Dia Internacional da Mulher:
A relevância permanente das contribuições socioambientais de Wangari Maathai.
Legado de Wangari Maathai é
celebrado em 3 de março.
Quando
em 25 de setembro de 2011, a queniana Wangari
Maathai faleceu, devido a um câncer, escrevi no dia seguinte um
artigo a respeito de sua trajetória de vida (veja também abaixo, artigo:
Wangari Maathai: um exemplo a seguir), como manifestação de respeito ao
importante legado que esta ativista deixou ao continente africano, ou melhor,
ao planeta, foi algo natural. Praticamente sete anos depois, nas proximidades
do Dia Internacional da Mulher e neste mês das “Águas”, retomar os propósitos
desta cidadã resiliente, que focou sua vida em ações voltadas à justiça
socioambiental, se torna mais uma vez, coerente, diante de uma contemporaneidade,
na qual há flagrantes de um esquecimento histórico sobre elos de aprendizados
que tecem essa rica teia de historicidade.
“Se
você destruir a floresta, então o rio deixará de fluir, as chuvas se tornarão
irregulares, as lavouras falharão e você morrerá de fome…”, dizia Wangari, que
era uma mulher negra, de origem camponesa, ativista dos Direitos Humanos,
bióloga, mestre em Ciências e PhD em Anatomia Veterinária. Ela unia esta
multiplicidade de olhares em ações concretas locais e de relevância internacional,
e tinha como princípio que a chave
para o auto empoderamento e a conservação reside nos valores espirituais
tradicionais: amor ao meio ambiente, auto aperfeiçoamento, gratidão e respeito,
e um compromisso com o serviço. Este vídeo traz esta mensagem de forma
objetiva – https://youtu.be/BQU7JOxkGvo.
Como
será que Wangari se sentiria, ao constatar em 2018, que nos últimos anos, seu
povo continua a sofrer com a subnutrição em muitas partes de seu país atingido
por uma seca persistente associada ao desmatamento, que é ainda um desafio a
ser superado? São cerca de três milhões de pessoas ameaçadas pelos eventos
climáticos extremos. Países vizinhos, como a Somália, também enfrentam esta
situação grave. Para superar este estado de escassez, alguns camponeses
começaram a criar insetos para poder se alimentar e voluntários chegam a
percorrer dezenas de quilômetros para fornecer água a animais isolados.
Certamente
esta realidade não seria aceitável, para esta mulher que sustentava suas ações
na premissa de gestão ambiental sustentável, governança democrática e cultura
de paz. Por meio do Green Belt Movement (Movimento
Cinturão Verde), que ela criou, desde 1977 até hoje, já foram plantadas em
sistema comunitário mais de 51 milhões de árvores, dentro do conceito de
recuperação de bacias hidrográficas e de promoção de geração de renda das
comunidades locais. Uma ideia que faz sentido de aplicação em qualquer país no
mundo, mas que precisa ser introduzida como uma renovação cultural e de
valores.
Em
fevereiro deste ano, Marion Kamau, atual presidente do Green Belt Movement foi
convocada para presidir uma força-tarefa para fiscalizar a gestão dos recursos
florestais e de exploração madeireira, no Ministério do Meio Ambiente do
Quênia. Nas entrelinhas, isto representa que a inspiração de Wangari
continua presente e serve como objeto de reflexão em países sul-americanos,
como o Brasil, onde o desmatamento pode culminar uma situação irreversível na
Amazônia, conforme artigo do pesquisador americano Thomas Lovejoy e do
brasileiro Carlos Nobre, na revista Science Advances.
Wangari Maathai: um
exemplo a seguir, por Sucena Shkrada Resk.
“Você
não pode proteger o meio ambiente, a menos que capacite as pessoas, as informe
e ajude a entender que esses recursos são próprios e devem protegê-los”. Essa
frase de Wangari Maathai, criadora do Green Belt Movement (Movimento Cinturão
Verde), traduzida em ações, nos incentiva a melhorar, pelas mais diferentes
razões. Pode-se dizer, sem dúvidas, que ela é um ícone da comunidade africana,
ou melhor, mundial, ao se dedicar à implementação dos princípios da
sustentabilidade.
Essa mulher queniana
formou-se em Biologia e fez Mestrado, por meio de bolsa de Estudos, nos EUA e
foi a primeira mulher a conquistar o PhD em Anatomia, na África central e
oriental, na Escola de Medicina Veterinária da Universidade de Nairobi. Nessa
trajetória de emancipação, se tornou pioneira também ao presidir um
departamento da Universidade e a ser nomeada professora. Uma conquista muito
importante, na questão de gênero e de direitos humanos, mas transpôs a sala de
aula e se dedicou à realidade do campo, da população vulnerável.
Na sua extensa biografia como
ativista, comandou a Cruz Vermelha queniana nos anos 70 e foi
ministra-assistente do Meio Ambiente entre 2003 e 2005. A sua agenda tinha como
diretrizes o reflorestamento, proteção das florestas, e a restauração de áreas
degradadas; como também projetos educacionais, com bolsas de estudo para órfãos
devido ao HIV / AIDS; e acesso à nutrição aos portadores.
Uma de suas iniciativas de
maior relevância foi o trabalho desenvolvido, por meio de sua organização, a
partir de 1977, que resultou no plantio e replantio de cerca de 47 milhões de
árvores no país, com a participação das comunidades, constituindo o sentido do
empoderamento. A iniciativa nasceu, ao se defrontar com a realidade
principalmente de mulheres do campo, que enfrentavam todos os tipos de
dificuldades. Wangari propôs que as soluções viessem por meio de planos de
manejos. Ao mesmo tempo, os camponeses deveriam proteger as bacias
hidrográficas e estabilizar o solo, melhorando a agricultura.
A ideia que semeou nos anos
70 superou as fronteiras, e em 1987, já tinha seguido pela Pan African Green
Belt Network, para a Tanzânia, Uganda, Etiópia, Zimbabwe e Lesoto.
As bandeiras foram ampliadas
e ela se uniu a outros movimentos contra regimes ditatoriais, que acentuavam a
pobreza em seu país. Uma das campanhas que iniciou, foi contra a construção de
um arranha-céu em Uhuru (“Freedom”) Park no centro de Nairobi, e o desmatamento
de terras públicas. Durante essa militância, foi presa e espancada com outros
ativistas.
Mais um trabalho relevante
que não pode ser menosprezado, é que Wangari e seu movimento tiveram um papel
importante na nova constituição do Quênia, ratificada pelo voto popular em
2010. O documento incluía o direito de todos os cidadãos a um ambiente limpo e
saudável.
Ela colocava em prática o
conceito de sustentabilidade em um contexto geopolítico e socioambiental de
adversidades gritantes. Dedicou-se à proteção da selva da bacia do Congo na
África central, segundo maior maciço florestal tropical do mundo. Contribuiu,
em 2006, para o lançamento do Programa Um Bilhão de Árvores ao Redor do Mundo,
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnuma), que já
ultrapassou a casa de bilhões.
Contribuiu também ao deixar
uma bibliografia importante, calcada em suas experiências:
-The Green Belt Movement: Sharing the Approach and the Experience
(2003);
– Unbowed (2006), uma auto-biografia;
– The Challenge for Africa (2008);
– Replenishing the Earth: Spiritual Values for Healing Ourselves and the
World (2010).
Em 2009, ela foi designada
como mensageira da paz, pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A ativista, ganhadora do
Prêmio Nobel da Paz 2004, morreu aos 71 anos, devido a um câncer, em Nairóbi.
A sua partida nos entristece,
mas a sua obra é tão sublime, que serve como um ‘tapa com luva de pelica’ à
nossa inércia diante de tantas práticas erradas na condução socioambiental e,
na verdade, das relações humanas…
Ao fazer a leitura de matérias a respeito,
multiplicadas por agências de notícias internacionais, e ao conhecer um pouco
mais de sua biografia, percebo o quanto ainda nos intitulamos mais do que
realmente somos na prática. (ecodebate)
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