terça-feira, 25 de agosto de 2020

As projeções demográficas e o futuro da população mundial

“A população mundial precisa ser estabilizada e, idealmente, reduzida gradualmente”.

Alerta dos cientistas mundiais sobre a emergência climática (05/11/2019).

A revista The Lancet publicou em 14/07/2020 um artigo que apresenta novas projeções para a população mundial e para os diversos países. Os pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington (IHME, na sigla em inglês) apresentam números para a população humana do Planeta em 2100 que são menores do que o cenário médio apresentado ano passado pela Divisão de População da ONU (que é a referência maior nesta área de projeções demográficas). Para Vollset, et. al. (14/07/2020) o maior nível educacional das mulheres e o maior acesso aos métodos contraceptivos acelerarão a redução das taxas de fecundidade, gerando um crescimento demográfico global mais lento.

Se este cenário acontecer de fato será um motivo de comemoração, pois a redução do ritmo de crescimento demográfico não aconteceria pelo lado da mortalidade, mas sim pelo lado da natalidade e, principalmente, em decorrência do empoderamento das mulheres, da universalização dos direitos sexuais e reprodutivos e do aumento do bem-estar geral dos cidadãos e cidadãs da comunidade internacional.

De modo geral, a imprensa tratou as novas projeções como uma grande novidade dizendo que a população mundial não ultrapassará 10 bilhões de pessoas até o final do século e que, no caso do Brasil a população apresentará uma queda de 50 milhões de pessoas na segunda metade do corrente século.

Na verdade nada disto é novidade, pois a possibilidade de uma população bem abaixo de 10 bilhões já estava presente. Diante das incertezas, normalmente, se elabora cenários para o futuro com amplo leque de variação. A Divisão de População da ONU tem vários números para o montante de habitantes em 2100, que variam entre 7 bilhões e 16 bilhões. O gráfico abaixo, apresentado no Twitter, pelo demógrafo Patrick Gerland, da ONU, faz uma comparação entre os diferentes cenários da ONU, do IIASA e do IHME.
Projeções do IHME não trazem nada de novo em relação aos cenários mais baixos das projeções da ONU, apenas assumem, que os cenários de maior queda das taxas de fecundidade são as hipóteses mais prováveis. Os autores (Vollset, et. al. 2020) assumem que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU serão efetivos para melhorar a qualidade de vida em geral e que haverá um amplo avanço da educação e da saúde no mundo. Seria ótimo se isto se tornar verdadeiramente uma realidade.

Mas o fato é que os cenários demográficos para 2100 apresentados pela Divisão de População da ONU são mais bem elaborados do que as projeções do IHME. No cenário mais provável da Divisão de População, o número de habitantes ficaria em torno de 9 bilhões em 2100, mas na hipótese baixa seria algo em torno de 7 bilhões de habitantes no final do século.

Do ponto de vista da qualidade de vida humana e ambiental, quanto menos gente houver no mundo melhor. Como disse o respeitado ambientalista David Attenborough: “Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais fáceis de resolver com menos gente e mais difíceis e, em última instância, impossíveis de resolver com cada vez mais pessoas”.

A questão é que não vai ser fácil colocar em prática os ODS da Agenda 2030 da ONU, pois há uma tendência de estagnação secular na economia e existem muitas forças pronatalistas que atuam junto ao conservadorismo moral e o fundamentalismo religioso no sentido de barrar os direitos sexuais e reprodutivos. O Brasil, do governo Bolsonaro, tem atuado nos fóruns internacionais no sentido de restringir os direitos reprodutivos e os direitos das mulheres.

Por conta disto, 11 mil cientistas divulgaram ano passado o documento “World Scientists’ Warning of a Climate Emergency” (BioScience, 05/11/2019) onde afirmam: “O crescimento econômico e populacional está entre os mais importantes fatores do aumento das emissões de CO2 em decorrência da combustão de combustíveis fósseis”(RIPPLE, WJ. et. al. 05/11/2019).

Felizmente, o Brasil apresenta um cenário médio de redução da população em 2100. O gráfico abaixo mostra que na hipótese alta (pouco provável) a população brasileira chegaria a 273 milhões em 2100. Na hipótese média (a mais provável) a população chegaria a 181 milhões. E na hipótese baixa (também menos provável) chegaria a 114 milhões.
Em síntese, o cenário de decrescimento da população é positivo. O documento dos cientistas diz: “Ainda crescendo em torno de 80 milhões pessoas por ano, ou mais de 200.000 por dia, a população mundial precisa ser estabilizada – e, idealmente, reduzida gradualmente – dentro de uma estrutura que garante a integridade social. Existem políticas comprovadas e eficazes que fortalecem os direitos humanos enquanto diminui as taxas de fecundidade e diminui os impactos do crescimento populacional sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e sobre a perda de biodiversidade. Estas políticas devem tornar os serviços de planejamento familiar disponíveis para todas as pessoas, removendo barreiras ao seu acesso e buscando alcançar equidade total de gênero, inclusive estabelecendo o ensino primário e secundário como uma norma para todas as pessoas, especialmente meninas e mulheres jovens”

Desta forma, as projeções que indicam uma redução da população trazem alguma esperança para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e das demais espécies vivas da Terra. Porém, isto só vai ocorrer, na prática, se houver esforço geral e consciência da necessidade do respeito aos direitos humanos e dos direitos ambientais. (ecodebate)

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