Este
gráfico, com base na comparação de amostras da atmosfera contida em núcleos de
gelo e medições diretas mais recentes, fornece evidências de que o CO
atmosférico 2 tem aumentado desde a revolução industrial. (Crédito: Luthi, D.,
et al. 2008; Etheridge, DM, et al. 2010; dados do núcleo de gelo Vostok / JR
Petit et al .; registro de CO2 NOAA Mauna Loa)
A estrutura mundial de
produção e consumo de bens e serviços entrou em coma, vítima de vírus
insidioso, grão de areia que emperrou o funcionamento da sociedade termo
industrial.
A Covid-19 gerou uma crise
econômica e social sem precedentes em tempos de paz. A vulnerabilidade da
globalização ficou escancarada por um organismo vivo infinitamente pequeno e
rápido no gatilho.
Sob a orientação da OMS –
Organização Mundial da Saúde, os países tomaram medidas sanitárias drásticas
para deter a pandemia. O confinamento afetou a economia de metade dos
habitantes do planeta. Em que pese a tragédia humana, o tratamento de choque se
revelou benéfico para o meio ambiente. Houve imediata e involuntária melhoria
da qualidade do ar, graças à paralização das máquinas térmicas movidas a
energia fóssil.
Ecologistas e pesquisadores
se apressaram para extrair ensinamentos das medidas de contenção da pandemia
que eventualmente possam contribuir para circunscrever as mudanças climáticas.
A melhora da qualidade do ar
foi o principal benefício ambiental. Verificou-se a redução de dois tipos de
danos à atmosfera. O primeiro foi a baixa das emissões do dióxido de carbono –
CO2, principal gás de efeito estufa – GEE, substância não tóxica,
cujo impacto na natureza é de caráter global. O segundo diz respeito à
diminuição da concentração de poluentes tóxicos no ar das aglomerações urbanas
submetidas ao confinamento e cujo impacto é local e regional. Trata-se de um
conjunto de poluentes composto de SO2, NOx, PM2.5, COV, CH4,
CO, Pb, Hg…
A melhora do ar permitiu aos
habitantes do Punjab ver novamente a cordilheira do Himalaia que havia
desaparecido no horizonte. A redução do ruído e da circulação nas cidades fez
com que os citadinos ouvissem o canto esquecido dos pássaros e presenciassem
animais antes arredios ocuparem o espaço urbano – ninhadas de marrecos do Sena
passeando alegremente pelo Quartier Latin, em Paris.
Os efeitos benéficos ao meio
ambiente foram estimados. A poluição tóxica do ar reduziu-se de 25% a até 40%,
conforme a aglomeração urbana estudada o que evitou cerca de 60 mil mortes na
China e 11 mil na Europa. Sabe-se que a poluição mata 8,8 milhões de pessoas no
planeta por ano – 1,1 milhão na China, 45 mil no Brasil. Quanto às emissões
mundiais de CO2, elas devem diminuir entre 5% e 6% em 2020. A queda
do PIB mundial também é estimada em torno de 5%.
Segundo o Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC, para conter o aquecimento
global a um nível administrável, a temperatura média do planeta não poderá
ultrapassar 2º C em 2100.
Para alcançar esse objetivo é
preciso reduzir as emissões mundiais atuais de GEE por um fator três até 2050
(30 anos). Isso significa reduzi-las até 2050 em torno de 4% ao ano, em relação
ao ano anterior.
Ora, a queda dessas emissões,
em 2020, será da ordem de 5% em razão da pandemia. Ou seja, uma redução de GEE
equivalente aos valores recomendados pelo IPCC. Seria como se tivéssemos
interrompido o funcionamento das máquinas térmicas supérfluas do planeta
durante dois ou mais meses ao ano, sem necessidade de confinamento e
distanciamento social.
Como é possível constar,
reduzir as emissões de GEE significa aplicar medidas econômicas regressivas.
Também significa que não haverá solução ao colapso ecológico enquanto houver
crescimento. Mas, a crise do Covid-19 não nos prepara para enfrentar os desequilíbrios
climáticos.
Reduzir emissões em 4% é um
desafio gigantesco. O repto climático ultrapassa em muito a crise sanitária
atual. Além de exigir uma adaptação controlada e organizada desde agora,
implica em alocar vultosos recursos em longo prazo – ações necessárias que,
infelizmente, não estão na ordem do dia.
Crise sanitária e adaptação da sociedade às mudanças climáticas têm pouco em comum, exceto o fato de serem um fenômeno mundial.
Crise sanitária e adaptação da sociedade às mudanças climáticas têm pouco em comum, exceto o fato de serem um fenômeno mundial.
A pandemia paralisou
temporariamente o aparato de produção e consumo, enquanto que a segunda
pretende transformá-lo radicalmente. A melhoria da qualidade ambiental
temporária foi obra da paralisia econômica mundial e não resultou de uma
política ecológica. A estrutura produtiva da sociedade termo industrial resta
intacta, não foi destruída por bombas. Está pronta para funcionar ao primeiro
sinal.
Políticas de estímulo econômico estão previstas para terem inicio logo após o fim da contenção, através de financiamentos jamais vistos. A queda temporária nos preços do petróleo será um estímulo às energias fósseis. Em nome da recuperação econômica, haverá suspensão e adiamento de regulações restritivas aos danos ambientais. A retomada do crescimento, nesses moldes, poderá nos conduzir a um retrocesso ecológico. Superada a pandemia, os danos à biosfera seguirão a nefasta trajetória anterior.
Políticas de estímulo econômico estão previstas para terem inicio logo após o fim da contenção, através de financiamentos jamais vistos. A queda temporária nos preços do petróleo será um estímulo às energias fósseis. Em nome da recuperação econômica, haverá suspensão e adiamento de regulações restritivas aos danos ambientais. A retomada do crescimento, nesses moldes, poderá nos conduzir a um retrocesso ecológico. Superada a pandemia, os danos à biosfera seguirão a nefasta trajetória anterior.
A questão sanitária pode ser
definida como uma crise, pois supõe que a sociedade retornará ao status quo
ante.
Este não é o caso das mudanças climáticas: o fenômeno ecológico está presente entre nós e veio para ficar. Ele prospera gradativamente – elevação da temperatura, acidificação dos oceanos, aumento do nível do mar, derretimento de geleiras, perda de biodiversidade e eventos extremos como secas, inundações e ciclones.
Para contrapor esse cenário de desregulação ecológica, necessitamos criar uma nova realidade, a qual terá repercussões em todos os aspectos da vida em sociedade. Ainda não sabemos como fazê-la, da mesma maneira que não sabemos como planejar em um quadro recessivo – afinal, concebemos o crescimento como infinito.
Este não é o caso das mudanças climáticas: o fenômeno ecológico está presente entre nós e veio para ficar. Ele prospera gradativamente – elevação da temperatura, acidificação dos oceanos, aumento do nível do mar, derretimento de geleiras, perda de biodiversidade e eventos extremos como secas, inundações e ciclones.
Para contrapor esse cenário de desregulação ecológica, necessitamos criar uma nova realidade, a qual terá repercussões em todos os aspectos da vida em sociedade. Ainda não sabemos como fazê-la, da mesma maneira que não sabemos como planejar em um quadro recessivo – afinal, concebemos o crescimento como infinito.
A tarefa é enorme.
Descarbonizar a sociedade, substituir as energias fósseis por energias eólica e
fotovoltaica é um caminho. Embora não haja clareza se será possível substituir
– em parte ou em totalidade, quando, em quais prazos – por energias renováveis
os 14,3 bilhões de toneladas de energia fóssil consumidas anualmente no
planeta. Nem indicam qual energia será empregada na produção anual e atual de
4,6 e 1,8 bilhões de tonelada de cimento e aço, respectivamente. Nem tampouco
se haverá aumento ou redução do PIB. Sem falar de outras medidas necessárias,
como reduzir a população das grandes cidades, voltar ao campo, diminuir os
deslocamentos, aproximar produção e consumo, preservar a biodiversidade,
assegurar a renovabilidade de recursos naturais, diminuir e reciclar o uso de
matérias primas… Há quem defenda que basta substituir as energias fósseis por
renováveis.
O princípio fundamental do
caminho ecológico será distinguir o essencial do supérfluo. Aceitar o
crescimento do essencial e restringir o do supérfluo. Construir uma sobriedade
compartilhada. Trata-se de um projeto ecológico que preserve a capacidade da
natureza de sustentar uma existência coletiva sóbria entre os seres vivos e
inanimados e que não seja nem precária, nem perigosa.
Dispomos de pouco tempo para nos adaptar de maneira programada e progressiva. E nos lembrar que a Terra tem apenas 13 mil quilômetros de diâmetro, distância entre São Paulo e Paris, minúsculo planeta que estará do mesmo tamanho em milhares de anos. Enfim, não somos “maîtres et possesseurs de la nature” como cogitou Descartes.
Dispomos de pouco tempo para nos adaptar de maneira programada e progressiva. E nos lembrar que a Terra tem apenas 13 mil quilômetros de diâmetro, distância entre São Paulo e Paris, minúsculo planeta que estará do mesmo tamanho em milhares de anos. Enfim, não somos “maîtres et possesseurs de la nature” como cogitou Descartes.
Poluição do ar cai à medida
que o coronavírus desacelera as viagens, mas cientistas alertam para ameaça de
longo prazo ao progresso das mudanças climáticas. (ecodebate)
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