O
presidente russo Vladimir Putin referiu os problemas mundiais existentes,
dizendo que as abordagens atuais têm sido insuficientes para os resolver.
Vladimir
Putin, presidente da Rússia, disse em 21/10/21 que ainda não foi possível obter
a base de apoio para um novo equilíbrio no mundo e que os países
"vencedores do Olimpo" percebem que estão perdendo terreno.
Em
declarações no Clube Valdai de Discussões Internacionais em Moscou, Rússia, ele
observou que a humanidade entrou em um novo período há mais de três décadas,
quando começou a busca por um novo equilíbrio, por relações sustentáveis nas
esferas social, política, econômica, cultural e militar, e por uma base de
apoio para o sistema mundial.
"Estávamos
procurando esta base de apoio, mas devo reconhecer que ainda não a conseguimos
obter, enquanto aqueles que após o fim da Guerra Fria [...] se sentiram
vitoriosos, logo sentiram, apesar de pensarem que tinham subido ao próprio
Olimpo, logo sentiram que também neste Olimpo agora é debaixo de seus pés que o
chão está fugindo, e ninguém pode parar o momento, por mais bonito que
pareça", disse ele.
"A
história política ainda não conhece exemplos de uma ordem mundial estável ter
sido estabelecida sem uma grande guerra e sem ser com base em seus resultados, como
aconteceu após a Segunda Guerra Mundial. Portanto, temos uma oportunidade de
estabelecer um precedente extremamente favorável. A tentativa de fazê-lo após a
Guerra Fria com base na dominação ocidental, como vemos, não obteve sucesso. O
estado atual do mundo é um produto desse fracasso. Devemos tirar lições
disso", apontou Putin.
Experiência
dos países pobres
De
acordo com o chefe de Estado da Rússia, a pobreza nos países menos
desenvolvidos leva a sentimentos negativos de falta de perspectivas.
"Sem
mencionar os problemas de pobreza, alto nível de desemprego ou ausência de
cuidados de saúde adequados. Tudo isso é muito sentido nos países atrasados,
que estão perdendo a fé na perspectiva de alcançar os líderes, a frustração
alimenta a agressão, empurra as pessoas para as fileiras dos extremistas",
referiu Vladimir Putin.
As pessoas nesses países têm uma crescente "sensação de expectativas infundadas e não concretizadas", um sentimento de falta de quaisquer perspectivas na vida, não só para si mesmas, mas também para seus filhos.
Famílias afegãs, em fuga da violência, sentam-se com seus pertences enquanto se preparam para retornar a suas províncias, em um abrigo improvisado no parque Shahr-e Naw em Cabul, Afeganistão em 04/10/2021.
"Isso
é o que leva à busca de uma vida melhor, à migração descontrolada, que por sua
vez cria bases para o descontentamento social em países já mais
prósperos", adicionou o presidente da Rússia.
Em
relação ao Afeganistão, é importante que a Rússia e a China tenham um Estado
estável e em desenvolvimento perto de suas fronteiras, e há trabalho ativo
nesse sentido, mencionou o presidente russo.
"Esta
questão é uma das mais urgentes no momento, a situação no Afeganistão. Você
sabe que acabamos de realizar uma reunião em formato apropriado, inclusive com
representantes do Talibã [organização terrorista proibida na Rússia e em vários
outros países]. A República Popular da China está trabalhando muito ativamente
no Afeganistão", explicou ele.
Segundo
o alto responsável da Rússia, a situação no Afeganistão é muito grave, tanto
para a Rússia quanto para a China.
"É
importante ter perto de nossas fronteiras nacionais uma calma e um Afeganistão
em desenvolvimento que não seja uma fonte de terrorismo, radicalismo de todos
os tipos", defendeu.
Relações
dos grandes poderes
Sobre
a relação entre Pequim e Moscou, Putin indicou que "já falamos muitas
vezes sobre isso".
"Não
somos amigos da China contra ninguém, mas no interesse um do outro, primeiro.
Em segundo lugar, ao contrário da OTAN, ao contrário dos países da OTAN, nós
não criamos nenhum bloco militar fechado. Não existe um bloco militar
Rússia-China, e também não estamos buscando tal objetivo no momento. Portanto,
não há base para esta discussão", concluiu.
Putin
respondeu também à visita de Lloyd Austin, secretário de Defesa dos EUA, a
Kiev, Ucrânia, algo que, segundo ele, essencialmente abre as portas da OTAN ao
país.
Austin
chegou a comunicar que os países terceiros não têm direito de vetar a adesão da
Ucrânia à OTAN, com Washington apoiando Kiev em suas aspirações.
"Aqui
vem o ministro da defesa que, de fato, abre a porta para a Ucrânia aderir à
OTAN, de fato, sua declaração deve e pode ser interpretada dessa forma",
disse, denunciando a possibilidade de mísseis serem colocados no país vizinho.
"Quanto
às bases, conheço bem a disposição constitucional relevante da Ucrânia. Ninguém
proíbe os centros de treinamento. Tudo pode ser colocado sob o rótulo dos
centros de treinamento, e, como eu já disse, também foi referido publicamente.
Amanhã haverá mísseis perto de Carcóvia, o que podemos fazer a respeito disso?
Não somos nós que entramos lá com nossos próprios mísseis, eles os enfiam
debaixo do nosso nariz. É claro que isto é um problema", constatou o líder
russo.
Estados
como solução
Segundo o presidente russo, apenas Estados soberanos são capazes de responder às necessidades dos cidadãos e aos desafios, acrescentando que qualquer ordem internacional eficaz deve ter em consideração os interesses e as capacidades dos Estados, partir daí, em vez de tentar provar que eles não devem existir.
Passageiros usam máscaras enquanto viajam no sistema do metrô de Londres, em meio à pandemia da doença do coronavírus (COVID-19), em Londres, Reino Unido em 20/10/2021.
"É
importante notar outra coisa: a pandemia, que em teoria deveria unir as pessoas
em torno de uma ameaça comum em grande escala, tornou-se um fator de divisão em
vez de ser um fator unificador. Há muitas razões para isso, mas uma das
principais razões é que a solução do problema tem sido procurada em esquemas
habituais: diversos, mas habituais", declarou.
"Eles
justamente não funcionam. Mais precisamente, eles funcionam, mas muitas vezes
ao contrário, piorando a situação. A propósito, a Rússia tem apelado
repetidamente, e vou repetir este apelo agora: precisamos deixar de lado as
ambições equivocadas e trabalhar juntos e em cooperação", falou.
Assim,
a dominação ocidental nos assuntos mundiais está dando lugar a um sistema muito
mais diversificado, comentou.
"A
mudança na distribuição de forças implica uma redistribuição de cotas-partes em
favor daqueles países em crescimento e em desenvolvimento que até agora se
sentiam excluídos. Dito de forma direta, o domínio ocidental nos assuntos
mundiais, que começou há vários séculos e se tornou quase absoluto por um breve
período no final do século XX, está dando lugar a um sistema muito mais
diversificado."
Mudança
no sistema mundial
A
solução global para os problemas existentes envolveria uma transferência da
soberania para estruturas supranacionais para a qual ninguém está preparado,
porque será preciso responder pelos resultados da política perante os seus
cidadãos, e não perante uma comunidade internacional "desconhecida",
afirmou Putin.
"Estamos
bem conscientes de que sem uma estreita cooperação internacional é impossível
resolver muitos dos problemas graves", disse, acrescentando que é preciso
ser realista e entender que a maioria dos belos slogans sobre soluções globais
para problemas globais, "que temos ouvido desde o final do século XX,
nunca serão realizados".
Ao mesmo tempo, o chefe de Estado expressou a ideia de que não há "receitas prontas" para substituir o atual modelo do capitalismo.
Placa da Wall Street no exterior da Bolsa de Nova York, EUA em 19/07/2021.
O
presidente russo criticou ainda a "fantasmagoria" no Ocidente
envolvendo a discussão sobre os direitos dos homens e das mulheres.
"A
discussão sobre os direitos dos homens e das mulheres em vários países
ocidentais se transformou em uma completa fantasmagoria. Cuidado, vocês ainda
chegarão ao ponto em que os bolcheviques [após a Revolução de Outubro na Rússia
em 1917] propunham não apenas tornar as galinhas comunitárias, mas também
tornar as mulheres comunitárias. Mais um passo, e vocês chegarão lá",
assinalou Putin.
"Os
zelotes das novas abordagens chegam ao ponto de querer abolir esses próprios
conceitos. Aqueles que arriscam dizer que os homens e mulheres existem, e que
isso é um fato biológico, são quase ostracizados" em países ocidentais.
(sputniknews)
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