A população mundial acelerou
o crescimento desde o início da Revolução Industrial e Energética, ocorrida no
final do século XVIII, quando passou de 1 bilhão de habitantes por volta do ano
1800 para 2 bilhões em 1930, 3 bilhões em 1960 e 4 bilhões em 1974. Entre 1800
e 1930 o crescimento natural da população mundial foi de 0,5% ao ano; passou
para 1,4% ao ano entre 1930 e 1960; e para 2,1% aa entre 1960 e 1974, quando
atingiu as maiores taxas de crescimento da história humana. Entre 1974 e 1987 o
crescimento anual caiu para 1,6% aa, para 1,4% aa entre 1987 e 1999 e para
1,29% aa entre 1999 e 2011.
O gráfico acima mostra que o
pico das taxas de crescimento da população mundial ocorreu no quinquênio
1965-1970. Os países menos desenvolvidos (aqueles de renda média) acompanharam
a tendência da população mundial, mas em um ritmo um pouco mais elevado. Os
países mais desenvolvidos (aqueles de alta renda) apresentam ritmos declinantes
de crescimento desde o quinquênio 1955-60 e estão com a população praticamente
estabilidade desde o início do século XXI. Mas são os países muito menos
desenvolvidos (aqueles de renda baixa) que apresentam grande crescimento
demográfico, chegando a apresentar taxas de quase 3% ao ano na década de 1980
e, embora tenha desacelerado um pouco, ainda possuíam taxas de crescimento em
torno de 2,5% ao ano no quinquênio 2010-15.
O gráfico abaixo mostra que as taxas de
fecundidade da Europa e América do Norte ficaram abaixo do nível de reposição
(TFT = 2,1 filhos por mulher) a partir da década de 1970. A Ásia e a América
Latina tiveram uma grande queda da fecundidade depois de 1970, mas ainda estão
acima do nível de reposição. E a TFT da África só começou a cair nos anos de
1980 e ainda estão em níveis bastante elevados, significando alto crescimento
demográfico.
As taxas de fecundidade total
(TFT) do mundo subiram ligeiramente entre 1950 e 1965, mas tiveram uma queda
expressiva entre 1970 e o ano 2000, quando caíram de cerca de 5 filhos por
mulher para 2,7 filhos por mulher. A TFT foi reduzida quase pela metade em 30
anos. Contudo, a queda se desacelerou nos anos 2000 e estava em 2,52 filhos por
mulher no quinquênio 2010-15. Ou seja, em 15 anos o declínio foi de somente 0,2
filhos por mulher, enquanto no período 1970-2000 o declínio foi de 2,3 filhos
por mulher.
A divisão de população da ONU
(revisão 2017) indica que a TFT vai continuar caindo em ritmo lento, na
hipótese média de projeção, e deve ficar em 2 filhos por mulher em 2100. Nesta
trajetória, a população mundial vai continuar crescendo durante todo o século
XXI. Porém, se a TFT acelerar o ritmo de queda (como mostra a projeção baixa da
ONU), alcançando 1,5 filho por mulher em 2100, então haveria um declínio da
população mundial. Nota-se que a diferença entre a projeção média e as
projeções baixa e alta é de apenas 0,5 filhos (meio filho em média).
Pequenas diferenças na TFT
podem parecer irrelevantes, mas possuem um grande impacto sobre o volume da
população no longo prazo, como mostra o gráfico abaixo. Se a TFT seguir a
projeção alta (ficando com 2,5 filhos por mulher em 2100) então a população mundial
será de quase 17 bilhões de habitantes em 2100. Se a TFT seguir a projeção
média (2 filhos por mulher em 2100) então a população mundial será de 11,2
bilhões de habitantes no final do século. Mas se o declínio da TFT se acelerar,
seguindo a projeção baixa (do gráfico acima) e atingir 1,5 filhos por mulher em
2100, então a população mundial subiria até o pico de 8,8 bilhões de habitantes
em 2053 e depois decresceria para 7,2 bilhões em 2100. Portanto, uma diferença
de apenas 0,5 filho por mulher pode fazer a população mundial variar de algo em
torno de 17 bilhões (na projeção alta) a 7 bilhões de habitantes no final do
atual século (na projeção baixa).
Estes dados das projeções
demográficas da Divisão de População da ONU mostram que não existe nenhum
determinismo sobre o futuro da população mundial. Se a queda das taxas de
fecundidade se acelerarem nos próximos anos e décadas, a população mundial pode
ter um volume em 2100 menor do que o número atual de habitantes do globo.
A queda da TFT pode ocorrer
totalmente dentro dos marcos dos direitos reprodutivos. A Organização Mundial
de Saúde (OMS) estima que, no mundo, existem mais de 225 milhões de mulheres em
período reprodutivo sem acesso aos métodos de regulação da fecundidade. O
número de gravidez indesejada é alto. A meta # 5B dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM) dizia: “Alcançar, até 2015, o acesso universal
à saúde reprodutiva”. Esta meta não foi alcançada. Agora, os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS) também colocam como meta a universalização
dos serviços de saúde sexual e reprodutiva até 2030. Evidentemente, esta
procrastinação não é boa para a saúde das mulheres e nem para os bebês que
nascem de uma gravidez indesejada e vão correr riscos cada vez maiores diante dos
desafios econômicos, sociais e ambientais. Por exemplo, o surto dos casos de
microcefalia no Brasil, diante da epidemia de zika, poderia ser evitado se
houvesse bons serviços de saúde reprodutiva no país.
O ser humano tem livre
arbítrio e pode construir o futuro com mais ou menos gente. A humanidade pode
escolher o caminho do maior ou do menor crescimento demográfico, desde que haja
respeito aos direitos sexuais e reprodutivos e a regulação da fecundidade seja
uma escolha livre dos casais e das pessoas.
Qualquer que seja a decisão
será preciso levar em consideração as condições ambientais do Planeta, a
sobrevivência das demais espécies, a manutenção da biodiversidade e a saúde dos
ecossistemas. O progresso civilizacional tem ocorrido às custas de um holocausto
biológico. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. A
redução das taxas de fecundidade – que levariam a uma redução da população até
o ano 2100 – pode ser um passo importante para a sobrevivência da vida no
Planeta.
Mas não basta apenas o decrescimento
demográfico. É preciso também decrescer as atividades econômicas mais danosas
ao meio ambiente e colocar a Pegada Ecológica em equilíbrio com a biocapacidade
da Terra. No Holoceno havia estabilidade climática. No Antropoceno, depois da
grande aceleração das atividades antrópicas, as condições de vida na biosfera
se degradaram e, no ritmo atual, as futuras gerações de humanos e não humanos
podem receber de herança um habitat inabitável e inóspito. (ecodebate)
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