Em Artigo, Roberto Malvezzi, conhecido como Gogó,
aborda o "hidrocídio" de rios brasileiros. "A cada chega a
notícia da morte de um rio".
A cada dia chega a notícia da morte de um rio, ou que
um rio famoso agoniza. Afluentes dos grandes rios brasileiros estão sendo
mortos às centenas, aos milhares, num verdadeiro hidrocídio, isto é, a matança
das águas.
Esses dias nos chegou a visão do leito seco do
Paracatu, um dos maiores afluentes do São Francisco.
No ano passado, em Macapá, me contaram que a pororoca
do rio Araguari estava extinta.
Esse ano, no Acre, me contaram que o prognóstico
científico é que o rio do Acre seque em dez anos.
Em Miracema, quando estive lá no ano passado, quase
atravessamos o rio Tocantins a pé, com a água alcançando no máximo a cintura.
Ali mesmo nos contaram que o rio Javaés, que faz a
Ilha do Bananal, considerada a maior ilha fluvial do mundo, também tinha
secado.
O Velho Chico agoniza a olho nu, com pouco mais de 500
m3/s, e na sua foz o mar avança São Francisco adentro, já salinizando as águas
antigamente doces das comunidades ribeirinhas.
Leito seco do Rio Paracatu, no município de mesmo nome. Principal afluente do S.Francisco, o rio tinha quase 500 quilômetros de extensão, e uma bacia hidrográfica de área equivalente à do Estado do Rio.
Nosso ciclo das águas, que se origina na Amazônia e
depois se espalha por todo território brasileiro, chegando até Buenos Aires,
Assunção e Montevideo, está sendo estrangulado pelas atividades predadoras que
precisam destruir a vegetação para se impor. Ao destruir a Amazônia matamos a
bomba biótica que injeta água na atmosfera, ao destruir o Cerrado matamos
nossos maiores reservatórios naturais, aquíferos como o Bambuí, Urucuia e
Guarani. A riqueza derivada da rapinagem não tem fôlego e também entrará em colapso
com o colapso de nossas águas.
Não sabemos exatamente o que será e nem como será, só
sabemos que estamos preparando o inferno para as gerações futuras.
Mesmo assim não nos conformamos. Como diz uma frase
atribuída a Martin Luther King, “se eu soubesse que o mundo acabaria amanhã,
mesmo assim hoje eu plantaria uma árvore”. (cptnacional)
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