Qualidade do Ar – “Abaixa
cobertura de estações de monitoramento significa que na maior parte do país a
população não sabe o ar que está respirando”
Dos 27 estados do Brasil,
apenas nove realizam o monitoramento da qualidade do ar. São eles Bahia,
Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Paraná, Goiás e Distrito Federal.
Embora o estado com melhor cobertura do monitoramento seja São
Paulo, em geral, a cobertura da rede é insuficiente no país, sendo mais crítica
nas regiões Nordeste e Centro-Oeste; e no Norte, onde não há nenhum
monitoramento. Atualmente sete poluentes são regulados no Brasil por seus
reconhecidos danos à saúde: partículas totais em suspensão (PTS), partículas
inaláveis (MP10), fumaça, dióxido de enxofre (SO2), dióxido de nitrogênio (NO2), monóxido de
carbono (CO) e ozônio (O3). Sendo que o material particulado
fino (MP2,5) e o ozônio são os poluentes cujo o controle das
concentrações é mais desafiador. Esses poluentes são pouco acompanhados, apesar
de seus impactos à saúde, o MP2,5 é monitorado em apenas
quatro estados e o ozônio, em sete.
Esses e outros dados sobre a poluição do ar no Brasil estão
compilados na nova versão da Plataforma Nacional de Qualidade do Ar (http://qualidadedoar.org.br/) desenvolvida e lançada dia 14/11/18 pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (http://energiaeambiente.org.br/), organização sem fins lucrativos que produz dados técnicos para influenciar políticas públicas. A ferramenta online é a única no país a reunir dados de concentração de
poluentes e a indicar as ultrapassagens dos padrões nacionais e das
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que pode auxiliar
especialistas e gestores na avaliação dos efeitos da poluição do ar na saúde.
“A baixa cobertura de
estações de monitoramento significa que na maior parte do país a população não
sabe o ar que está respirando”, diz a meteorologista Beatriz Oyama, analista de
qualidade do ar do IEMA. “O monitoramento de qualidade do ar é uma ferramenta
importante para a gestão pública.” Com monitoramento adequado nas cidades, é
possível saber quando o ar está inadequado e tomar medidas para reduzir as
emissões de poluentes, como restringir algumas atividades industriais e o uso
de automóveis e incentivar o uso do transporte público. No limite, é possível
recomendar que os cidadãos e os profissionais de saúde fiquem mais alertas nos
dias mais críticos.
O monitoramento pode ajudar a
identificar as fontes poluentes, como indústrias específicas ou locais com
trânsito intenso de veículos, e agir para reduzir essas emissões. Medir a
qualidade do ar é também um dos instrumentos relevantes para verificar a
eficácia do programa de controle veicular (Proconve), que regulamenta a
tecnologia dos motores e a qualidade dos combustíveis. Também é uma informação
necessária para o poder público autorizar a instalação de novas indústrias em
áreas sensíveis para a saúde da população.
Referência para a OMS desde 2016, a nova versão da Plataforma do
IEMA disponibiliza informação detalhada sobre a distribuição das estações de
monitoramento e sobre as variações das concentrações de poluentes monitorados.
Ela também está mais interativa e prática de consultar, mas a maior novidade
são os dados de concentração por hora do dia. Eles permitem saber, por exemplo,
quais são os horários do dia com picos de um tipo específico de poluente, os
meses do ano em que se observam maiores concentrações.
Uma vez que cada estado tem sua metodologia para calcular
concentrações de poluentes, após estudar essas diferentes metodologias
adotadas, a plataforma do IEMA empregou o método utilizado pela maior parte dos
estados para padronizar os cálculos tornando dados de diferentes estados
comparáveis.
Entre os poluentes atualmente medidos no Brasil, os únicos que não
apresentam uma tendência clara de queda são o material particulado fino e o
ozônio. Assim, esses são os poluentes que mais preocupam por representarem altos
riscos para a saúde quando em concentrações elevadas.
O material particulado mais fino (MP2,5) é um dos
maiores responsáveis por doenças respiratórias e cardiovasculares no mundo. Ele
é emitido pela queima de combustíveis nas indústrias e nos veículos, essa
segunda fonte se torna ainda mais relevantes nos centros mais urbanizados.
Também é formado na atmosfera a partir de reações químicas com outros gases e
poluentes. Embora o MP2,5 tenha seus danos à saúde
cientificamente comprovados, somente quatro estados fazem o monitoramento desse
poluente: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, e Espírito Santo, sendo que
somente nesses dois últimos o MP2,5 é regulado. Na
Plataforma de Qualidade do Ar, é possível verificar como a concentração de
material particulado evoluiu em vários pontos do país. Na estação do bairro de
Cerqueira César, na região da Avenida Paulista, da cidade de São Paulo, a
concentração média anual de material particulado teve uma queda de 24 para 16
microgramas por metro cúbico entre os anos 2000 e 2009. Depois começou a
oscilar sem queda aparente. Sempre acima da concentração de 10 microgramas por
metro cúbico, recomendada pela OMS.
O ozônio é outro poluente que tem apresentado concentrações bem
acima dos valores recomendados pela OMS. Quem se expõe a ele regularmente,
corre risco de desenvolver asma e outras doenças cardiovasculares e de ter sua
capacidade pulmonar reduzida. Como não é emitido diretamente por nenhuma fonte
poluente, o controle do ozônio é um grande desafio. Ele é formado durante o
dia, a partir da reação entre poluentes originados de processos incompletos de
queima (combustíveis, queimadas).
A Plataforma de Qualidade do Ar também permite verificar as
concentrações de ozônio em várias cidades. A máxima média de 8 horas de
ozônio, no Parque do Ibirapuera em São Paulo, variou entre cerca de 200 e 160
microgramas por metro cúbico entre os anos de 2013 e 2016. Ou seja, ainda acima
das recomendações da OMS, de 100 microgramas por metro cúbico.
A plataforma mostra como os
poluentes mais críticos hoje são o MP2,5 e O3, além dos demais poluentes regulados. Por outro lado, a
boa notícia da plataforma é que outros poluentes apresentam queda. É o caso de
material particulado (MP10), o dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO) e dióxido de nitrogênio (NO2). Todos esses poluentes têm apresentado uma tendência de
redução das concentrações ao longo dos anos e, na maioria das estações, têm
atendido as recomendações da OMS. (ecodebate)
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