Na
verdade não se vive crise de recursos hídricos. A situação demonstra claramente
que é necessária nova atitude e nova relação com todos os fatores ambientais.
Não é só o desmatamento ou a mudança climática que reduzem as chuvas e provocam
crises.
É a
necessidade de uma nova postura frente a todas as intervenções ambientais.
Criar e manter unidades de conservação (UCs) da natureza nas áreas urbanas pode
ser uma resposta para a falta de água, que deflagrou a crise hídrica no Sudeste
do Brasil. Mas atitudes fragmentadas ou isoladas não resolvem a questão, embora
possam patrocinar atenuações e atenuantes.
Se
torna imprescindível refletir sobre concepções ambientais. Meio ambiente é o
conjunto de relações entre os meios físico, biológico e antrópico. Podemos
dizer que meio ambiente é como a confiança ou o casamento. A confiança é uma
relação de integridade entre 2 pessoas. E o casamento também. É intangível, não
dá pra gente tocar e pegar.
O
meio ambiente é assim. É intangível. Não dá pra gente tocar e pegar. Tocar numa
pedra, na água ou no solo é tocar num elemento ambiental do meio físico. Tocar
uma planta, um animal, é tocar num elemento do meio biológico. Tocar numa
plantação, num produto industrializado ou num depósito de resíduos sólidos é
tocar num elemento do meio antrópico ou socioeconômico.
Os
principais constituintes do meio físico são as rochas, solos, águas
superficiais e subterrâneas, geomorfologia e climas. No meio biológico, os
constituintes são a flora e a fauna. E no meio antrópico ou socioeconômico são
todas as atividades do homem, nos setores primário, secundário, terciário e até
quaternário, conforme os autores mais modernos.
Mas
afinal o que são as relações? Quando alguém preserva um bioma, protegendo,
evitando incêndios, impedindo caça e pesca predatórias, está construindo um
tipo de relação com o bioma. Quando alguém vai lá e incendeia um pedaço de
cerrado está estabelecendo uma outra relação entre o homem e o bioma.
Biomas
que são constituídos por elementos físicos e biológicos além do antrópico, que
interagem entre si dentro de uma relação sistêmica hierarquizada por vários
fatores.
Mas
a escassez está associada a vários fatores, como a carência de planejamento dos
assentamentos urbanos, os equívocos no manejo do uso do mineral, a utilização
de equipamentos urbanos de distribuição ineficientes e responsáveis por enormes
desperdícios, e a pouca consciência do brasileiro em relação à escassez deste
recurso.
A
existência de unidades de conservação dentro e no entorno das cidades ajudaria
na estabilização do regime de precipitação de chuvas e reteria água no subsolo
e lençóis freáticos. Pois os desmatamento e a impermeabilização do solo fazem
com que a água da chuva chegue mais rápido aos cursos d’água e ao mar, além de
modificar o regime de precipitação.
Quem
vive no Nordeste tem uma percepção mais realista sobre a necessidade de se
poupar o recurso. À exceção do Nordeste, as demais regiões não têm essa consciência
acerca da escassez de água. Espaços para UCs, que ajudam na reserva e
provimento de água, como ocorre em cidades planejadas como Brasília.
As
UCs favorecem a recarga de água nos reservatórios. Em áreas desflorestadas e
asfaltadas, a água que cai no chão impermeabilizado, sem vegetação nativa ou
com pasto, corre muito rápido para dentro dos corpos hídricos, escorre e vai
embora, em direção a alguma bacia hidrográfica e segue para o mar, ou pode cair
num reservatório, que tem superfície muito grande e onde muita água se perde
por evaporação.

As
UCs são espaços especialmente protegidos e a principal estratégia de
conservação da biodiversidade. Quando delimitada, é usada como fonte e reserva
de recurso natural, além de preservar a paisagem.
O conceito
de Unidade de Conservação surgiu no Brasil ainda na década de 1930, ganhando
força no final dos anos 1970 e novamente nos anos 1990 e 2000 na Amazônia. A
questão é que a maior parte das áreas de conservação da biodiversidade está
localizada na região Amazônica, fora das áreas urbanas e distantes da
população, em ambiente rural ou remoto, como na própria Amazônia.
No
caso da crise hídrica, o fim da resiliência ou capacidade de se adaptar ou
evoluir na adversidade está associado ao fim das áreas naturais e a alteração
drástica do ambiente que poderia armazenar água da chuva.
A
crise vivida hoje por São Paulo deve-se à falta de planejamento e de
conservação dos mananciais, além das mudanças no padrão climático global, em
processos acirrados. Este padrão demonstra que o clima está ficando cada vez
mais variável e com mais extremos de temperatura e precipitação, mudando a
dinâmica da floresta amazônica, pois o desmatamento ali registrado, desde dez,
quinze anos atrás, comprometeu parte da floresta.
O mau planejamento das cidades, a ausência de
áreas protegidas que garantam a captura desse recurso e melhora na resiliência
do ambiente, resulta numa crise como esta, que já vinha se anunciando há algum
tempo. Vamos ver se ocorre consciência prévia dos demais cenários ou será
preciso buscar atenuações após as tragédias ocorrerem. Com os agrotóxicos, onde
existem grandes interesses econômicos, parece que será com tragédia primeiro.
(ecodebate)
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