Para avaliar mudanças climáticas, cientistas criam
projeto baseado em conhecimento tradicional.
‘Local Indicators of Climate Change Impacts’ busca
maior compreensão dos efeitos das mudanças climáticas no mundo todo. Projeto
tem participação de pesquisadora do Instituto Mamirauá
Para
populações tradicionais e indígenas, as mudanças climáticas são mais do que
estampa em capa de jornal com dados alarmistas. É realidade palpável no
cotidiano: são cheias e secas extremas em lugares alagáveis, mudança no ciclo
de chuvas e, claro, ondas de calor que afetam diretamente colheita, pesca e
estilo de vida. Indígenas, ribeirinhos e moradores da zona rural são primeiros
a perceberem os efeitos dos desequilíbrios ecossistêmicos causados pela mudança
de temperatura do planeta.
Visando
reunir os diferentes conhecimentos tradicionais para entender os efeitos das
mudanças climáticas ao redor do mundo inteiro, um grupo de cientistas criou o
projeto ‘Local Indicators of Climate Change Impacts’ (LICCI). O LICCI reúne
pesquisadores de diferentes instituições localizadas no mundo todo; entre elas,
o Instituto Mamirauá, organização social vinculada ao Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
O
projeto é da Universidade Autônoma de Barcelona sob orientação da pesquisadora
Victoria Reyes-García, começou em 2018 e deve durar cinco anos. Nesse período,
cerca de 45 pesquisadores do mundo inteiro irão reunir, baseados em um
protocolo padrão, dados das percepções de populações indígenas e tradicionais
sobre as mudanças climáticas.
A
ideia surgiu baseada em três premissas: a primeira é que as populações locais
têm interação mais aproximada com os ecossistemas e, por isso, sentem esses
efeitos de primeira mão; a segunda é que essas populações são as principais
afetadas por essas transformações no meio ambiente e a terceira é que essas
populações já estão se mobilizando na elaboração de estratégias para lidar com
esses efeitos.
“Um
aumento da temperatura na cidade pode trazer um desconforto para quem mora em
ambiente urbano, mas para um indígena que vive em uma área desértica, por
exemplo, isso muda completamente o estilo de vida dele impactando diretamente
os recursos que ele pode acessar”, afirma André Junqueira, um dos pesquisadores
do LICC.
O
projeto irá criar, assim, uma rede de outros pesquisadores interessados em
avaliar como sistemas de conhecimento contribuem para a compreensão dos
impactos das mudanças climáticas.
Metodologia
Entre
os dias 18 e 23 de novembro, os pesquisadores integrantes do projeto realizaram
um workshop na Universidade Autônoma de Barcelona com explicações e treinamento
da metodologia que será utilizada, previamente elaborada pelos idealizadores do
projeto.
O
método prevê a realização de entrevistas e oficinas participativas em
diferentes locais do mundo.
Os dados resultantes ficarão disponíveis a interessados em desenvolver políticas de adaptação, modelos de mudanças climáticas e outras pesquisas sobre o assunto.
Os dados resultantes ficarão disponíveis a interessados em desenvolver políticas de adaptação, modelos de mudanças climáticas e outras pesquisas sobre o assunto.
Na
região do Médio Solimões, na Amazônia Central, a pesquisadora associada do
Grupo de Pesquisa em Arqueologia e Gestão de Patrimônio do Instituto Mamirauá,
Júlia Vieira, será a responsável por essa coleta de dados com as populações
ribeirinhas que vivem na área.
Júlia
já realizou anteriormente pesquisa etnográfica em comunidades das reservas de
desenvolvimento sustentável Mamirauá e Amanã, unidades de conservação da
região, com o objetivo de entender como os ribeirinhos de diferentes
ecossistemas amazônicos – no caso, várzea e paleovárzea – são afetados por
eventos climáticos extremos e como se adaptam a essas situações.
“Ser
incluída como uma parceira do projeto é uma grande oportunidade de padronizar a
metodologia já realizada com a do grupo internacional. Isso permitirá que a
região do Médio Solimões seja incluída em uma avaliação global. Assim,
esperamos dar maior visibilidade para as problemáticas climáticas que vêm
ocorrendo localmente e consequentemente, ter maior atenção e planejamento nas
ações de apoio e fortalecimento das comunidades locais”, afirma a pesquisadora,
que atualmente é aluna de doutorado do Programa de Pós Graduação em Botânica do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) sob orientação de Charles
Clement (Inpa), Ângela M. Steward (UFPA) e Tamara Ticktin (Universidade do Hawaii).
“Pesquisadores
como a Júlia são fundamentais para o projeto porque eles têm um conhecimento
detalhado das populações com as quais eles vão trabalhar. Esses dados do Médio
Solimões vão poder ser contrastados e dialogar com dados do mundo todo, então
saem de um estudo local e ganham escala”, afirma André. (ecodebate)
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