domingo, 7 de março de 2021

Desmatamento e insustentabilidade da população mundial

“A floresta precede os povos. E o deserto os segue” - François-René Chateaubriand (1768-1848).
O mundo tem cada vez mais gente e cada vez menos árvores. O artigo “Deforestation and world population sustainability: a quantitative analysis”, publicado na revista Nature (Bologna, Aquino, 06/05/2020) mostra a insustentabilidade do crescimento demográfico global e conclui: “Com base nas taxas atuais de consumo de recursos e na melhor estimativa de crescimento da taxa tecnológica, nosso estudo mostra que temos uma probabilidade muito baixa, menos de 10% na estimativa mais otimista, de sobreviver sem enfrentar um colapso ambiental catastrófico”.

De fato, a população mundial teve um crescimento exponencial impressionante nos últimos 12 mil anos (Holoceno), passando de 4 milhões de habitantes 10 mil anos antes de Cristo para 190 milhões no ano 1 da era cristã, chegando a cerca de 1 bilhão em 1800 e devendo atingir 8 bilhões de habitantes em 2023, conforme mostra o gráfico abaixo. Em 100 anos, aproximadamente, a população humana deu um salto de 2 bilhões para 8 bilhões de habitantes, sendo que o crescimento do consumo foi muito maior. Desta forma, o mundo que tinha superávit ambiental passou a ter déficit ambiental a partir de 1970, com a pegada ecológica crescendo bem acima dos limites da biocapacidade da Terra, como mostra o gráfico menor na figura abaixo.
O crescimento demoeconômico dos últimos séculos tem sido mortal para o meio ambiente. Havia 6 trilhões de árvores no mundo no passado (Bastin et. al. 05/07/2019). Mas a humanidade destruiu a metade das florestas desde o crescimento exponencial da população e da economia a partir da Revolução Industrial e Energética. O número de árvores no mundo hoje em dia está em torno de três trilhões de unidades. Mas o pior é que os seres humanos estão destruindo 15 bilhões de árvores por ano, enquanto o aparecimento de novas árvores e o reflorestamento é de somente 5 bilhões de unidades. Ou seja, o Planeta está perdendo 10 bilhões de árvores por ano e pode eliminar todo o estoque de 3 trilhões de árvores em menos de 300 anos.

No artigo de Bologna e Aquino (Nature, 06/05/2020), os autores consideram que o desmatamento global, devido às atividades antrópicas, está a caminho de desencadear um “colapso irreversível” da civilização humana nas próximas duas a quatro décadas. Se continuarmos destruindo e degradando as florestas do mundo, a Terra não será mais capaz de sustentar uma grande população humana. Eles dizem que se a taxa de desmatamento continuar, “todas as florestas desapareceriam aproximadamente em 100–200 anos”.

É claro que não é realista imaginar que a sociedade humana só passaria a ser afetada pelo desmatamento quando a última árvore fosse cortada. Na prática, essa trajetória faria com que o colapso da civilização humana ocorresse muito mais cedo devido aos crescentes impactos do desmatamento nos sistemas de suporte à vida planetários necessários para a sobrevivência humana – incluindo armazenamento de carbono, produção de oxigênio, conservação do solo, regulação do ciclo da água, suporte para recursos naturais sistemas alimentares humanos e lares para inúmeras espécies. Mas como mostrou Helen Briggs (BBC, 26/01/2021) é preciso planejar o plantio das árvores e a preservação das florestas.

Na ausência desses serviços críticos, “é altamente improvável que se imagine a sobrevivência de muitas espécies, inclusive a nossa, na Terra sem florestas”, aponta o estudo.

Acompanhando a taxa atual de crescimento populacional em relação à taxa de desmatamento, os autores descobriram que “estatisticamente, a probabilidade de sobreviver sem enfrentar um colapso catastrófico é muito baixa”. O melhor cenário é que temos menos de 10% de chance de evitar o colapso.

Para concluir o artigo, Bologna e Aquino dizem: “Em conclusão, nosso modelo mostra que um colapso catastrófico da população humana, devido ao consumo de recursos é o cenário mais provável da evolução dinâmica com base nos parâmetros atuais. Adotando um modelo combinado determinístico e estocástico, concluímos do ponto de vista estatístico que a probabilidade de nossa civilização sobreviver é inferior a 10% no cenário mais otimista”.
Os cálculos mostram que, mantendo a taxa real de crescimento populacional e consumo de recursos, em particular o consumo da floresta, temos algumas décadas restantes antes de um colapso irreversível de nossa civilização. Para agravar a situação, ressaltamos mais uma vez que não é realista pensar que o declínio da população em situação de forte degradação ambiental seria um declínio não caótico e bem ordenado. Esta consideração leva a um tempo restante ainda mais curto. (ecodebate)

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