Greta
Thunberg pede o fim do uso dos combustíveis fósseis e emissão zero de CO2.
"Nossa
casa ainda está pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!" -
Greta Thunberg.
O Fórum de Davos – que reúne a
elite econômica e política do mundo – convidou a adolescente sueca Greta
Thunberg para ocupar um lugar de destaque na reunião de janeiro de 2020, na
Suíça.
A 50ª reunião anual do Fórum
Econômico Mundial estabeleceu como preocupação central os problemas ambientais.
O “Relatório de Riscos Globais 2020”, publicado no dia 15/01/2020, trouxe, pela
primeira vez, as preocupações ambientais em todos os cinco pontos de atenção
para os governos e os mercados.
O documento sobre os riscos
globais ouviu 750 especialistas e tomadores de decisão globais que chamaram a
atenção para cinco riscos ecológicos que podem transformar o mundo nos próximos
dez anos, iniciando uma rota para um colapso ambiental catastrófico. Os 5
maiores riscos globais são:
Eventos climáticos extremos,
como enchentes e tempestades;
Falhas nos combates às mudanças
climáticas;
Perda de biodiversidade e
esgotamento de recursos;
Desastres naturais, como
terremotos e tsunamis;
Desastres ambientais causados
pelo ser humano.
Nos 50 anos do WEF, o fundador,
Klaus Schwab, disse que o Fórum iria levar em consideração o “efeito Greta
Thunberg”. E a ambientalista adolescente sueca não decepcionou. Em 17/01/10 ela
participou de uma mobilização na cidade Suíça de Lausanne, reunindo cerca de 15
mil manifestantes de todas as gerações. Greta lembrou que já foram 74 semanas
dos protestos ‘Sextas-Feiras pelo Futuro’ e mandou o seguinte recado: “Vocês
ainda não viram nada, a gente garante”.
No Fórum, Greta Thunberg levou
a mensagem do abandono dos combustíveis fósseis e da emissão zero de CO2.
Greta mostrou para os líderes mundiais que os ganhos econômicos trazidos pela
energia fóssil no passado, estão trazendo caos climático hoje em dia e pode
gerar um armagedon ambiental no futuro.
De fato, em 250 anos, a
economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a
renda per capita cresceu 15 vezes. Este crescimento demoeconômico foi maior do
que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo
sapiens. Mas tudo isto foi realizado com a queima de combustíveis fósseis como
mostra o gráfico abaixo.
Com isto, as emissões
globais de CO2 estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram
para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano
2000 e atingiram 37 bilhões de toneladas em 2019. Em consequência, a
concentração de CO2 que estava abaixo de 280 partes por milhão (ppm) antes da
Revolução Industrial e Energética, iniciou uma trajetória de aumento
ininterrupto. A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 300 ppm em
1920, atingiu 310 ppm em 1950, 350 ppm em 1987, 400 ppm em 2015 e chegou a
411,4 ppm em 2019.
Como resultado do efeito
estufa, a temperatura da Terra aumentou, sendo que os últimos 6 anos foram os
mais quentes desde 1880. A temperatura de 2019 foi 0,95º C mais alta do que a
média do século XX. Mas em relação ao período pré-industrial a anomalia foi de
cerca de 1,2ºC. Na primeira metade do século XX as temperaturas estavam abaixo
da média do século e passaram a ficar bem acima da média na segunda metade do
século. Já no século XXI o aumento é ainda mais significativo, pois das 19
maiores temperaturas, 18 ocorreram entre 2001 e 2019 e 8 dos anos mais quentes
ocorreram na atual década.
A tendência do aumento da
temperatura entre 1880 e 2019 foi de 0,07ºC por década. A tendência entre 1950
e 2019 foi de 0,14ºC por década e entre 1999 e 2019 foi de 0,22ºC por década.
Mas o mais surpreendente é que a tendência 2009 a 2019 apresentou um aumento de
0,36ºC.
Por conta de todos estes dados,
Greta Thunberg disse em Davos, em 2019: “Nossa casa está pegando fogo”. Ela
deixou claro que a crise climática é a ameaça mais urgente do nosso tempo. E o
tempo para reverter o aquecimento global está se esgotando. No WEF de 2020
Greta reafirmou o que disse ano passado e foi além: “Nossa casa ainda está
pegando fogo e vocês estão jogando gasolina nas chamas!”. Os incêndios da
Austrália, mesmo com todas as suas dimensões catastróficas, são apenas uma pequena
amostra das dificuldades que vêm pela frente.
Em 2010, escrevi o artigo
“Vamos nos preparar para o fim do mundo (do petróleo)”, no Ecodebate
(27/07/2010) chamando a atenção para a necessidade de se preparar para o fim
dos combustíveis fósseis, promovendo uma mudança da matriz energética e
evitando um desastre ambiental.
Em 2020, Greta Thunberg exigiu
o fim do uso dos combustíveis fósseis e a emissão zero de CO2. O
Secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, tentou desqualificar a liderança
da adolescente sueca, dizendo que Greta deveria primeiro ter um diploma de
economia para depois falar sobre o fim dos combustíveis fósseis. Mas ela não se
perturbou e disse que não é necessário um diploma de economia para saber que o
“Orçamento Carbono” está se esgotando e que a produção e o subsídio aos
combustíveis fósseis não são compatíveis com a manutenção da temperatura global
abaixo de 1,5ºC. Ela fez um discurso muito incisivo e importante na 50ª edição
do WEF em Davos, como pode ser visto abaixo:
Discurso de Greta
Thunberg no Fórum Econômico de Davos, 21/01/2020 (tradução livre)
“Nossa
casa ainda está pegando fogo e vocês estão inflamando as chamas!
Há
um ano, vim a Davos e disse que nossa casa está pegando fogo. Eu disse que
queria que vocês entrassem em pânico. Fui avisada de que é muito perigoso fazer
com que as pessoas entrem em pânico com a crise climática. Mas não se
preocupem. Está bem. Confie em mim, eu já fiz isso antes e garanto que isso não
leva a nada.
E,
para constar, quando nós, crianças, pedimos para vocês entrarem em pânico, não
estamos dizendo para vocês continuarem como antes.
Não
estamos dizendo para vocês confiarem em tecnologias que nem existem hoje em
grande escala e que a ciência diz que talvez nunca existirá. Não estamos dizendo
para vocês continuarem falando sobre alcançar “emissões líquidas zero” ou
“neutralidade de carbono” enganando e mexendo com números.
Não
estamos dizendo para vocês “compensarem suas emissões” apenas pagando alguém
para plantar árvores em lugares como a África, enquanto ao mesmo tempo
florestas como a Amazônia estão sendo abatidas a uma taxa infinitamente maior.
Plantar
árvores é bom, é claro, mas não chega nem perto do que precisa ser feito, e não
pode substituir a mitigação real ou reselvagerizar a natureza.
Sejamos
claros. Não precisamos de uma “economia de baixo carbono”. Não precisamos
“reduzir as emissões”. Nossas emissões precisam parar, se quisermos ter uma
chance de permanecer abaixo da meta de 1,5°C. E até termos as tecnologias que
em escala possam reduzir nossas emissões, devemos esquecer o zero líquido –
precisamos de zero real.
Como
as metas líquidas distantes de emissão zero não significarão absolutamente nada
se continuarmos ignorando o orçamento de dióxido de carbono – que se aplica
hoje, não em datas futuras distantes. Se as altas emissões continuarem como
agora, mesmo por alguns anos, esse orçamento restante em breve será
completamente esgotado.
O
fato de os EUA deixarem o acordo de Paris parece indignar e preocupar a todos,
e deveria.
Mas
o fato de que estamos prestes a falhar nos compromissos que vocês assinaram no
Acordo de Paris não parece incomodar nem mesmo as pessoas no poder.
Qualquer
plano ou política que não inclua reduções radicais de emissão na fonte a partir
de hoje é completamente insuficiente para cumprir os compromissos de 1,5°C ou
muito abaixo de 2°C do Acordo de Paris.
E
novamente – não se trata de direita ou esquerda. Não poderíamos nos importar
menos com a política do seu partido.
Do
ponto de vista da sustentabilidade, a direita, a esquerda e o centro falharam.
Nenhuma ideologia política ou estrutura econômica foi capaz de lidar com a
emergência climática e ambiental e criar um mundo coeso e sustentável. Porque
esse mundo, caso você não tenha notado, está pegando fogo no momento.
Vocês
dizem que as crianças não devem se preocupar. Vocês dizem: ‘Deixe isso conosco.
Nós vamos resolver isso, prometemos que não vamos decepcioná-los. Não sejam tão
pessimistas’.
E
então – nada. Silêncio. Ou algo pior que o silêncio. Palavras vazias e
promessas que dão a impressão de que ações suficientes estão sendo tomadas.
Obviamente,
todas as soluções não estão disponíveis nas sociedades de hoje. Também não
temos tempo para esperar que novas soluções tecnológicas estejam disponíveis
para começar a reduzir drasticamente nossas emissões.
Então,
é claro, a transição não será fácil. Vai ser difícil. E, a menos que comecemos
a enfrentar isso agora juntos, com todas as cartas na mesa, não conseguiremos
resolver a tempo.
Nos
dias que antecederam o 50º aniversário do Fórum Econômico Mundial, entrei para
um grupo de ativistas climáticos que exigem que vocês, os líderes empresariais
e políticos mais poderosos e influentes do mundo, comecem a tomar as medidas
necessárias.
Exigimos
que, no Fórum Econômico Mundial deste ano, todas as empresas, bancos,
instituições e governos:
Interrompam
imediatamente todos os investimentos em exploração e extração de combustíveis
fósseis.
Finalizem
imediatamente todos os subsídios aos combustíveis fósseis.
E
façam imediatamente o desinvestimento em combustíveis fósseis.
Não
queremos que essas coisas sejam feitas até 2050, 2030 ou até 2021, queremos que
isso seja feito agora.
Pode
parecer que estamos pedindo muito. E vocês obviamente dirão que somos ingênuos.
Mas este é apenas o esforço mínimo necessário para iniciar a rápida transição
sustentável.
Então,
ou vocês fazem isso ou terão que explicar aos seus filhos por que estão
desistindo da meta de 1,5°C.
Desistir
sem sequer tentar.
Bem,
estou aqui para lhes dizer que, diferentemente de vocês, minha geração não
desistirá sem lutar.
Os
fatos são claros, mas ainda são muito desconfortáveis para vocês abordarem.
Vocês
desistem de abordar estes temas porque acham muito deprimente e que as pessoas
vão desistir. Mas as pessoas não vão desistir. Vocês são aqueles que estão
desistindo.
Na semana
passada, encontrei mineiros de carvão na Polônia que perderam o emprego porque
a mina estava fechada. E mesmo eles não desistiram. Pelo contrário, eles
parecem entender o fato de que precisamos mudar mais do que vocês.
Eu
me pergunto, o que vocês diriam a seus filhos sobre qual foi a razão de
fracassar e deixá-los diante do caos climático que vocês conscientemente
jogaram sobre eles? A meta de 1,5°C? Isto parecia tão ruim para a economia que
decidimos renunciar à ideia de garantir condições de vida futuras sem sequer
tentar?
Nossa
casa ainda está pegando fogo. Sua inação está alimentando as chamas a cada
hora. “Ainda estamos dizendo para vocês entrarem em pânico e agir como se vocês
amassem seus filhos acima de tudo”. (ecodebate)
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