“Os livros são o tesouro
precioso do mundo e a digna herança das gerações e nações”
- Henry Thoreau (1817-1862).
O único daguerreótipo conhecido de Margaret F (por John Plumbe, 1846).
O Dia Internacional
da Mulher é uma data de reflexão e um momento de rememorar o luto e a luta do
sexo feminino contra a exploração, a opressão, a escravidão, a violência, a
guerra, a pobreza, a destruição da natureza, a superstição, a ignorância, a
heteronomia, a iniquidade, o fracasso, o preconceito, o obscurantismo, o
fatalismo e a favor da paz, da harmonia, da liberdade, da educação, da ciência,
da tecnologia, da simpatia, da empatia, da solidariedade, da pluralidade, da
autonomia, da diversidade, da saúde, dos direitos sexuais e reprodutivos, do
amor, do progresso, do sucesso, do bem-estar e do compartilhamento respeitoso
do espaço terrestre com todos os seres vivos do Planeta.
Entre as
mulheres que mais se destacaram na história está a americana Margaret Fuller
(23/05/1810 – 19/07/1850). Nascida em Cambridge, Massachusetts, ela compensou a
inexistência de educação formal para as mulheres, recebendo uma educação em
casa, por seu pai. Depois da adolescência ela obteve escolaridade formal e
tornou-se uma professora, em 1839, e participou de encontros entre mulheres
visando ao aperfeiçoamento educacional. Ela era uma leitora voraz e por volta
dos 30 anos foi considera a pessoa mais erudita da Nova Inglaterra e tornou-se
a primeira mulher a ser liberada para frequentar a biblioteca da Universidade
de Harvard.
Em 1840,
começou a trabalhar como editora do jornal transcendentalista The Dial. Ela
editou o jornal de 1840 a 1842, e foi reconhecida como uma das figuras mais
importantes do movimento transcendentalista. O transcendentalismo foi um
movimento filosófico e poético desenvolvido no leste dos Estados Unidos que
levava em consideração a afirmação do transcendental kantiano como única
realidade, ao mesmo tempo que expressa uma reação ao racionalismo e uma
exaltação ao indivíduo nas relações com a natureza e a sociedade. Entre os
transcendentalistas mais conhecidos estão Ralph Waldo Emerson, Henry David
Thoreau, Amos Bronson Alcott, Orestes Brownson, William Ellery Channing,
Frederick Henry Hedge e Theodore Parker. Sendo que Margaret Fuller foi a mulher
mais destacada do movimento, que também teve papel fundamental no movimento de
preservação do meio ambiente.
Em 1843,
Margaret Fuller publicou o livro “Mulher no século XIX” (Woman in the
Nineteenth Century), onde defende a ideia de uma elevação espiritual de homens
e mulheres, abandono dos desejos egoísticos e buscando uma melhor relação com a
natureza.
Ela
critica as injustiças sociais, em especial, denuncia a escravidão e o genocídio
dos povos nativos. Ela diz que uma parte da população discriminar a outra parte
é hipocrisia. Ela defende uma solidariedade integral e defende o engajamento de
homens e mulheres no movimento abolicionista.
Em relação
à condição de inferioridade das mulheres perante as leis dos EUA, ela defende a
igualdade de direitos e uma maior autonomia das mulheres nas famílias e na
sociedade. Ela rechaça a norma que coloca o homem automaticamente como chefe da
família e defende a independência individual contra as instituições
hierárquicas e autoritárias. Ela observa que o “empoderamento” das mulheres
viria com uma maior liberdade intelectual e religiosa.
Ela defende
um casamento igualitário com base na união solidária entre os cônjuges e
critica as formas patriarcais da hierarquia familiar. O companheirismo
intelectual é a forma mais elevada de casamento. Homem e mulher devem ser
amigos, confidentes em pensamento e sentimento, com mútua confiança. O casal,
em condições igualitárias, caminham juntos em direção à elevação conjunta. Para
tanto, as mulheres necessitam ter seus recursos intelectuais e espirituais
fortalecidos. Ela observa que “Não há homem totalmente masculino, nenhuma
mulher puramente feminina”.
A conclusão
do ensaio é que antes de haver uma verdadeira união matrimonial, cada pessoa
deve ser uma unidade individual e autodependente. Para que as mulheres se
tornem tais indivíduos, os homens precisariam abdicar da “dominação masculina”,
e as mulheres precisariam se reivindicar como seres autônomos. Fuller termina
olhando para a frente e fazendo uma chamada para as mulheres fortalecidas
ensinarem as demais a serem indivíduos independentes.
Margaret
Fuller morreu num naufrágio perto de Fire Island, em uma viagem para Nova
Iorque, em 1850. O corpo dela jamais foi encontrado. Mas suas ideias
continuaram vivas e a obra de Fuller estimulou a luta pelo direito de voto das
mulheres nos Estados Unidos.
A
publicação do livro “Mulher no século XIX” (1843) contribuiu para o avanço da
luta pelos direitos de cidadania do sexo feminino. Em 1848, aconteceu a
Convenção de Seneca Falls, o primeiro grande evento dos EUA sobre os direitos
das mulheres, quando se aprovou uma resolução a favor do sufrágio feminino. Em
1850, ano da morte de Margaret Fuller, aconteceu a primeira Convenção Nacional
dos Direitos da Mulher e a luta sufragista passou a ser a mais importante das
atividades do movimento.
As
primeiras organizações nacionais de sufrágio foram estabelecidas em 1869,
quando foram formadas duas organizações concorrentes, uma liderada por Susan B.
Anthony e Elizabeth Cady Stanton e outra por Lucy Stone. Em 1890 elas se
fundiram e formaram a National American Woman Sufrage Association (NAWSA) com
Susan Anthony na liderança. O direito de voto das mulheres foi estabelecido ao
longo de várias décadas, de início, em pequenas localidades e, às vezes, de
forma limitada, mas o sufrágio feminino foi conquistado, nacionalmente, em
1920.
Porém,
depois de 200 anos de democracia e de 100 anos do direito de voto feminino,
nenhuma mulher conseguir chegar à presidência ou vice-presidência dos Estados
Unidos. Portanto, a luta de Margaret Fuller continua viva em pleno século XXI e
merece ser lembrada no Dia Internacional da Mulher. (ecodebate)
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