A
humanidade, de modo geral, é egoísta e não se preocupa muito com o destino das
demais espécies vivas da Terra. Pior, o avanço do bem-estar humano tem ocorrido
às custas do empobrecimento dos ecossistemas e da crescente perda de
biodiversidade. Enquanto cresce a população humana, decrescem as populações não
humanas da fauna e da flora. Mas este processo é insustentável e pode levar a
civilização ao colapso, pois o ecocídio é também um suicídio.
Um
novo relatório da Bioversity International (2017) revela que a
agrobiodiversidade global está sob grave ameaça diante da sexta extinção em
massa da vida na Terra. O estudo confirmou o fato de que a sexta extinção em
massa, que já está acontecendo, ameaça mais do que os animais selvagens. Também
ameaça seriamente o fornecimento de alimentos em todo o mundo.
Grandes
proporções das espécies de plantas e animais que formam a base do nosso
abastecimento de alimentos estão ameaçadas. Segundo a WWF, o estado atual da
biodiversidade do planeta está pior do que nunca. O Índice do Planeta Vivo
(LPI, sigla em Inglês), que mede as tendências de milhares de populações de
vertebrados, diminuiu 52% entre 1970 e 2010. Em outras palavras, a quantidade
de mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes em todo o planeta é, em média, a
metade do que era 40 anos atrás.
Ainda
segundo a WWF, a biodiversidade está diminuindo em regiões temperadas e
tropicais, mas a redução é maior nos trópicos. Entre 1970 e 2010, o LPI
temperado diminuiu 36% em 6.569 populações das 1.606 espécies em regiões
temperadas, ao passo que o LPI tropical diminuiu 56% em 3.811 populações das
1.638 espécies em regiões tropicais durante o mesmo período. A redução mais
dramática aconteceu na América Latina – uma queda de 83%.
Estudo
publicado na revista científica Plos One (18/10/2017) revela queda de 75% no
número de insetos voadores na Alemanha (Insectageddon). Os dados foram obtidos
em áreas protegidas do país, mas o resultado têm implicações para todas as
regiões onde a paisagem é dominada pela agricultura. De acordo com os autores
da pesquisa, a constatação é preocupante, já que os insetos têm um papel
crucial no funcionamento dos ecossistemas, polinizando 80% das plantas e fornecendo
alimento para 60% das aves. O colapso das colmeias é um ecocídio contra as
abelhas e que pode ter um efeito devastador sobre a produção de alimentos.
Voltando
ao relatório da Bioversity International (2017), os dados mostram que,
atualmente, cerca de 75% do suprimento global de alimentos vem de apenas 12
culturas e cinco espécies de animais. De acordo com o relatório da Bioversity
International, o investimento em produtos básicos de alto rendimento levou a
apenas três arroz, milho e trigo, fornecendo metade das calorias baseadas em
plantas do mundo, apesar de terem sido documentadas entre 5.000 e 70.000
espécies de plantas como alimento humano.
Essa
falta de agrobiodiversidade significa que os suprimentos de alimentos em todo o
mundo são muito vulneráveis a pragas e doenças, que podem se mover rapidamente
através de grandes regiões de monocultura. Isso é exatamente o que desencadeou
a fome da batata irlandesa, mesmo que causou um milhão de pessoas morrer de
fome. As mudanças climáticas e as emissões de carbono também são uma ameaça.
O
relatório destaca a necessidade de salvar a agrobiodiversidade, pois existem
dezenas de milhares de espécies raramente cultivadas e selvagens, oferecendo
uma variedade de alimentos que são nutritivos, mais tolerantes às mudanças
climáticas e mais resistentes às doenças.
No
entanto, a mesma degradação, poluição e destruição de áreas selvagens que
começaram a extinção em massa de espécies de animais selvagens na Terra ameaçam
a biodiversidade agrícola e o abastecimento de alimentos da humanidade. A
agrobiodiversidade também é crucial para erradicar as principais causas da
deficiência humana e a fome no mundo: uma dieta pobre, seja composta por muito
(obesidade) ou pouco alimento (desnutrição). As dietas pobres decorrem de um
conjunto estreito de commodities e não há diversidade suficiente.
Não
existe produtividade agrícola sem biodiversidade, assim como não existe
ECOnomia sem ECOlogia. Evitar a sexta extinção em massa não é apenas um dever
ético, mas também uma condição essencial para a segurança alimentar e a
sobrevivência do ser humano. (ecodebate)
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