Alerta do WWF-Brasil no Dia Mundial da Água. Uma combinação de fatores que têm se
intensificado ao longo dos anos, que vão das mudanças climáticas às queimadas,
passando pelo crescente número de barragens que modificam o fluxo das águas,
está alterando a dinâmica das águas do Pantanal, que se tornou especialmente
vulnerável este ano. Níveis historicamente baixos do Rio Paraguai podem
ocasionar uma nova temporada de queimadas como nos últimos anos, que pode
trazer consequências irreversíveis.
Pantanal cumpre várias funções, entre as quais
conservação de solo e da biodiversidade, estabilização do clima e fornecimento
de água. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, o Rio Paraguai, principal
indicador das condições de inundação do Pantanal, apresenta uma tendência de
seca para este ano de 2021. Especialmente as regiões de Cáceres e Porto
Conceição, ambas no Estado de Mato Grosso, apresentam níveis historicamente
baixos no Rio Paraguai. No Mato Grosso do Sul, em Forte Ladário e Coimbra
também são previstos níveis historicamente baixos. Os modelos de previsão
indicam que a seca continuará nos próximos períodos, com uma interrupção da
recuperação do nível do rio. Os gráficos no fim do texto mostram o nível do rio
fora da zona de normalidade.
“Mesmo que o regime de precipitação se normalize, é pouco provável que o Rio Paraguai e o Pantanal tenham cheias significativas, mantendo-se em níveis historicamente baixos. Além disso, o fogo e as mudanças no uso do solo tendem a afetar a própria precipitação na região. Com a diminuição da cobertura vegetal, a tendência é que haja menor evapotranspiração, menor umidade no ar e menor índice de chuvas. Cenário de mudanças climáticas aliado à falta de controle ambiental e infraestrutura para combate a incêndios, isso traz sérias ameaças à biodiversidade do Pantanal, assim como a segurança hídrica da região. Há risco de haver uma nova catástrofe em razão dos incêndios e uma, como aconteceu em 2019 e 2020”, alerta Cássio Bernardino, analista de conservação do WWF-Brasil.
Ilhas de água no Pantanal de MS.
Alerta do Dia da Água é o risco de novas queimadas
desastrosas no Pantanal.
O equilíbrio do Pantanal depende basicamente do
baixar e subir de suas águas. Esse ciclo
se repetia todo ano com certa regularidade, possibilitando a renovação
constante da fauna e flora e formatando a cultura pantaneira. Porém, desde a década de 1970, a bacia do
Alto Paraguai registra uma progressiva mudança em suas paisagens por causa do
intenso uso e ocupação do solo. O bioma
já perdeu em torno de 18 % de sua cobertura natural, que se converte geralmente
em pastos e terras aráveis. O ano
passado foi especialmente danoso: em 2020, 22.119 focos de incêndios, cerca de
120% a mais que no ano anterior. Estima-se que mais de 2,1 milhões de hectares
foram atingidos pelas queimadas em 2020.
Paralelamente, a ação humana está impondo outro
obstáculo ao fluxo natural das águas: existem mais de 100 pequenas centrais
hidrelétricas planejadas na região do Pantanal e bacia do Alto Araguaia.
Segundo o relatório Alternativas Energéticas Renováveis da Bacia do Alto
Paraguai, do WWF-Brasil, todos esses projetos de barramento poderiam ser
substituídos por fontes renováveis que têm capacidade de gerar cerca de três
vezes a potência nominal das PCHs planejadas para serem construídas na Região
Hidrográfica do Paraguai. Essa energia
poderia ser gerada a partir de recursos disponíveis na região, tais como biomassa
de cana-de-açúcar, dejetos animais, resíduos sólidos urbanos, particularmente
das duas principais cidades da região (Cuiabá e Campo Grande), além da energia
dos efluentes líquidos (esgoto) e a energia solar. A mudança evitaria os
impactos ambientais que podem comprometer o equilíbrio da região e afetar
atividades econômicas importantes, como turismo e pesca, além de gerar empregos
duráveis.
“No Dia Mundial da Água é importante chamar a
atenção para a necessidade da criação de uma estrutura robusta de combate,
prevenção e previsão de incêndios, mas também para o desenvolvimento de
alternativas de desenvolvimento sustentável na região”, ressalta Bernardino.
Abaixo, gráficos mostram o nível do Rio Paraguai fora da zona de normalidade nas regiões de Cáceres, Porto Conceição/MT, Forte Ladário e Coimbra/MS.
Na época da cheia 80% do Pantanal é alagado, as
enchentes se concentram entre dezembro e janeiro. Nesse período, cerca de 180
milhões de litros são despejados por dia nos rios pantaneiros. O equivalente a
72 piscinas olímpicas. Em 1988 o Pantanal foi decretado Patrimônio Nacional, e
no ano 2000 foi reconhecido como Patrimônio da Humanidade e Reserva da
Biosfera, pelas Nações Unidas.
No Pantanal, a instituição vem atuando de forma
emergencial, por conta dos incêndios desde setembro de 2020, com apoio da Rede
WWF, para atender pessoas e animais atingidos. Algumas ações realizadas:
– Criação de 6 brigadas comunitárias com treinamento
e equipamentos de proteção individual;
– Doação de 630 itens para ações de combate ao fogo;
– Doação de 105 cestas básicas para indígenas;
– Doação de 5 armadilhas fotográficas e 1 veículo para
monitoramento da Arara-Azul;
– 35 caixas de analgésicos e anestésicos;
– 19 equipamentos de captura de animais.
– 5 caixas de transporte de animais.
WWF-Brasil alerta sobre riscos à maior área úmida do país
Dia Mundial da Água/22/03, instituição aponta as
principais ameaças à segurança hídrica devido aos impactos da ação humana no
Pantanal.
Sobre o WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma organização não governamental
brasileira e sem fins lucrativos que trabalha para mudar a atual trajetória de
degradação ambiental e promover um futuro em que sociedade e natureza vivam em
harmonia. Criado em 1996, atua em todo Brasil e integra a Rede WWF. Apoie nosso
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