Portugal
vive uma experiência de governo de esquerda e de retomada da economia, com
relativo sucesso depois de vários anos de recessão. O governo do
primeiro-ministro Antônio Costa, do Partido Socialista, caminha para completar
dois anos e meio, contrariando as expectativas mais pessimistas. O arranjo
político que garantiu a governabilidade ficou conhecido como “Geringonça” e
reúne o governo minoritário do Partido Socialista, com apoio parlamentar do
Bloco de Esquerda (Partido Comunista Português e o Partido Ecologista – os
Verdes). Segundo o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos: “É o único
governo de esquerda da Europa que, de fato, governa à esquerda”.
Portugal
entrou na União Europeia em 1986 e nos quatro anos seguintes o Produto Interno
Bruto (PIB) do país cresceu em média 7% ao ano, o maior ritmo em todo o período
pós Revolução dos Cravos, de 25 de Abril de 1974. Em 1993, o PIB caiu quase 1%.
Entre 1994 e 2002, o PIB voltou a crescer em ritmo mais acelerado, de 3% ao ano
(bem menos que os 7% ao ano do final da década de 1980). Em 2003, houve uma
nova recessão de -0,934% e nunca mais a economia voltou a crescer a 3% ao ano,
sendo que entre 2009 e 2013 a economia teve a maior queda do século, com quase
10% de redução do PIB. A partir de 2014 a economia voltou a crescer, mas em
ritmo muito lento (menos de 1,5% ao ano em média), conforme pode ser visto no
gráfico acima, com dados do FMI.
A renda per
capita (em poder de paridade de compra – ppp) que era de US$ 6 mil em 1980,
passou para US$ 20,5 mil no ano 2000 e chegou a US$ 30 mil em 2017, também como
pode ser visto no gráfico acima. Mas para avaliar estes números é preciso
comparar o desempenho de Portugal com os demais países da Eurozona.
A figura
abaixo mostra a evolução da renda per capita dos 19 países da área do Euro,
entre os anos de 2000 e 2017, por ordem decrescente da renda. Nota-se que
Luxemburgo, o país mais rico da região, tinha a maior renda per capita no ano
2000 – quase US$ 65 mil – e passou para mais de US$ 100 mil em 2017. A Holanda
ocupava o segundo lugar em 2000 (com renda per capita de US$ 33,2 mil) e caiu
para o terceiro lugar em 2017 (com US$ 53 mil). A Irlanda que estava em
terceiro lugar, subiu para a segunda posição. Melhoraram a posição no ranking:
Alemanha, França, Finlândia, Espanha, Eslovênia, Eslováquia, Estônia e
Lituânia. Mas o maior salto foi de Malta que, em 2000, estava em 14º lugar (com
renda de US$ 20 mil) e subiu para 9º lugar em 2017 (com renda de US$ 42,2 mil).
Entre
os países que caíram no ranking entre 2000 e 2017, a Itália que estava em 7º
lugar (com renda de US$ 28,6 mil) e caiu para 11º lugar (com renda de US$ 37,9
mil). Mas as maiores quedas foram de Portugal que caiu do 12º lugar para 17º
lugar (antepenúltimo da lista) e da Grécia que caiu do 13º lugar para 18º lugar
(penúltimo da lista). A Letônia é o país com menor renda per capita da área do
Euro.
Todos os
países apresentaram crescimento da renda corrente, mas o desempenho foi bem
diferenciado. O gráfico abaixo mostra que entre o ano 2000 e 2017, a renda per
capita da Lituânia cresceu 231%, da Letônia cresceu 206%, da Eslováquia 169%,
da Irlanda 124%, de Malta 110% e até mesmo a renda de Luxemburgo, que já era um
pais muito rico em 2000, subiu 66%. No outro extremo, os países que
apresentaram o menor crescimento da renda per capita são Portugal (47,6%),
Chipre (46,4%), Grécia (37,2%) e Itália (32,5%).
Analisando
os dados do período mais recente, o gráfico abaixo mostra o crescimento da
renda per capita corrente entre 2015 e 2017. Neste período, o maior crescimento
foi de Malta (11,5%), Lituânia (11,4%) e Irlanda (10,8%). Os piores desempenhos
recentes foram da Áustria (4,9%), Bélgica (5,3%) e França, Itália e Alemanha
(com 5,4%). Portugal ficou em 10º lugar, apresentando crescimento da renda de
7,6%.
Todos estes
dados mostram que a retomada econômica recente de Portugal não tem nada de
excepcional. O país continua em declínio demográfico e em declínio econômico
quando medido pela participação no PIB mundial (ALVES, 07/08/2015). A
“Geringonça” tem o mérito de trazer esperança para o país e evitar um
agravamento da crise social, mas está longe de reverter o quadro que coloca
Portugal entre os países mais pobres da Eurozona. (ecodebate)
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