Desmatamento no Cerrado afeta
o clima e pode reduzir a produção de milho no Brasil.
Como o desmatamento e a
agricultura estão alterando o clima do Cerrado.
Deforestation in the Cerrado affects the climate and may reduce corn
production in Brazil.
O Brasil é um dos três
principais produtores mundiais de soja e milho, e seu setor agrícola é
responsável por um quinto da economia do país. As práticas de desmatamento e
limpeza de terras têm sido associadas a reduções na biodiversidade e aumentos
de temperatura, fluxo de corrente, ocorrência de incêndios e emissões de
dióxido de carbono.
Segundo um estudo de
Dartmouth publicado na Nature Sustainability, essas práticas de limpeza de
terras no Brasil também estão alterando o clima e podem reduzir
significativamente a produção de milho.
O estudo examina o Cerrado,
um bioma localizado no coração do Brasil, onde a maioria da soja e milho para
exportação é cultivada. O Cerrado brasileiro é muito menos protegido que a
Amazônia. Pesquisas anteriores descobriram que a Amazônia está sendo salva às
custas do Cerrado. Se você possui terras na Amazônia, legalmente, é obrigado a
proteger 80% das terras; no entanto, se você possui terras no Cerrado,
precisará proteger apenas 20% da terra. Como resultado, apenas 3% de todo o
Cerrado é protegido legalmente.
Para examinar os impactos do
agronegócio e das mudanças climáticas nas principais áreas agrícolas do Brasil,
os pesquisadores usaram um modelo climático regional do Centro Nacional de
Pesquisa Atmosférica. Eles executaram o modelo durante um período de 15 anos,
de 2000 a 2015, usando seis cenários diferentes de cobertura da terra: Brasil
antes do desmatamento, Brasil com desmatamento observado em 2016, Cerrado com
apenas soja cultivada em uma estação (cultivo único), Cerrado com soja e milho
cultivados na mesma estação (corte duplo) e desmatamento na Amazônia são
estados com corte único e corte duplo. Nesta região, a soja é plantada como a
colheita primária e o milho é a colheita secundária.
A equipe comparou cada um dos
cenários ao Brasil antes da limpeza da terra. Eles examinaram diferentes
variáveis, incluindo a evapotranspiração – quanta água é reciclada de volta
para a atmosfera, o início e o final da estação chuvosa, as chuvas do Cerrado e
da Amazônia e os limites críticos de temperatura agrícola.
Soja e milho no Brasil dependem
de chuvas. Apenas 6% das terras cultivadas no Brasil são irrigadas. Menos
árvores devido ao desmatamento reduzem a evapotranspiração, que diminui a água
reciclada de volta na atmosfera e pode levar a menos chuvas.
Para investigar como as mudanças climáticas
devido ao desmatamento afetam a produção de soja e milho, os pesquisadores
usaram um modelo estatístico de colheita baseado nas relações observadas entre
clima e produtividade. Para que o milho prospere, as noites devem ser frias.
Noites acima de 24°C (referidas neste estudo como “noites quentes”) podem
danificar o milho.
Por que o futuro do
agronegócio depende da preservação do meio ambiente no Brasil.
O estudo fornece evidências
de que o desmatamento degradou o clima no Cerrado brasileiro, uma região que
depende da produção de sequeiro. Os dados revelaram as seguintes conclusões
principais:
* Todos os cenários de
limpeza de terras continham significativamente mais dias de estação de
crescimento com temperaturas superiores à temperatura crítica para o cultivo
bem-sucedido de milho.
* Com as reduções nas taxas
de evapotranspiração, o balanço água / energia é afetado significativamente em
todos os cenários de limpeza do solo, principalmente durante períodos
importantes de desenvolvimento da colheita.
* Os resultados demonstraram
que, com noites mais quentes (24°C), a produção de milho foi reduzida de 6 a 8%
quando comparada com os anteriores cenários de limpeza de terras. O cenário
mais conservador de limpeza de terras demonstrou que havia oito noites mais
quentes do que antes da limpeza, em comparação com 20 a 30 noites mais quentes
no cenário mais extremo. Os rendimentos da soja não foram afetados, mas a soja
é muito mais resistente a temperaturas mais altas.
“Nossas descobertas revelam como
as práticas de desmatamento no Cerrado brasileiro está minando a produção
agrícola de sequeiro, que é uma das principais razões pelas quais o Cerrado é
desmatado”, explicou a coautora Stephanie A. Spera, professora assistente de
geografia e ambiente na Universidade de Richmond, que era pós-doutorado no
Instituto Neukom de Ciência da Computação em Dartmouth na época do estudo.
Sob o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o
desmatamento no Brasil é o mais alto desde 2008, já que o desmatamento na
Amazônia aumentou 55% de janeiro a abril de 2019, em comparação com o mesmo
período do ano anterior, e as ações de fiscalização do desmatamento são
bastante reduzidas. A pandemia do COVID-19 reduziu ainda mais a fiscalização do
desmatamento. “A Amazônia e o Cerrado menos conhecido são incrivelmente
vulneráveis aos impactos do clima. Quanto tempo essas regiões serão capazes de
sustentar a produção agrícola sob a mudança do uso da terra é uma questão
essencial para o Brasil e o suprimento mundial de alimentos”, acrescentou
Spera.
Desmatamento e ocupação
desordenada ameaçam conservação do Cerrado. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário