Dos
240 pontos de coleta de água distribuídos em 184 rios, córregos e lagos de
bacias hidrográficas da Mata Atlântica, apenas 2,5% têm qualidade boa. Os dados
são do estudo “Observando os Rios 2017”, da Fundação SOS Mata Atlântica, sobre
a qualidade da água nas bacias do bioma. Ele foi apresentado durante
o seminário Águas do Brasil, que reuniu especialistas e representantes da
sociedade civil no Ministério do Meio Ambiente para falar sobre os 20 anos da
Lei das Águas.
Das
águas analisadas, 70% estão em situação regular e 27,5% com qualidade ruim ou
péssima. “Isso significa que 66 pontos monitorados estão impróprios para o
abastecimento humano, lazer, pesca, produção de alimentos, além de não terem
condições de abrigar vida aquática. Nenhum dos pontos analisados foi avaliado
como ótimo”, diz o relatório.
Fonte: Fundação SOS Mata
Atlântica
A
especialista em recursos hídricos da fundação, Malu Ribeiro, explicou que uma
das causas da poluição é o despejo de esgoto doméstico. Para ela, as decisões
tomadas acerca da gestão da água não podem mais falhar, pois a poluição e o
desperdício agravam a escassez hídrica e os eventos climáticos adversos. “O que
trazemos é a voz dos rios da Mata Atlântica, das regiões mais adensadas e mais
economicamente ativas do país. Regiões que passaram a ter que reconhecer o que
é escassez e crise hídrica, isso não fazia parte do imaginário da população da
Mata Atlântica, uma mata úmida, que produz água”, disse.
Malu
defende que os rios urbanos não sejam enquadrados na classe 4 da Resolução nº 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que
são rios destinados à paisagem e navegação e que, para ela, acabam servindo
para diluir esgotos, como é o caso dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo. Em
rios de outras classes, destinadas ao consumo humano, há um controle mais
rigoroso na emissão de poluentes.
Segundo
Malu, é possível “reviver” os rios urbanos e as bacias que abastecem as
cidades, como ocorreu com o Rio Jundiaí, que nasce na Mata Atlântica. Após 30
anos de investimentos em coleta de resíduos urbanos e tratamento de esgoto
feitos por um consórcio, o rio foi recuperado e passou da classe 4 para a 3,
podendo ser usado para abastecer a população.
Para
o presidente da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado federal Alessandro
Molon (Rede-RJ), um dos desafios é fazer o cidadão voltar a descobrir que os
rios são rios. “A própria caracterização, cercado de concreto e a cor da água,
faz com que eles não vejam os rios como rios, mas como locais de despejos de
geladeiras e sofás velhos”, argumentou. “O desafio é o reconhecimento dos rios
como corpos hídricos a serem recuperados por nós.”
O levantamento da SOS Mata Atlântica foi
realizado em 73 municípios de 11 estados da Mata Atlântica, além do Distrito
Federal, entre março de 2016 e fevereiro de 2017. Os dados foram obtidos por
meio de coletas e análises mensais de água realizadas por 194 grupos de
voluntários do programa “Observando os Rios”.
O relatório de 2017 está disponível na página da Fundação SOS Mata Atlântica.
O relatório de 2017 está disponível na página da Fundação SOS Mata Atlântica.
São
Paulo
No
estado de São Paulo, apenas quatro dos 134 pontos avaliados pela Fundação SOS
Mata Atlântica apresentam água com boa qualidade. Dos rios e corpos d’água
monitorados, 51 (38%) apresentam qualidade ruim ou péssima e estão
indisponíveis para qualquer uso. Apenas 3% dos pontos avaliados têm qualidade
boa. O levantamento foi realizado em mais de 20 municípios entre março de 2016
e fevereiro de 2017, com base nas coletas e análises mensais de água. Nenhum
dos pontos analisados foi avaliado como ótimo.
Para
o coordenador do projeto Observando os Rios da SOS Mata Atlântica, Gustavo
Veronesi, o principal fator da qualidade ruim ou péssima das águas em São Paulo
é a falta de saneamento ambiental. “Ainda temos muito esgoto caindo direta ou
indiretamente nos nossos rios, e também a falta de preservação das margens dos
rios, falta de cobertura florestal e das matas ciliares.”
Veronesi
ainda destaca a importância de cuidar da bacia hidrográfica. “Não podemos jogar
lixo em qualquer lugar, as empresas têm que ser responsáveis com seus rejeitos,
a gente precisa de um grande pacto social”.
O
coordenador explicou que o saneamento tem quatro pilares: o abastecimento de
água potável para a população, a coleta e o tratamento de esgoto, a gestão dos
resíduos sólidos e nas áreas urbanas, a drenagem da água de chuva. “Precisamos
ainda atentar para a cobertura florestal, necessitamos de mais florestas, mais
áreas reservadas que servem como filtros para os nossos rios e suas margens”,
completou.
Pescadores
recolhem o barco em prainha de Itapura, no Rio Tietê, no extremo oeste do
Estado São Paulo.
Comparativo
2016/2017
O
estudo comparou os resultados do monitoramento de 112 pontos fixos de coletas.
Para as análises comparativas foram consideradas as médias dos indicadores
mensais do Ciclo 2016 (de março de 2015 a fevereiro de 2016) e do Ciclo 2017
(de março de 2016 a fevereiro de 2017).
Os
indicadores apontam uma diminuição de pontos com qualidade ruim, passando de 45
(40,2%) para 41 (36,6%), mas um aumento de locais com água péssima, de um
(0,9%) para dois (1,8%). O estudo também destaca um aumento na qualidade
regular, passando de 63 (56,3%) para 65 (58%), e nos pontos com qualidade boa,
de três (2,7%) para quatro (3,6%). (ecodebate)
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