“A floresta precede
os povos. E o deserto os segue” - François-René Chateaubriand (1768-1848).
O mundo tem cada vez mais
gente e cada vez menos árvores. O artigo “Deforestation and world population
sustainability: a quantitative analysis”, publicado na revista Nature (Bologna,
Aquino, 06/05/2020) mostra a insustentabilidade do crescimento demográfico
global e conclui: “Com base nas taxas atuais de consumo de recursos e na melhor
estimativa de crescimento da taxa tecnológica, nosso estudo mostra que temos
uma probabilidade muito baixa, menos de 10% na estimativa mais otimista, de
sobreviver sem enfrentar um colapso ambiental catastrófico”.
De fato, a população mundial teve um crescimento
exponencial impressionante nos últimos 12 mil anos (Holoceno), passando de 4
milhões de habitantes 10 mil anos antes de Cristo para 190 milhões no ano 1 da
era cristã, chegando a cerca de 1 bilhão em 1800 e devendo atingir 8 bilhões de
habitantes em 2023, conforme mostra o gráfico abaixo. Em 100 anos,
aproximadamente, a população humana deu um salto de 2 bilhões para 8 bilhões de
habitantes, sendo que o crescimento do consumo foi muito maior. Desta forma, o
mundo que tinha superávit ambiental passou a ter déficit ambiental a partir de
1970, com a pegada ecológica crescendo bem acima dos limites da biocapacidade
da Terra, como mostra o gráfico menor na figura abaixo.
O crescimento demoeconômico dos
últimos séculos tem sido mortal para o meio ambiente. Havia 6 trilhões de
árvores no mundo no passado (Bastin et. al. 05/07/2019). Mas a humanidade
destruiu a metade das florestas desde o crescimento exponencial da população e
da economia a partir da Revolução Industrial e Energética. O número de árvores
no mundo hoje em dia está em torno de três trilhões de unidades. Mas o pior é
que os seres humanos estão destruindo 15 bilhões de árvores por ano, enquanto o
aparecimento de novas árvores e o reflorestamento é de somente 5 bilhões de
unidades. Ou seja, o Planeta está perdendo 10 bilhões de árvores por ano e pode
eliminar todo o estoque de 3 trilhões de árvores em menos de 300 anos.
No artigo de Bologna e Aquino
(Nature, 06/05/2020), os autores consideram que o desmatamento global, devido
às atividades antrópicas, está a caminho de desencadear um “colapso
irreversível” da civilização humana nas próximas duas a quatro décadas. Se
continuarmos destruindo e degradando as florestas do mundo, a Terra não será mais
capaz de sustentar uma grande população humana. Eles dizem que se a taxa de
desmatamento continuar, “todas as florestas desapareceriam aproximadamente em
100–200 anos”.
É claro que não é realista
imaginar que a sociedade humana só passaria a ser afetada pelo desmatamento
quando a última árvore fosse cortada. Na prática, essa trajetória faria com que
o colapso da civilização humana ocorresse muito mais cedo devido aos crescentes
impactos do desmatamento nos sistemas de suporte à vida planetários necessários
para a sobrevivência humana – incluindo armazenamento de carbono, produção de
oxigênio, conservação do solo, regulação do ciclo da água, suporte para
recursos naturais sistemas alimentares humanos e lares para inúmeras espécies.
Mas como mostrou Helen Briggs (BBC, 26/01/2021) é preciso planejar o plantio
das árvores e a preservação das florestas.
Na ausência desses serviços
críticos, “é altamente improvável que se imagine a sobrevivência de muitas
espécies, inclusive a nossa, na Terra sem florestas”, aponta o estudo.
Acompanhando a taxa atual de
crescimento populacional em relação à taxa de desmatamento, os autores
descobriram que “estatisticamente, a probabilidade de sobreviver sem enfrentar
um colapso catastrófico é muito baixa”. O melhor cenário é que temos menos de
10% de chance de evitar o colapso.
Para concluir o artigo, Bologna e Aquino dizem:
“Em conclusão, nosso modelo mostra que um colapso catastrófico da população
humana, devido ao consumo de recursos é o cenário mais provável da evolução
dinâmica com base nos parâmetros atuais. Adotando um modelo combinado
determinístico e estocástico, concluímos do ponto de vista estatístico que a
probabilidade de nossa civilização sobreviver é inferior a 10% no cenário mais
otimista”.
Os cálculos mostram que,
mantendo a taxa real de crescimento populacional e consumo de recursos, em
particular o consumo da floresta, temos algumas décadas restantes antes de um
colapso irreversível de nossa civilização. Para agravar a situação, ressaltamos
mais uma vez que não é realista pensar que o declínio da população em situação
de forte degradação ambiental seria um declínio não caótico e bem ordenado.
Esta consideração leva a um tempo restante ainda mais curto. (ecodebate)
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