Muitas
pessoas, recorrentemente, perguntam qual é o número ideal de humanos sobre a
Terra?
Contudo,
em geral, a maioria fica frustrada ao saber que não existe um número mágico
como resposta. Globalmente, o número ideal de humanos depende de vários
condicionantes econômicos e éticos.
O
primeiro condicionante econômico é o padrão de vida. O número de pessoas que a
Terra pode sustentar depende do modo de produção e consumo adotado por estas
pessoas. De acordo com a Global Footprint Network, em 2013, a biocapacidade
global do Planeta era de 12,2 bilhões de hectares globais (gha). Como a
população mundial estava em 7,2 bilhões de habitantes, a biocapacidade per
capita era de 1,71 gha. Ou seja, a Terra poderia ter 7,2 bilhões de habitantes
em equilíbrio com o meio ambiente se a pegada ecológica fosse de 1,71 gha.
Porém, a pegada per capita estava em 2,87 gha em 2013, somando 20,6 bilhões de
gha, o que provocava um déficit ambiental de 68%.
Assim,
segundo os dados da Global Footprint Network, de 2013, a presença humana sobre
a Terra estava gerando um excesso de demanda em relação à capacidade de oferta
de serviços ecossistêmicos do Planeta. Para equilibrar oferta e demanda, ou a
população mundial (com pegada de 2,87 gha) tinha de cair para 4,3 bilhões de
habitantes ou os 7,2 bilhões de habitantes tinham de reduzir a pegada ecológica
para 1,71 gha.
Portanto,
considerando estes parâmetros, o número ideal (que garante o equilíbrio entre a
oferta e a demanda de serviços ecossistêmicos) seria 7,2 bilhões de pessoas com
pegada per capita de 1,71 gha ou 4,3 bilhões de pessoas com pegada de 2,87 gha.
Desta forma, o número ideal de pessoas dependeria do padrão de consumo.
Vejamos
um exemplo de país rico. A pegada ecológica per capita dos Estados Unidos (EUA)
era de 8,6 gha em 2013, refletindo um alto padrão de consumo. Caso a população
mundial adotasse o estilo de vida americano, o número ideal de humanos sobre a
Terra seria de 1,4 bilhão de habitantes para caber dentro da biocapacidade
global de 12,2 bilhões de gha.
Agora
vejamos um exemplo de país de baixa renda e consumo. A pegada ecológica per
capita da Índia era de somente 1,1 gha em 2013. Caso a população mundial
adotasse o estilo de vida médio indiano, o número máximo de humanos sobre a
Terra para manter o equilíbrio com a biocapacidade de 12,2 bilhões de gha,
seria de 11,1 bilhões de habitantes.
Desta
forma, o tamanho ideal da população mundial para manter o equilíbrio entre a
pegada ecológica e a biocapacidade é de 11,1 bilhões de habitantes, no caso de
uma pegada per capita de 1,1 gha, ou de 1,4 bilhão de habitantes, no caso de um
pegada per capita de 8,6 gha. Portanto, o tamanho ideal da população depende do
padrão de consumo e da forma de produção dos bens e serviços à serviço da
humanidade, que são os fatores principais que impactam negativamente o meio
ambiente.
Evidentemente, a pegada ecológica é maior nos países ricos que nos pobres e é maior, especialmente, entre as elites ricas dos países ricos. Todavia, mesmo se houvesse uma distribuição igualitária da renda e do consumo, a humanidade estaria utilizando 1,68 planeta, apesar de haver apenas 1 planeta. E o pior, mesmo se eliminarmos da contabilidade global os 1,1 bilhão de habitantes dos países ricos com uma pegada ecológica de 6,8 bilhões de gha, assim mesmo haveria déficit ambiental. Ou seja, a pegada ecológica dos países de renda média e baixa (sem os países ricos) é maior do que a biocapacidade global. Portanto, mesmo num cenário de completa igualdade social, ou de eliminação dos países ricos, o padrão médio de consumo mundial ainda seria deficitário.
Evidentemente, a pegada ecológica é maior nos países ricos que nos pobres e é maior, especialmente, entre as elites ricas dos países ricos. Todavia, mesmo se houvesse uma distribuição igualitária da renda e do consumo, a humanidade estaria utilizando 1,68 planeta, apesar de haver apenas 1 planeta. E o pior, mesmo se eliminarmos da contabilidade global os 1,1 bilhão de habitantes dos países ricos com uma pegada ecológica de 6,8 bilhões de gha, assim mesmo haveria déficit ambiental. Ou seja, a pegada ecológica dos países de renda média e baixa (sem os países ricos) é maior do que a biocapacidade global. Portanto, mesmo num cenário de completa igualdade social, ou de eliminação dos países ricos, o padrão médio de consumo mundial ainda seria deficitário.
Mas
além dos condicionantes econômicos também existem os condicionantes éticos.
Será justo manter uma enorme população humana ao mesmo tempo em que se reduz as
populações das outras espécies que habitam a Terra muito antes do Homo sapiens?
Será justo manter bilhões de indivíduos da espécie humana, enquanto desaparecem os rinocerontes, os leões, os leopardos, os elefantes, as girafas, os gorilas, os tigres, os ursos polares, as abelhas, etc.? Será justo aumentar o asfalto e o cimento das cidades e do campo enquanto as áreas de floresta são transformadas em monoculturas e desertos e a defaunação se espalha pelo mundo? Será justo manter o alto padrão de vida humana enquanto os rios urbanos são enterrados vivos e transformados em esgotos e as fontes de água potável são monopolizadas por uma elite ou poluídas, sendo que o processo de acidificação e eutrofização ameaça todas as formas de vida aquática?
Será justo manter bilhões de indivíduos da espécie humana, enquanto desaparecem os rinocerontes, os leões, os leopardos, os elefantes, as girafas, os gorilas, os tigres, os ursos polares, as abelhas, etc.? Será justo aumentar o asfalto e o cimento das cidades e do campo enquanto as áreas de floresta são transformadas em monoculturas e desertos e a defaunação se espalha pelo mundo? Será justo manter o alto padrão de vida humana enquanto os rios urbanos são enterrados vivos e transformados em esgotos e as fontes de água potável são monopolizadas por uma elite ou poluídas, sendo que o processo de acidificação e eutrofização ameaça todas as formas de vida aquática?
Não
há muitas alternativas viáveis: ou a população de 7,5 bilhões de habitantes, em
2017, abandona o modelo “Extrai-Produz-Descarta” e constrói um sistema de
produção e consumo mais amigável ao meio ambiente ou o fluxo metabólico
entrópico vai reduzir as atividades antrópicas por meio de um colapso
ecológico.
O
fato é que o volume da população atual multiplicado pelo consumo médio global é
incompatível com a capacidade de carga do Planeta.
A
continuidade do progresso humano global tem esbarrado nos limites das
fronteiras planetárias. Por exemplo, o aquecimento global (e suas
consequências) pode tornar a Terra inabitável, senão nos próximos anos, nas
próximas décadas.
Enfim,
o número ideal de humanos sobre a Terra é aquele que não degrada os
ecossistemas, mantém o equilíbrio homeostático do clima e garante a
sobrevivência e convivência harmoniosa entre todos os seres vivos da comunidade
biótica. Certamente, o tamanho ideal da presença humana sobre a Terra
(população vezes consumo) é de uma dimensão inferior ao seu impacto atual.
Mas
há quem pense diferente. O economista Julian Simon defendia a ideia bizarra de
que não havia limites ao crescimento populacional. Ele afirmava que “quanto
mais gente melhor”, desde que o mundo seguisse as regras do mercado e os
princípios do neoliberalismo. Simon foi assessor do presidente Ronald Reagan
nos EUA e um dos líderes dos negacionistas das mudanças climáticas. Ou seja, um
antineomalthusiano ferrenho e ideólogo do capitalismo degradador do meio
ambiente. Simon consegue enganar muitas pessoas com seu discurso que o
crescimento populacional desregrado não é um problema para a sociedade e o meio
ambiente (Alves, 16/05/2012). Por incrível que pareça, há demógrafos
brasileiros (Greenwashing) que referendam este tipo de pensamento antiecológico
(Rosa, 13/04/2018)
A
escola da Economia Ecológica mostra que a economia é um subsistema da ecologia.
Assim, manter o ininterrupto crescimento demoeconômico é ambientalmente
insustentável. Não se trata de produzir mais com menos, mas sim produzir menos
com muito menos exploração dos recursos naturais.
O
número ideal de humanos sobre a Terra é aquele que garanta a sobrevivência da
espécie no longo prazo e que não empobreça o meio ambiente e nem reduza a
biodiversidade do Planeta. Atualmente a humanidade já ultrapassou a capacidade
de carga da Terra. Somente com o decrescimento das atividades antrópicas a
humanidade atingirá o número ideal de indivíduos.
Se
a população ficar em torno de 7 bilhões de habitantes a pegada ecológica
precisa cair para 1,7 gha. Mas com a pegada ecológica de 2,87 gha o número
ideal para se atingir o equilíbrio ambiental seria de 4,3 bilhões de
habitantes. O fato é que o número ideal de humanos é aquele que não provoque um
desequilíbrio no clima e nem uma extinção em massa dos seres vivos que compõe a
rica e essencial biodiversidade da Mãe Terra. (ecodebate)
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