Alta no desmatamento
da Amazônia em 2019 coroa desmonte ambiental de Bolsonaro e Salles.
Variação
relativa anual das taxas do PRODES na Amazônia Legal. Em azul a estimativa para
2019.
Amazônia perdeu quase 10 mil Km2
de floresta em 2019, na terceira maior elevação da taxa na história.
O desmatamento da Amazônia
foi de 9.762 Km2 em 2019, segundo dados do INPE (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais) divulgados pelo governo federal em 18/11/19. É a maior
taxa desde 2008 e a terceira maior alta percentual da devastação na história,
perdendo apenas para 1995 (95%) e 1998 (31%).
O número é uma estimativa do
sistema Prodes, que uma vez por ano informa a taxa oficial do desmatamento
(medida de agosto de um ano a julho do ano seguinte). Em maio do ano que vem,
ele será ajustado para dar a taxa final, que pode ser ainda maior que a
estimativa. Ele confirma a tendência de alta significativa (49%) apontada pelo
sistema Deter, que monitora o desmate em tempo real. A explosão dos números do
Deter a partir de junho fez o presidente Jair Bolsonaro chamar o INPE de
“mentiroso” e demitir seu diretor, Ricardo Galvão.
O dado é decorrência direta
da estratégia implementada por Bolsonaro de desmontar o Ministério do Meio
Ambiente, desmobilizar a fiscalização, engavetar os planos de combate ao
desmatamento dos governos anteriores e empoderar, no discurso, criminosos
ambientais. O próprio presidente já declarou, com orgulho, que havia mandado
seu antiministro do Ambiente, Ricardo Salles, “meter a foice no IBAMA”. Salles
obedeceu.
Diferentemente do que
aconteceu em anos anteriores de elevação da taxa, desta vez não foi anunciado
pelo governo federal nenhum plano crível para reverter a situação. O
antiministro Salles anunciou uma reunião com governadores da Amazônia em
20/11/19 na qual seriam apresentadas medidas para conter a crise.
Em 1995, Fernando Henrique
Cardoso elevou os limites de proteção do Código Florestal; em 2003, Luiz Inácio
Lula da Silva criou o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia
(PPCDAm), que Salles e Bolsonaro enterraram; em 2008, o governo criou uma lista
dos municípios críticos e cortou crédito rural para desmatadores.
Para não deixar dúvida sobre
a tendência, os dados do Deter apontam que a explosão na devastação continua em
2020. Somente entre agosto e a primeira semana de novembro o sistema de alertas
do INPE já registrou 3.929 Km2 desmatados, o que significa 57% de
tudo o que se desmatou em 12 meses em 2019.
Como a área de alertas vista
pelo Deter é sempre menor que a área desmatada registrada no Prodes, já é
possível afirmar que o Brasil não cumprirá a meta de reduzir o desmatamento em
80% em 2020 (para 3.925 Km2), mesmo que todo o desmate acabe hoje na
Amazônia.
“O dado divulgado pelo INPE é
o indicador mais importante do impacto da gestão Bolsonaro/Salles para o meio
ambiente do Brasil até agora: um imenso desastre. E propostas como legalização
da grilagem de terras públicas, mineração e agropecuária em terras indígenas,
infraestrutura sem licenciamento ambiental só mostram que os próximos anos
podem ser ainda piores”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do
Observatório do Clima. “A dúvida que permanece é até quando parceiros
comerciais do Brasil irão confiar nas promessas de sustentabilidade e
cumprimento do Acordo de Paris, enquanto florestas tombam, lideranças indígenas
são mortas e leis ambientais são esfaceladas.”
“O governo Bolsonaro é
responsável por cada palmo de floresta destruída. Este governo hoje é o pior
inimigo da Amazônia”, disse Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas
do Greenpeace.
“Nenhuma taxa é aceitável
quando se sabe que mais de 90% do desmatamento é ilegal”, afirmou Adriana
Ramos, diretora de Políticas Públicas do Instituto Socioambiental. “Não é de se
estranhar que isso aconteça tendo em vista que desde a campanha eleitoral o
presidente defende ilegalidade ambiental e promove a impunidade. O governo
também tem uma imensa responsabilidade por ter paralisado o único instrumento
de financiamento voltado a redução do desmatamento na Amazônia, que era o Fundo
Amazônia”. (ecodebate)
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