Aumento do nível do mar e o fim da praia do
Pepê na Barra da Tijuca, RJ.
O
aumento das emissões de gases de efeito estufa fez a temperatura da Terra subir
cerca de 1,2ºC em relação ao período pré-industrial. Em consequência, as áreas
geladas do Planeta passaram a conviver com um aumento do degelo. Um dos lugares
mais afetados é a Groenlândia que tem gelo suficiente para provocar a elevação
do nível dos oceanos em 7 metros. A Antártica tem gelo suficiente para elevar o
nível dos oceanos em 70 metros.
Portanto,
basta 3% de degelo para que o nível médio dos oceanos suba cerca de dois
metros. Isto seria suficiente para afetar, diretamente, a vida de pelo menos 2
bilhões de pessoas que vivem nas áreas costeiras e, indiretamente, de toda a
população mundial.
O
uso de satélites permite registrar que o nível do mar de todo o planeta está
crescendo a cada ano. Medições de precisão, que começaram em 1993, indicam que
a elevação média vem se acelerando desde aquela época, principalmente como
resultado do degelo da Groenlândia e Antártida. Assim, preocupa que o nível do
mar está aumentando; mas preocupa ainda mais saber que ele sobe cada vez mais
rápido.
Para
comprovar, um novo estudo internacional debruçou-se sobre o passado com novos
cálculos e as conclusões são alarmantes. O novo estudo, publicado na Nature
Climate Change, indica que a taxa de aumento global do nível do mar, que era de
menos de um milímetro por ano na década de 1960, acelerou-se para mais de três
milímetros por ano na atualidade.
Segundo
o Jornal El País, este novo cálculo não serve apenas para determinar a
aceleração do passado, mas também para alertar do que pode vir a ocorrer no
futuro. As conclusões do estudo salientam o importante papel da expansão
térmica na taxa de aumento do nível do mar, resultando numa aceleração que já
tinha sido prognosticada em 2013 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática para o século XXI. Deste modo, se projetarmos para o futuro esta taxa
de aceleração registrada, assumindo que continuasse constante, o aumento do
nível do mar poderia ser mais do que o dobro do esperado para o ano 2100,
comparado com projeções que assumem uma taxa de aumento constante.
A
elevação do nível do mar é causada principalmente por dois fatores relacionados
ao aquecimento global: a água adicionada do derretimento das camadas de gelo e
das geleiras e a expansão da água do mar à medida que ela se aquece. A
tendência de subida dos mares é clara, segundo os gráficos abaixo da NASA. O
primeiro gráfico acompanha a mudança no nível do mar desde 1993, conforme
observado pelos satélites. O segundo gráfico, derivado dos dados sobre a maré
costeira, mostra a variação do nível do mar de 1880 a 2015, com um aumento de
quase 25 centímetros.
O
Brasil é um dos países mais vulneráveis ao aumento do nível dos oceanos, pois
possui uma linha costeira imensa e com várias cidades com alta densidade
demográfica, como a cidade do Rio de Janeiro. Aliás, a Capital Fluminense tem
sido vítima de inúmeras ressacas e alagamentos provocados pelo mar e pela
chuva.
Um
dos exemplos mais recentes foi a ressaca que comeu a faixa de areia da Praia de
Copacabana, na altura do posto 5, no início de agosto de 2019, e também causou
vários estragos em toda a orla da cidade.
Uma
área muito afetada foi a Praia do Pepê na Barra da Tijuca. Como mostram as
imagens acima a ressaca de 03 e 04 de agosto, destruiu a pista de ciclismo e
provocou grandes danos nas instalações do Grupamento Marítimo (G-Mar) dos
bombeiros da Barra da Tijuca. Aliás este prédio foi construído de forma
irregular na praia e agora o mar pede o espaço de volta. O heliponto foi por
água abaixo e toda a infraestrutura do G-Mar foi comprometida.
Na
verdade, a Praia do Pepê já vem perdendo sua área de areia há muito tempo, não
só em decorrência da elevação do nível do mar, mas também depois da construção
do quebra-mar da Barra da Tijuca, localizado no canto esquerdo da praia da
Barra, próximo ao Morro da Joatinga. O quebra mar impede que o mar avance pelo
seu caminho natural e joga as ondas sobre a Praia do Pepê.
Como
escrevi em artigos de 2016 (Alves, Ecodebate): “As praias do Rio de Janeiro e
da maioria das cidades do planeta correm o risco de serem ‘varridas do mapa’”.
Este processo pode ser socialmente grave na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, que é a maior e mais complexa aglomeração urbana da zona costeira
brasileira, com mais de 12 milhões de habitantes.
“De
todas as zonas ameaçadas, a Barra da Tijuca e arredores é, entre os grandes
bairros da Cidade Maravilhosa, a área mais vulnerável ao avanço do nível do mar
e às inundações provocadas por ressacas, chuvas e tempestades”.
O
fato é que a Barra da Tijuca se desenvolveu às custas da especulação
imobiliária, da concentração fundiária e da degradação ambiental (era uma área
mais propícia aos jacarés). Uma elevação de 1 metro no nível do mar vai
provocar o desaparecimento da praia nos momentos de maré alta e vai gerar
graves problemas de inundação e enchentes nas partes mais baixas do bairro.
Ressacas
e inundações já são comuns no Rio de Janeiro, especialmente nas áreas
litorâneas da Zona Oeste. A Barra da Tijuca, provavelmente, será uma região
submersa no futuro. E a parte que vai desaparecer primeiro deve ser a Praia do
Pepê. Nem o Grupamento Marítimo dos bombeiros se salvará. (ecodebate)
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