É necessário promover uma
regeneração ecológica para evitar a 6ª extinção em massa das espécies, pois o
aquecimento global e a perda de biodiversidade podem levar à extinção
civilizacional, posto que o ecocídio é também um suicídio.
A presença de líderes
importantes como Xi Jinping da China, Vladimir Putin da Rússia e Narendra Modi
da Índia mostra que a nova orientação da Casa Branca deixou para trás o
isolacionismo e o negacionismo e está buscando acordos multilaterais para
enfrentar a gravidade da crise climática. Só a efetiva união dos principais
países poluidores pode trazer alguma esperança de redução das emissões de gases
de efeito estufa.
Segundo o comunicado da Casa Branca, um dos principais objetivos da Cúpula do Dia da Terra é articular os esforços para limitar o aquecimento global a 1,5ºC e facilitar os acordos para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021, a COP-26, que está programada para ser realizada na cidade de Glasgow, de 1 a 12 de novembro de 2021, sob a presidência do Reino Unido. Como mostra o gráfico abaixo, o ritmo de redução das emissões é desafiador.
Evidentemente, o mundo não está na rota do controle do aquecimento global. O discurso do presidente Jair Bolsonaro foi do tipo “para inglês ver” e mesmo não sendo formalmente totalmente ruim, contrariou posicionamentos anteriores do governo e, diplomaticamente, teve boa receptividade entre os organizadores da Cúpula. Mas o Brasil que tem a sexta maior população do mundo só teve a palavra no final do grupo do G-20. Além do mais o presidente Joe Biden teve que sair do encontro rapidamente e não viu o discurso do presidente brasileiro. Não se sabe se o motivo desta saída foi proposital. Mas a liderança internacional questionou até que ponto o discurso do presidente brasileiro refletia a realidade que está acontecendo no Brasil. Houve uma reação tipo São Tomé: “ver os resultados para crer”.
O presidente Bolsonaro
insistiu em dizer que o Brasil emite “apenas” 3% das emissões globais, com se
isto fosse uma grande vantagem. Acontece que o Brasil tem 2,7% da população
mundial e um PIB que representa 2,4% do PIB mundial (em termos de paridade de
compra – ppp) e de 1,7% em termos de dólares correntes. Portanto, o Brasil emite
mais do que proporcionalmente ao tamanho da população ou da economia. E o
governo ainda cortou verbas para fiscalização do desmatamento e contenção das
queimadas.
O presidente brasileiro
prometeu: 1) Zerar o desmatamento ilegal até 2030; 2) Reduzir as emissões de
gases de efeito estufa; 3) buscar a neutralidade de emissões de carbono até
2050; 4) Fortalecer os órgãos ambientais. Todas as promessas são para o futuro
e na prática o governo tem enfraquecido os órgãos de defesa do meio ambiente,
cancelou a realização do censo demográfico, defendeu o direito ao
desenvolvimento e não disse nada sobre a recuperação das áreas degradadas.
Acontece que o chamado
“desenvolvimento sustentável” virou um oximoro e o tripé da sustentabilidade
virou um trilema. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta
e, a cada ano, o dia da sobrecarga chega mais cedo. Isto significa que o
contínuo crescimento da produção de bens e serviços acontece em detrimento da
saúde dos ecossistemas e à custa da perda da biodiversidade. Enquanto a
humanidade progride, o meio ambiente regride. Mais desenvolvimento implica
menos natureza.
Portanto, o desenvolvimento –
que significa o contínuo processo de acumulação de riqueza por parte dos seres
humanos – não é um processo ambientalmente sustentável. Pretender enriquecer a
humanidade mediante o empobrecimento da natureza é como cortar o galho de uma
árvore sentado na ponta. Para haver sustentabilidade é preciso um pensamento
ecológico holístico. Ou seja, é necessário reconhecer que o ser humano é apenas
uma parte da comunidade biótica e que o egoísmo do homo economicus é
incompatível com o requisito básico de uma relação altruísta e pacífica entre
todos os seres vivos da Terra. Ao invés de transformar toda a riqueza do meio
ambiente em “valor de troca”, o certo seria reconhecer que a natureza tem
valores intrínsecos e princípios que são inegociáveis, como nos ensina a
Ecologia Profunda.
Artigo de Daniel Christian
Wahl (Beyond Sustainability — We are Living in the Century of Regeneration,
Resilience, 18/04/2018) mostra que é preciso valorizar o ecossistema e promover
uma mudança de paradigma, deixando para trás as atitudes ignorantes e egoístas
de destruição do próprio habitat para garantir que os sistemas naturais da
Terra possam alcançar sua capacidade ideal de sustentar a vida. Ao invés de
desenvolvimento sustentável é preciso avançar no desenvolvimento regenerativo.
Para o autor, o termo
sustentável foi cooptado e algumas pessoas consideram sua empresa sustentável
porque manteve o crescimento e os lucros por vários anos seguidos. O termo
sustentabilidade nos pede para explicar o que estamos tentando sustentar. O
termo desenvolvimento regenerativo, por outro lado, traz consigo um objetivo
claro de regenerar a saúde e a vitalidade dos ecossistemas. Em um nível básico,
a regeneração significa não usar recursos que não podem ser regenerados. Nem
usar os recursos mais rapidamente do que eles podem ser regenerados.
Desenvolvimento neste contexto é “co-evolução da mutualidade”. A segunda razão é
que é preciso ir além de ser apenas sustentável para realmente regenerar o dano
que a humanidade provocou no planeta desde o alvorecer da agricultura, das
cidades, dos Estados e dos Impérios.
O diagrama abaixo mostra a passagem de um sistema degenerativo para um sistema regenerativo. A escrita verde e vermelha acima e abaixo do eixo x se refere ao impacto positivo (verde) e impacto negativo (vermelho). No modelo em que tudo continua na mesma (“business as usual”) o primeiro avanço ocorre quando as práticas se movem para o estágio “Green” (economia verde), que significa fazer um pouco mais do que o usual, ou seja, poluir um pouco menos, usando menos energia de fontes não renováveis, etc. Este é um passo frequentemente denominado “maquiagem verde” (“greenwashing”), mesmo que seja uma necessidade nos diversos passos na jornada para ir além da sustentabilidade.
Na passagem do verde (“Green”) para o sustentável (“sustainable”) se chega ao ponto do impacto neutro, em que as atividades sustentáveis não causam danos adicionais. No entanto, com os enormes prejuízos ambientais causados desde o início da revolução industrial é preciso fazer mais do que simplesmente sustentar uma população humana de mais de 7 bilhões de pessoas e que pode chegar a 11 bilhões até 2100, com um crescimento econômico ainda maior.
Na passagem do estágio
sustentável para o restaurativo (“restorative”) ainda é possível utilizar a
mentalidade antropocêntrica instrumental que vê o ser humano como a medida de
todas as coisas. Essa mentalidade de engenharia para a restauração pode criar
projetos que restaurem florestas ou ecossistemas, mas de maneira não sistêmicas
e integrativas e, portanto, esses esforços e seus efeitos podem ter vida curta
ou resultar em efeitos colaterais inesperados e negativos.
Na passagem do estágio
restaurativo (“restorative”) para o reconciliatório (“reconciliatory”) se busca
projetos de restauração em grande escala para a adaptação cuidadosa à
singularidade biocultural do lugar, podendo gerar sucessos de curto prazo, mas
falhar em criar significado suficiente para motivar a transformação de longo
prazo.
Na passagem do penúltimo
estágio, o reconciliatório (“reconciliatory”), para o último o regenerativo
(“regenerative”) o desenvolvimento revela o total potencial ecocêntrico. A
reconciliação entre natureza e cultura permitiria reconciliar a jornada
evolutiva da vida e iniciando uma nova trilha de atuação de forma regenerativa.
Regeneração de ecossistemas em grande escala para reverter o aquecimento
global, estabilizar o clima, recuperar a biodiversidade e permitir a transição
para uma economia baseada em biomateriais de padrões ecológicos de produção e
consumo descentralizados biorregionalmente e orientados para a regeneração
social e econômica, a resiliência e a colaboração global na aprendizagem de
como viver bem e conjuntamente na mesma nave viva que é a Terra (WAHL,
18/04/2018)
A Terra deveria ter o
potencial de alcançar um “Equilíbrio Evolucionário”, significando que os solos,
os oceanos, as plantas, os animais, a atmosfera, o ciclo da água e o clima da
Terra possam interagir de uma forma natural, sem interferência humana. Se
estivermos conscientes disso e não interferirmos no Sistema Terrestre os
interesses da humanidade podem coincidir com os interesses de todos os seres
vivos da Terra. A civilização precisa ser compatível com a reselvagerização do
mundo.
Existe a necessidade de fazer
a transição da economia fóssil para a “bioeconomia”, que é uma economia
centrada no uso de recursos biológicos renováveis em vez de fontes baseadas em
fósseis para produção industrial e de energia sustentável. Abrange várias
atividades econômicas desde a agricultura até o setor químico e farmacêutico.
Ou seja, é uma economia com base nos recursos renováveis, conhecimento
biológico e processos biotecnológicos para estabelecer uma economia de base
biológica e, acima de tudo, ecologicamente sustentável, focada na
renovabilidade e na neutralidade do carbono.
Portanto, mesmo sendo fundamental cortar as emissões de carbono é preciso ir além.
É necessário promover uma regeneração ecológica para evitar a 6ª extinção em massa das espécies, pois o aquecimento global e a perda de biodiversidade podem levar à extinção civilizacional, posto que o ecocídio é também um suicídio.
Por conseguinte, a humanidade
tem que escolher entre a regeneração ecológica ou a extinção. (ecodebate)
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