ONU defende equilíbrio entre infraestruturas verde e cinza
para uso adequado da água.
Relatório
divulgado em 22/03/18 pela Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que um
equilíbrio entre as chamadas infraestruturas verde e cinza seja a melhor saída
para um uso adequado da água. A chamada infraestrutura verde concentra-se em
preservar as funções dos ecossistemas, tanto naturais quanto artificiais e na
engenharia ambiental, para melhorar a gestão dos recursos naturais. Já a infraestrutura
cinza está mais relacionada a soluções obtidas por meio da engenharia civil.
“Soluções
baseadas na natureza não estão limitadas à infraestrutura verde”, explicou a
engenheira ambiental da ONU, Ângela Cordeiro, responsável pela apresentação do
Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos
2018. “É pensar onde as duas juntas darão o melhor benefício”, acrescentou.
Segundo
Ângela, as soluções verdes têm sua relevância também por “ajudar-nos a pensar
diferente, com contato maior com a natureza e as populações”. Ela aponta como
soluções desse tipo desde os banheiros secos até manejos adequados do solo e o
uso de zonas úmidas para funções ambientais.
De acordo
com o relatório da ONU, a infraestrutura verde apresenta diversos usos,
inclusive na agricultura, setor que, de acordo com a entidade, é “de longe” o
que mais consome água em todo o planeta. Por meio dela foram desenvolvidos
sistemas de irrigação “mais efetivos e econômicos”.
Infraestrutura verde
“A demanda
hídrica mundial tem aumentado a uma taxa de 1% ao ano. Atualmente há 3,6
bilhões de pessoas vivendo em áreas que são potencialmente escassas de água”,
contextualizou a especialista ao ressaltar que a infraestrutura verde pode
também ajudar a reduzir as pressões sobre o uso da terra, limitando a poluição,
a erosão do solo e as necessidades hídricas.
Representando
a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Alan
Bojanic ressaltou a importância de se evitar o desperdício de alimentos, uma
vez que é para a produção deles que vai a água consumida por agricultores e
pecuaristas. “No mundo, 70% da água doce vai para a agricultura. No Brasil é
67%”, disse.
“Isso
poderia ser amenizado, se levássemos em conta que um terço dos alimentos produzidos
no mundo vão para o lixo ou são desperdiçados. Para 1 kg de carne são
necessários 10 mil litros de água; e para uma maçã, 100 litros. São muitos
zeros”, argumentou o representante da FAO. “Portanto não desperdiçar alimentos
é também uma boa alternativa para evitarmos o uso inadequado da água”,
concluiu.
Entre os
participantes da roda de discussão sobre o relatório estava o coordenador
residente do Sistema ONU no Brasil, Niky Fabiancic. “Soluções baseadas na
natureza são o foco desse documento, e simulam processos naturais para
contribuir com o aperfeiçoamento da gestão hídrica”, disse Fabiancic.
“Precisamos
identificar ações que se apoiem mutuamente, e trabalhar com a natureza. Não
contra ela. A combinação entre as infraestruturas verde e cinza pode sim
reduzir riscos, e esse relatório apresenta boas práticas para escolhas e
investimentos inteligentes”, acrescentou.
Grupos vulneráveis
Diretor do
PNUD no Brasil, Didier Trebucq lembrou que, apesar de os povos indígenas
representarem 5% da população mundial, eles protegem 80% da biodiversidade do
planeta. Segundo ele, o relatório “traz não apenas soluções, mas desafios para
em 2030 assegurarmos o acesso equitativo e universal à água e ao saneamento”.
Nesse sentido, acrescentou Trebucq, o desafio de superar desigualdades é
central. “Este é um dos maiores desafios do uso da água: a atingir grupos mais
vulneráveis”.
“Soluções
baseadas na natureza não estão limitadas à infraestrutura verde”, explicou a
engenheira ambiental da ONU, Angela Cordeiro.
Representando
a ONU Meio Ambiente, Denise Hamú lamentou a falta de conexão das pessoas com a
natureza, por conta do atual modelo social, em especial industrial e urbano.
“No Brasil, por exemplo, 85% das pessoas vivem nas áreas urbanas e não sambem
sequer de onde vem o leite. Digo isso porque outro dia perguntei a uma criança
sobre se ela sabia de onde ele vem, e ela disse que vem da garrafa. Temos de
fazer mudanças drásticas no padrão de consumo e de produção”, argumentou.
(ecodebate)
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