Estudo mostra que
desmatamento esquenta riachos e encolhe peixes na Amazônia.
O desmatamento está fazendo
peixes encolherem em uma região da Amazônia. A conclusão é de um estudo recém-publicado, que mostrou como o aquecimento dos
riachos provocado pela derrubada da mata e pela construção de barragens afetou
a qualidade de habitat para os peixes, impactando na diminuição média de 36% do
tamanho de algumas espécies.
De acordo com um dos autores
do trabalho, o ecólogo Paulo Ilha, pesquisador associado do IPAM, a retirada da
cobertura vegetal, seja para pastagem ou plantação de soja, facilita a erosão e
o transporte de sedimentos para dentro dos rios, modifica características
físico-químicas da água, a disponibilidade de alimento e abrigo para os animais
aquáticos. A construção de barragens também contribui com essa
alteração da paisagem para o aquecimento da água, que influencia diretamente
a biodiversidade do local.
“Embora se saiba há muito
tempo que em ambientes mais quentes o tamanho dos organismos costuma ser
relativamente menor, e que o aquecimento ambiental pode provocar reduções,
nenhum estudo havia testado a hipótese de que o aumento da temperatura da água
em riachos provocado pela conversão de florestas em áreas agrícolas poderia
reduzir o tamanho dos peixes.”
A pesquisa de campo foi
realizada na Fazenda Tanguro, no Nordeste de Mato Grosso, local em que o
Projeto Tanguro, liderado pelo IPAM, desenvolve desde 2004 pesquisas sobre a
interação entre mudanças climáticas, floresta e agricultura. Os pesquisadores
analisaram o tamanho dos peixes em pontos com diferentes usos da terra, foram
em seis riachos, sendo três em áreas de florestas e três em áreas agrícolas.
O estudo envolveu 36 espécies
presentes nas bacias dos rios Darro e Tanguro. As análises indicam que quatro
das seis espécies mais presentes nos riachos diminuíram de tamanho corporal,
entre 43% e 55%, nas áreas agrícolas.
Para confirmar a hipótese, o
pesquisador realizou um experimento no laboratório da Universidade de São Paulo
(USP), onde foram criados peixes de uma espécie nativa (Melanorivulus zygonectes) em temperaturas semelhantes às dos riachos agrícolas
e de floresta.
“Os peixes criados em
temperatura semelhante às dos riachos agrícolas perderam massa, diminuindo de
tamanho, enquanto os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos de
florestas cresceram”, afirma Ilha. A pesquisa não investigou os mecanismos
fisiológicos que levam à diminuição do tamanho dos peixes, mas constatou que a
temperatura da água é um fator preponderante.
Estudos anteriores
constataram que córregos com áreas desmatadas são de 3oC a 4°C mais quentes do que em áreas florestadas. A
temperatura é um dos fatores mais importantes para a distribuição dos
organismos, as interações e as funções ecológicas das comunidades.
“As conclusões do estudo
podem ter implicações para a conservação de peixes em resposta ao aquecimento
provocado por mudanças climáticas e no uso da terra”, diz Ilha. “Alterações no
tamanho do corpo podem afetar praticamente todos os aspectos da biologia de um
organismo, de sua fisiologia à história de vida, interações ecológicas, e
funções ecossistêmicas, incluindo provisão de alimento e renda para seres
humanos.”
Este estudo fez parte da tese de doutorado de
Ilha, feita na USP sob orientação do ecólogo Luis Schiesari, e contou com a
colaboração de Fernando Yanagawa, do professor Carlos A. Navas, e da
pesquisadora KathiJo Jankowski.
O
Projeto Tanguro é um esforço científico com o objetivo de conciliar a produção
de alimentos e a integridade ambiental com as mudanças climáticas globais e
locais. Ele é composto por um grupo interdisciplinar de pesquisadores, sob a
coordenação do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e com a
colaboração da AMAGGI, cuja Fazenda Tanguro, localizada em Querência (MT),
serve como centro de experiências do projeto. (ecodebate)
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