“É necessário um
internacionalismo robusto para dar uma atenção adequada e imediata aos perigos
de extinção: extinção por guerra nuclear, por catástrofe climática e por
colapso social. As tarefas pela frente são colossais e não podem ser adiadas”,
escrevem Noam Chomsky, linguista e filósofo estadunidense, e Vijay Prashad,
jornalista e historiador indiano, artigo publicado em 19/01/2021.
Grandes partes do mundo –
fora a China e alguns outros países – enfrentam um vírus descontrolado, que não
foi detido devido à incompetência criminosa dos governos. O fato desses
governos em países ricos desconsiderarem hipocritamente os protocolos
científicos básicos publicados pela Organização Mundial da Saúde e por
organizações científicas revela sua prática maliciosa.
Para o bem da humanidade,
seria sensato suspender as normas de propriedade intelectual e desenvolver um
procedimento para criar vacinas universais para todos os povos – Noam Chomsky e
Vijay Prashad
Qualquer coisa que não seja
centrar a atenção no gerenciamento do vírus por meio de testes, rastreabilidade
de contato e isolamento – e se isso não for suficiente, impor um bloqueio
temporário – é imprudente. É igualmente preocupante que esses países ricos
tenham adotado uma política de “nacionalismo da vacina“, monopolizando
candidatas à vacina em vez de se alinharem a uma política de criação de uma
“vacina dos povos“. Para o bem da humanidade, seria sensato suspender as normas
de propriedade intelectual e desenvolver um procedimento para criar vacinas
universais para todos os povos.
Pandemia é o principal tema
em nossas mentes, existem outras grandes ameaças à longevidade de nossa espécie
e do planeta.
Aniquilação nuclear
Em janeiro de 2020, o
Bulletin of the Atomic Scientists (Boletim dos Cientistas Atômicos) fixou o
Relógio do Juízo Final de 2020 em 100 segundos para a meia-noite, perto demais
para a comodidade. O relógio, criado dois anos após o desenvolvimento das
primeiras armas atômicas em 1945, é avaliado anualmente pelo Conselho de
Ciência e Segurança do Boletim, em consulta ao seu Conselho de Patrocinadores,
que decide se move o ponteiro dos minutos ou deixa no mesmo lugar.
Os já limitados tratados de
controle de armas estão sendo destruídos, enquanto as principais potências possuem
cerca de 13.500 armas nucleares – Noam Chomsky e Vijay Prashad
Quando voltarem a fixar a
hora, provavelmente estaremos mais perto da aniquilação. Os já limitados
tratados de controle de armas estão sendo destruídos, enquanto as principais
potências possuem cerca de 13.500 armas nucleares (mais de 90% delas estão
apenas nas mãos da Rússia e dos Estados Unidos). O desempenho dessas armas
poderia facilmente tornar este planeta ainda mais inabitável. A Marinha dos
Estados Unidos já utilizou ogivas nucleares táticas W76-2 de baixo desempenho.
O Dia de Hiroshima, comemorado todo dia 6 de agosto, deve se tornar um dia mais
importante de reflexão e protesto.
Catástrofe climática
Em 2018, surgiu um artigo
científico com um título impactante: “A maioria dos atóis estará inabitável em
meados do século XXI, pois o aumento do nível do mar aumentará as inundações
causadas pelas tempestades“. Os autores concluíram que os atóis das Seychelles
às ilhas Marshall correm o risco de desaparecer.
Um relatório da ONU de 2019
estimou que um milhão de espécies de animais e plantas estão em perigo de
extinção. A isso se somam os catastróficos incêndios florestais e o grave
branqueamento dos recifes de coral e fica claro que não precisamos mais ficar
nos clichês de que uma coisa ou outra é o canário na mina da catástrofe
climática: o perigo não está no futuro, mas no presente.
É fundamental que grandes
potências que continuam falhando em deixar de usar combustíveis fósseis se
comprometam com o enfoque de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” da
Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992. É
significativo que países como a Jamaica e a Mongólia tenham atualizado seus
planos climáticos perante as Nações Unidas antes do final de 2020, conforme exigido
pelo Acordo de Paris, apesar desses países produzirem uma fração minúscula das
emissões globais de carbono.
Fundos que foram prometidos à
países em desenvolvimento para a sua participação no processo praticamente
evaporaram, enquanto a dívida externa aumentou exponencialmente. Isso mostra
uma falta básica de seriedade por parte da “comunidade internacional”.
Países não serão julgados por palavras escritas em suas constituições, mas por seus orçamentos anuais – Noam Chomsky e Vijay Prashad.
Destruição neoliberal do contrato social
Países da América do Norte e
da Europa destruíram sua função pública na medida em que o Estado foi sendo
entregue aos especuladores e a sociedade civil foi mercantilizada por meio de
fundações privadas. Significa que os caminhos de transformação social nessas
partes do mundo têm sido grotescamente obstaculizados. Terrível desigualdade
social é o resultado da relativa fragilidade política da classe trabalhadora.
Éssa fragilidade que permite aos bilionários definir políticas que aumentam as
taxas de fome.
Os países não devem ser
julgados pelas palavras escritas em suas constituições, mas por seus orçamentos
anuais. Os Estados Unidos, por exemplo, gastam quase um trilhão de dólares
(caso o orçamento estimado para inteligência seja somado) em sua máquina de
guerra, enquanto gastam apenas uma fração em bens e serviços públicos (como
saúde, algo evidente durante a pandemia). A política externa dos países
ocidentais parece ser bem lubrificada por negócios de armas: os Emirados Árabes
e Marrocos concordaram em reconhecer Israel com a condição de que possam
comprar US$ 23 bilhões e 1 bilhão em armas feitas nos Estados Unidos,
respectivamente. Os direitos do povo palestino, saharauis e iemenitas não
importaram para estes acordos.
O uso de sanções ilegais
pelos Estados Unidos contra trinta países, entre eles Cuba, Irã e Venezuela,
tornou-se parte da vida normal, mesmo durante esta crise de saúde pública
global desencadeada pela pandemia. É um fracasso do sistema político que as populações
do bloco capitalista sejam incapazes de obrigar seus governos – que em muitos
casos são democracias apenas no papel – a adotarem uma perspectiva global
diante dessa emergência.
Aumento de taxas de fome
revela que a luta pela sobrevivência é o horizonte para bilhões de pessoas no
planeta – Noam Chomsky e Vijay Prashad.
O aumento das taxas de fome
revela que a luta pela sobrevivência é o horizonte para bilhões de pessoas no
planeta (tudo isso enquanto a China consegue erradicar a pobreza absoluta e eliminar,
em grande parte, a fome).
A aniquilação nuclear e a
extinção devido à catástrofe climática são ameaças gêmeas para o planeta.
Enquanto isso, para as vítimas do ataque neoliberal, que foi uma praga para a
última geração, os problemas de curto prazo para sustentar sua própria
existência deslocam questões fundamentais sobre o destino de nossos filhos e
netos.
Os problemas globais nesta
escala requerem a cooperação global. Pressionadas por países do Terceiro Mundo,
nos anos 1960, as grandes potências aceitaram o Tratado de Não Proliferação de
Armas Nucleares/1968, embora tenham rejeitado a profundamente importante
Declaração sobre o Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica
Internacional/1974. Já não existe a correlação de forças para promover esse tipo
de agenda de classe no cenário internacional.
Certas dinâmicas políticas nos países ocidentais, em particular, mas também em grandes estados do mundo em desenvolvimento (Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul), são necessárias para mudar o caráter de seus governos. É necessário um internacionalismo robusto para dar uma atenção adequada e imediata aos perigos de extinção: extinção por guerra nuclear, por catástrofe climática e por colapso social. As tarefas pela frente são colossais e não podem ser adiadas.
3 maiores ameaças à vida na Terra que abordaremos em 2021.
Um internacionalismo robusto
é necessário para levar atenção adequada e imediata aos perigos da extinção:
extinção por guerra nuclear, pela catástrofe climática, e pelo colapso social.
(ecodebate)
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