Terras
indígenas emitem menos carbono que regiões sem proteção, revelam estudo.
Estudo
publicado na revista científica Proceedings
of the National Academy of Science, para medir as
emissões de carbono causadas pela degradação e pelo desmatamento – usando uma
tecnologia inovadora que combina imagens de satélite com dados de campo –,
sugere que as terras indígenas (TIs) e as áreas naturais
protegidas (ANPs) na Amazônia são menos propensas à perda de carbono por
degradação do que regiões desprotegidas.
Isso
ocorre porque a liberação de carbono resultantes de degradação em TIs e ANPs
são, em grande parte, compensadas pelo crescimento da vegetação florestal –
algo que não se verifica em terras sem proteção. Contudo, mesmo que mais
estável, a degradação em territórios indígenas e em áreas protegidas não havia
sido detectada anteriomente e, agora, essa perda é um fato preocupante.
No
artigo, os pesquisadores analisaram o impacto da degradação/perturbação em
quatro categorias de terras na Amazônia: TIs, ANPs, outras terras (sem
proteção) e sobreposições entre TIs e APNs. Eles descobriram que a expansão das
árvores ajudou os territórios indígenas a ter uma menor perda líquida de carbono,
remediando as emissões recém-detectadas – 90% do total dessas perdas são
provenientes de regiões fora das áreas protegidas.
Participaram
desse estudo cientistas, especialistas em política e líderes indígenas do Woods
Hole Research Center (WHRC), da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia
Amazônica (COICA), da Rede Amazônica de Informação Socioambiental (RAISG) e do
Fundo de Defesa Ambiental (EDF) e com a participação do Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia (IPAM).
Proteção sob ameaça
Juntas,
as TIs e as ANPs cobrem 52% da Amazônia e armazenam mais da metade do carbono
na região (58%). O estudo afirma que essas áreas protegidas estão cada vez mais
expostas a atividades ilegais e a fraquezas das leis e do Estado, colocando em
risco seu papel na proteção de paisagens cada vez mais vulneráveis. Essas
descobertas levaram os autores a alertarem para a importância dos direitos dos
povos indígenas, cujas terras cobrem 30% da Amazônia e detêm 34% de seu
carbono.
“Nosso
trabalho mostra que as florestas sob a proteção de povos indígenas e
comunidades locais continuam a ter melhores resultados no balanço de carbono do
que as terras sem proteção. Isso significa que, o que o papel dessas populações
é crítico e deve ser fortalecido para que os países da bacia amazônica consigam
manter esse recurso globalmente importante, enquanto cumpre seus compromissos
no Acordo de Paris”, disse Wayne Walker, cientista associado do WHRC e primeiro
autor do artigo.
Quase
90% dos territórios indígenas têm alguma forma de reconhecimento legal, mas os
pesquisadores observam que as concessões governamentais para a mineração e a
extração de petróleo se sobrepõem a quase 25% de todas as terras territoriais
reconhecidas na região, aumentando substancialmente a vulnerabilidade das TIs
das ANPs a impactos adversos.
“A
pesquisa revela o que os povos indígenas da Amazônia já estão relatando aos
seus líderes”, afirmou Tuntiak Katan, um dos autores e vice-coordenador da
COICA. “Os governos estão enfraquecendo a proteção ambiental, violando os
direitos às TIs existentes e incentivando a impunidade legal. A situação está
colocando em risco a existência de nossos povos e territórios, que contêm as
florestas mais densas em carbono do mundo”, completou.
O
artigo relata que as TIs e as ANPs continuam a ser uma resistência à
amplificação do desmatamento que ocorre além de suas fronteiras. Mas, ao
avaliar o impacto da degradação e da perturbação nessas terras, os autores
chamam atenção para a situação de risco dos povos indígenas, cujos líderes expõem
crescente impunidade por parte de garimpeiros, de fazendeiros e de madeireiros
ilegais.
Perdas e ganhos
O
estudo aponta que, durante o período de 2003 a 2016, a região amazônica era uma
fonte líquida de carbono para a atmosfera, liberando cerca de 1.290 milhões de
toneladas de carbono (MtC) – quando considerados perdas e ganhos. As
trajetórias de emissões de carbono durantes esses anos mostram aumentos entre
2012 e 2016 para todos os países amazônicos e categorias de terra, especialmente
fora de TIs e ANPs.
Das
quatro categorias de terras consideradas pelo artigo, as TIs tiveram a menor
perda líquida de carbono (-0,1%). Em ANPs, essa redução foi de -0,6% e, em
outras terras (sem proteção), de -3,6%. Os autores defendem que o crescimento
contínuo de florestas em territórios indígenas permitiu que essas terras
compensassem as emissões recém-descobertas de degradação/perturbação.
Ainda
assim, 47% da perda total de carbono em áreas protegidas como um todo foi
atribuída à degradação/perturbação. “Esse é um percentual preocupante, dada a
importância que as florestas tropicais têm no fornecimento de serviços
ecossistêmicos, além de seu papel na captura e armazenamento de carbono”, disse
Carmen Josse, coautora do relatório e diretora científica da Fundação
EcoCiencia, do Equador.
Terrenos
fora de TIs e ANPs (ou seja, “outras terras”) foram responsáveis por cerca de
70% das perdas totais de carbono e quase 90% da variação líquida. Por outro
lado, TIs e ANPs – em mais da metade da área terrestre – representaram apenas
10% da variação líquida, com 86% das perdas nessas terras compensadas por
ganhos com o aumento da floresta.
Os
pesquisadores analisaram perdas e ganhos de carbono no período entre 2003 e
2016, usando uma atualização dos dados originalmente publicados por Baccini et
al (2017; Science). Além disso, eles separaram as perdas atribuíveis
à conversão florestal (por exemplo, desmatamento) daquelas oriundas da
degradação humana e distúrbios naturais (ventos, secas intensas, efeito de borda,
etc). (ecodebate)
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