Atuais emissões de gases de efeito estufa
podem levar a um aquecimento global de 3ºC.
As
atuais emissões de gases de efeito estufa podem levar a um aquecimento global
de 3ºC, o dobro do que foi estabelecido em acordo, diz a
especialista Thelma Krug. Para ela, o limite para o aquecimento é “quanto mais
baixo melhor”.
Thelma
é vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas
(IPCC, na sigla em inglês), organização científica criada no âmbito da
Organização das Nações Unidas (ONU). A instituição reuniu entre 28/01 à 01/02/20 na Universidade do Algarve, em Portugal, cerca de 260 especialistas
em alterações climáticas, numa reunião técnica para a elaboração do sexto relatório
de avaliação. No IPCC há três grupos de trabalho e em Faro está reunido o grupo
2, que analisa os impactos das alterações climáticas nos ecossistemas e nas
atividades humanas.
Especialista
na área de ambiente e florestas, Telma lembrou o relatório do IPCC de outubro
de 2018, que alertava para grandes alterações climáticas se os Estados deixarem
as temperaturas acima de 1,5ºC em relação à época pré-industrial, limite
definido no Acordo de Paris, sobre redução de emissões, como o patamar
desejável para a contenção do aquecimento global.
Segundo
ela, as contribuições determinadas por cada país “não estão numa trajetória de
limitar o aquecimento a um nível baixo”.
“Hoje,
se somarmos todas as contribuições que foram colocadas na mesa por todos os
países, estamos muito mais na trajetória de um aquecimento de 3ºC, praticamente
o dobro do que estaríamos buscando para minimizar os potenciais impactos” das
alterações climáticas, afirmou a vice-presidente do IPCC.
“O
que esperamos é que os países, ao serem confrontados com esse resultado,
entendam que têm de fazer mais, a mensagem que estamos dando é de que não está
sendo suficiente”, acrescentou.
A
especialista não quer fazer previsões, porque o futuro depende do nível de
aquecimento que seja alcançado. Ela tem a certeza, no entanto, de que “cada
bocadinho de aquecimento conta”, e que “os impactos que ocorrem com diferentes
níveis de aquecimento podem ser muito substantivos”.
Sem
otimismo, Thelma Krug lembra que já há espécies ou sistemas fragilizados para
os quais o futuro não é promissor. Lembra o degelo das grandes camadas do
Ártico, os corais que estão comprometidos e quase “levados à extinção”, e
reafirma que o objetivo tem de ser limitar o aquecimento. “Quanto mais baixo
melhor”.
De
acordo com a especialista, é essa a mensagem que o IPCC procura fazer chegar
aos governos, com dados sobre custos e impactos das alterações climáticas e a
mensagem de que o melhor é reduzir as emissões muito rapidamente.
Em
relação aos governos que ainda resistem às alterações climáticas, Thelma diz
que não comenta políticas de países, mas que o IPCC reconhece que há muito
trabalho a ser feito por governos locais e regionais.
“A
mensagem dos cientistas é muito clara, seria muito melhor que começássemos uma
grande transformação em todos os setores, no sentido de reduzir
significativamente as emissões de gases de efeito estufa”, afirmou,
acrescentando que as temperaturas já subiram um grau e que a situação atual é
“crítica”.
Limitar
o aquecimento global a 1,5ºC no final do século implica emissões zero de gases
em 2050, o que exigiria “um grande esforço já”.
Para
ela, se em 2050 não se chegar a essas emissões neutras de gases, vai ser mais
difícil e serão necessárias tarefas em larga escala, como grandes
reflorestamentos. O melhor, diz, seria “começar a pensar nas grandes
alternativas para a redução de emissões”.
O
relatório final será apresentado em outubro de 2021. Todas as contribuições dos
três grupos de trabalho do IPCC vão ser submetidas à aprovação dos governos no
próximo ano (grupo I em abril, grupo III em setembro e grupo II em outubro). No
ano seguinte será entregue um relatório-síntese com os resultados científicos
mais significativos dos três grupos de trabalho. (ecodebate)
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