Por que os economistas não se
interessam pelas mudanças climáticas?
Os economistas dedicam-se
pouco a estudar o aquecimento global. Isso se deve à rejeição da economia
política e ao medo de não ver seus artigos publicados em periódicos de
prestígio.
A reportagem é de Christian Chavagneux, publicada por Alternatives Économiques, n. 397, edição de janeiro de 2020. A tradução é de André Langer.
“Lamentamos dizer que
acreditamos que os economistas estão se opondo à civilização humana”.
Os professores Andrew Oswald,
da Universidade
de Warwick, e Nicholas
Stern, da London School of Economics, não estão para brincadeira. Sua demonstração é direta: uma olhada no
número de artigos dedicados à mudança climática nas principais revistas
anglo-saxônicas comprova a falta de interesse da profissão pelo assunto. Pior
ainda, as razões sugeridas para explicar essa constatação mostram uma ciência
econômica trancada em um círculo vicioso.
Defasagem
Os cientistas fizeram sua
parte do trabalho: mostraram-nos que o nosso planeta está em perigo e que se
deve à atividade humana, precisamente sua atividade econômica. Agora sabemos
que a maneira como produzimos, trabalhamos e consumimos pode provocar danos
ambientais e humanos generalizados que podem comprometer a própria
existência do planeta e da humanidade.
Uma vez feita a observação,
quando tentamos determinar políticas que possam remediar essa situação,
passamos das ciências duras para as ciências sociais, dizem-nos os dois
professores. Desse ponto de vista, os economistas poderiam ser úteis na proposta de soluções para
o debate
democrático: quais são as
melhores ferramentas para avançar, como distribuir o ônus do financiamento da
luta contra o aquecimento climático entre ricos e pobres, entre os
diferentes países, etc. Mas aí está: os economistas profissionais tiram tiram
sarro do assunto.
O Quarterly Journal of Economics é a revista com a melhor classificação da
profissão. Desde a sua criação, no final do século XIX, ela publicou cerca de
4.700 artigos. Quantos desses artigos foram consagrados às mudanças
climáticas e à preservação da natureza? Nenhum! Outros cálculos conseguem localizar
cinco textos pertinentes, o que é pouco. Certamente, se ampliarmos o espectro
para mais de uma dúzia de revistas conceituadas entre economistas,
encontraremos cerca de sessenta artigos. Sobre um total de 77 mil, ou seja,
0,07% das publicações… “Um grande fracasso da nossa profissão”, exasperam-se os
dois autores.
Duas razões terríveis
Por que
os economistas negligenciam a questão mais crucial para o futuro da humanidade?
Oswald e Stern sugerem duas razões, que mostram as aporias nas
quais a ciência econômica contemporânea se meteu.
Por um lado, a necessidade de
redirecionar o comportamento econômico de pessoas e empresas tem um custo. Não
podemos nos contentar com pequenos cálculos e com o desenvolvimento de modelos
abstratos; os efeitos redistributivos são importantes, o que, na linguagem de
nossos dois especialistas, torna “a economia política central”. E eles vão
ainda mais longe: “devemos levar a sério a dimensão ética e de filosofia moral”
do assunto. Isso contraria um século de pensamento econômico, cujos principais
representantes sempre quiseram descartar os aspectos políticos e morais de suas
análises, interessando-se a economia segundo eles pelos meios, e não pelos
fins. Eis a disciplina capturada pela realidade.
Por outro lado, o
reconhecimento dos economistas depende,
atualmente, de sua capacidade de publicar artigos em grandes periódicos
respeitáveis. O que o vencedor do prêmio do Banco da Suécia em economia, James J. Heckman, e um colega chamaram de “tirania do top 5”, uma situação que eles contestam energicamente.
Entre os argumentos apresentados está o seguinte: esse pequeno grupo de
revistas favorece a reprodução de ideias já publicadas. “Os artigos
verdadeiramente inovadores não sobrevivem às provas de seleção do mainstream, que prefere a “ciência normal” à “nova ciência”.
Depois encontramos a observação de Oswald e Stern: “Os economistas universitários estão obcecados
pelo fato de publicar em si e agradar o comitê de potencial seleção. Pensamos
que a razão pela qual poucos economistas escrevem sobre mudanças climáticas é
que outros economistas não escrevem sobre mudanças climáticas!” Um processo
autoinstituído de status
quo que dificulta a
publicação quando se olha para as evoluções do mundo. Até mesmo Joseph
Stiglitz, amplamente reconhecido por seus colegas, teve que publicar seus
trabalhos sobre o meio ambiente em uma revista europeia!
A mesma observação foi feita
há alguns anos: antes da crise dos subprime, era difícil
publicar artigos sobre instabilidade financeira, pois não era um assunto! O
mesmo processo se repete todas as vezes entre os economistas dominantes. Apesar
de todo o trabalho dos cientistas, a maneira como a ciência econômica foi construída durante várias décadas impede-a
majoritariamente – a França parece
melhor deste ponto de vista – de se interessar pela questão mais crucial para a
humanidade. (ecodebate)
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