Água deve ser entendida como
um bem comum, defendem participantes do seminário Águas pela Paz.
Em meio à crise ambiental que
o mundo vivencia, representantes de instituições públicas, academia e organizações
da sociedade civil reuniram-se para discutir a sustentabilidade na relação com
a água do planeta e reivindicar uma nova compreensão da sociedade acerca da
água. No Águas pela Paz – II Seminário Internacional Água e
Transdisciplinaridade, realizado em Brasília, foi feita a defesa de que a água
deve ser reconhecida como um bem comum, não como uma mercadoria.
“Água não é mercadoria e não
pode ser tratada como negócio”, afirmou Ana Laíse Silva, representante do Fórum
Alternativo Mundial da Água. A perspectiva foi compartilhada por Dom Leonardo
Steiner, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
que enfatizou que “precisamos de uma nova relação com a água”. Referindo-se à
encíclica papal sobre meio ambiente, divulgada em 2015 pelo Papa Francisco,
enfatizou que, em vez de buscar dominar e calcular possíveis valores da água, é
preciso adotar o cuidado e o cultivo com esse bem.
Como exemplo de medidas que podem ser tomadas
para concretizar tal perspectiva, o presidente do Conselho Mundial da Água,
Benedito Braga, defendeu que o acesso à água potável e ao saneamento básico
deve ser considerado um direito humano fundamental. Oficial de Projetos do
Setor de Ciências Naturais da UNESCO no Brasil, Maximiliano Lombardo disse que
a organização está implicada em fomentar discussões e projetos que garantam o
compartilhamento desse bem. “Todos temos que partir de uma visão e entendimento
comum a respeito dos riscos, dos problemas e também das soluções em torno da
água”, alertou.
Seminário
O seminário Águas pela Paz é
uma atividade preparatória para o 8º Fórum Mundial da Água, que ocorrerá em
março, no Brasil. Integrante do Movimento Awaken Love, que idealizou o evento,
Sri Prem Baba disse que o primeiro passo para um novo entendimento é lembrar
“que a água é a causa da vida neste planeta”. Ele relatou a expectativa de que
o seminário, a partir do encontro de diversos saberes, chegue a “soluções
criativas e inteligentes para encontrar saídas para os grandes desafios do
planeta neste momento”. O evento deve culminar com uma carta com reivindicações
comuns. O documento será apresentado como contribuição ao Fórum Mundial da
Água.
O fórum, realizado a cada
três anos, é considerado um dos mais importantes espaços de debate sobre o tema
em âmbito mundial e, pela primeira vez, será realizado em um país do Hemisfério
Sul. O governador do Distrito Federal, sede do evento, Rodrigo Rollemberg,
afirmou que o tema água é o mais importante da humanidade nesse momento. “Em
todos os lugares do mundo, e em Brasília não é diferente, já há muitos anos
temos recebido alertas de cientistas, estudiosos, pessoas que têm relação com a
água, de que estamos chegando em uma situação extremamente crítica”, disse o
governador, que apontou a importância de ações como preservação das nascentes e
observação da qualidade dos reservatórios.
Racionamento
Há mais de um ano o Distrito Federal tem sido
submetido a racionamento de água. O problema com os reservatórios não é
exclusividade dos sistemas que abastecem a capital federal. Há dois anos, a
maior cidade do país, São Paulo, enfrentou intensa crise e viu o principal
manancial de abastecimento da região metropolitana, o Sistema Cantareira, ter
menos de 10% de sua capacidade ocupada. No Nordeste, diversos estados sofrem com
a falta de água há anos. Em 2017, comunidades do Ceará e da Bahia saíram às
ruas para defender a priorização de abastecimento para a população.
A urgência da questão fez com
que ministros do Meio Ambiente de todo o mundo acordassem, no fim do ano
passado, durante a Assembleia Ambiental das Nações Unidas (Unea, na sigla em
inglês), no Quênia, África, 14 medidas para prevenir, reduzir e gerenciar a
poluição do ar, da terra e do solo, da água doce e dos oceanos, entre as quais
destaca-se o fortalecimento e aplicação de políticas mais integradas.
Sinalizando que a preocupação
transcende o universo dos líderes políticos, o seminário de hoje reuniu em um
painel representantes das tradições do candomblé, católica, judaica, budista,
islâmica, indígena e outras em uma mesma mesa. Cada um deles explicou o lugar
da água em sua tradição religiosa; e todos defenderam que a busca pela proteção
da água deve mobilizar toda a sociedade.
O Águas pela Paz – II Seminário Internacional
Água e Transdisciplinaridade teve continuidade em 12/01/18.
Organizado pelo Movimento Awaken Love, em parceria com o Centro Internacional
de Referência e Transdisciplinaridade (Cirat), o Instituto Espinhaço, a
Universidade da Paz (UniPaz), a Universidade de Brasília (UnB) e a Secretaria
de Meio Ambiente do DF, o seminário tem programação gratuita e é realizado no
Museu da República. Para o diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), Ricardo
Andrade, o seminário e o fórum são espaços para “despertar a consciência do
cidadão comum sobre o tema”, o que ele considera ser fundamental. (ecodebate)
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