautológica.
Se
estima que ligações clandestinas, infraestrutura desgastada, vazamentos de toda
espécie e situações das mais diversas, obras mal executadas ou medições
incorretas no consumo de água, sejam as principais causas das perdas, com
reflexos no faturamento das empresas operadoras, sejam públicas ou privadas.
São
encontradas outras estimativas mais pedagógicas. As perdas com água tratada nas
estruturas de distribuição, podem corresponder a 6 ou 7 vezes, a
disponibilidade hídrica anual de todo o famigerado sistema Cantareira, objeto
de noticiários tão exaustivos quanto as previsões meteorológicas.
Dentro
de visão holística e sistêmica da questão, as perdas de água representam um
obstáculo para a expansão das redes de distribuição do saneamento, além de
aumentarem a pressão sobre os recursos naturais, agravando cenários de escassez
de água, já que mais recursos hídricos precisam ser retirada do meio natural. E
estas águas podem estar indisponíveis ou nem existir.
Dependendo da população escolhida para
determinação estatística das perdas registradas, usando-se critérios análogos,
se determinam perdas mais indecentes sob a perspectiva social e ambiental
considerada. Na área do saneamento básico são mais do que necessárias
disposições bélicas na sustentação de cruzadas indefectíveis que direcionem
adequadamente a questão dos resíduos sólidos, da drenagem em áreas urbanas, da
coleta e tratamento de esgotos e da distribuição de água potabilizada.
(ecodebate)
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