Tamanho
aumento de temperatura implicaria uma redução sensível no regime de chuvas da
região, principalmente no inverno. Tais mudanças climáticas teriam impacto
sobre a evaporação da região e a própria existência do Pantanal como o
conhecemos.
Essas
projeções foram estimadas a partir da aplicação ao Pantanal dos modelos
climáticos globais do 5º Relatório de Avaliação (AR5) do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2014.
O
trabalho “Climate Change Scenarios in the Pantanal”, publicado no livro
Dynamics of the Pantanal Wetland in South America, é de autoria da equipe do
hidrologista e meteorologista José Antonio Marengo Orsini, do Centro Nacional
de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em Cachoeira
Paulista, e tem apoio da FAPESP e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
(INCT) para Mudanças Climáticas que, por sua vez, é apoiado pela FAPESP e pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O
Pantanal tem uma área de 140 mil km², 80% da qual fica no Brasil, nos estados
de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. É uma região semiárida. Não fosse o enorme
fluxo anual de água para a região, o bioma seria tão seco quanto a caatinga
nordestina. Isso não ocorre porque o Pantanal é um grande reservatório que
armazena as águas que escoam dos planaltos circundantes.
Nos
meses de novembro a março, na estação chuvosa, os rios transbordam, inundando
até 70% da planície. É quando se formam os banhados, os lagos rasos e quando os
pântanos incham. Tudo isso faz com que, nas áreas mais elevadas, surjam ilhas
de vegetação, um refúgio para os animais. Grandes áreas permanecem inundadas
por quatro a oito meses no ano, com uma cobertura de água que varia de uns
poucos centímetros até 2 metros.
Durante a estação seca, de abril a setembro, as águas refluem para a calha dos rios e os banhados são parcialmente drenados. As águas antes represadas seguem seu curso através das bacias dos rios Paraguai e Paraná, em direção ao rio da Prata e ao Atlântico Sul. Deixam em seu lugar uma camada de sedimentos férteis que impulsionam o crescimento da vegetação e das pastagens.
Esse é o retrato do Pantanal hoje. Nele caem anualmente entre 1.000 e 1.250 milímetros de chuva. A temperatura média anual é 24°C, sendo que a temperatura máxima, alguns dias no ano atinge 41°C. O que as projeções climáticas de Marengo indicam para o futuro?
O 5º
Relatório de Avaliação do IPCC projeta um aumento na temperatura média global
em 2100 de 3,7ºC a 4,8°C. Quando seus parâmetros são usados para analisar as
variáveis climáticas específicas do Pantanal, o resultado impressiona. Até
2040, as temperaturas médias devem subir de 2ºC a 3°C. Em 2070, o aumento
poderá ser de 4ºC a 5°C, atingindo em 2100 uma temperatura média 6°C mais
elevada do que a atual.
Embora
haja muita incerteza com relação às projeções pluviométricas, os modelos
sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, o Pantanal poderá
experimentar uma redução na quantidade de chuva de 30% a 40%.
A
associação entre temperaturas mais elevadas e menos chuva implicará um aumento
da evaporação no Pantanal. Dependendo da temperatura, volumes consideráveis de
água represada poderão desaparecer, o que reduzirá a área total alagada e a
quantidade de água nas porções de terra que permanecerão alagadas. “Um aumento da
temperatura média de 5ºC a 6°C implicaria em deficiência hídrica, o que
afetaria a biodiversidade e a população”, observa Marengo.
As
consequências para a fauna e a flora poderão ser severas. Espécies vegetais
pouco adaptáveis a um grau de umidade inferior ao atual poderão desaparecer ou
migrar para outras regiões. Em seu lugar, germinariam outras espécies, que
preferem climas mais secos.
A
alteração na vegetação implicaria diretamente as populações de invertebrados e
de vertebrados herbívoros, capivaras, antas que delas dependem (mas também o
gado das fazendas), numa reação em cadeia que afetaria todos os nichos da
cadeia alimentar, até atingir os predadores de topo, como os felinos, os
jacarés e as aves de rapina.
Muito
embora Marengo faça questão de salientar que as incertezas com relação às
mudanças climáticas ainda são elevadas, especialmente no quesito do regime
pluviométrico, uma coisa é certa: as temperaturas globais estão aumentando e o
mesmo acontecerá no Pantanal.
Como aquela planície alagada fica no centro da América do Sul, portanto longe da influência marítima que poderia ajudar a amenizar o clima, o aumento das temperaturas no Pantanal tende a ser mais dramático. “O dia mais quente do ano pode vir a ser até 10°C mais quente do que hoje”, diz Marengo.
Se atualmente, nos dias mais quentes do verão, a temperatura no Pantanal passa fácil dos 40°C, estamos falando em temperaturas máximas em torno ou superiores aos 50°C. É temperatura de deserto. A maioria das plantas suporta pontualmente um calorão desses. Pontualmente. (ecodebate)
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