domingo, 1 de maio de 2022

Vamos ser sinceros, a meta de 1,5º C está morta

Limitar o aquecimento global em 1,5ºC requer atingir imediatamente o pico das emissões, reduzir a poluição pela metade até 2030 e atingir zero emissões líquidas de dióxido de carbono globalmente no início dos anos 2050.

“É pior do que você pensa” - David Wallace-Wells (09/07/2017)

O Acordo de Paris, de 2015, estabeleceu uma meta ambiciosa de limitar o aquecimento global a no máximo 1,5ºC em relação ao período pré-industrial. Sete anos depois, em abril de 2022, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou mais um relatório mostrando que o quadro das emissões de CO2 continua desfavorável, pois será muito difícil reduzir a liberação de gases de efeito estufa (GEE) até 2030. Ou seja, tecnicamente seria possível evitar a ultrapassagem do limite de 1,5ºC, mas é pouco provável que isto ocorra.

A temperatura global já aumentou 1,2ºC em relação ao período pré-industrial. Na década passada o aumento foi de 0,33ºC e o ritmo é de aceleração, conforme mostra o gráfico abaixo da NOAA. Portanto, é muito provável que o limite mínimo do Acordo de Paris seja alcançado por volta de 2030.

Não convém fugir da realidade de que a meta de 1,5ºC está com o pé na cova. O próprio Secretário-Geral da ONU, António Guterres, fez um discurso indignado relativo ao novo relatório do IPCC, afirmando que os países e empresas estão “mentindo” e que os dados do relatório dão um veredicto condenatório à humanidade: “Ativistas climáticos são às vezes retratados como radicais perigosos. Radicais e verdadeiramente perigosos são os países que estão aumentando a produção de combustíveis fósseis“.

Limitar o aquecimento global em 1,5ºC requer atingir imediatamente o pico das emissões, reduzir a poluição pela metade até 2030 e atingir zero emissões líquidas de dióxido de carbono globalmente no início dos anos 2050.

Mas isto não está sendo feito e a invasão da Ucrânia pela Rússia fez o preço dos combustíveis fósseis aumentarem e gerou um clamor das elites, e mesmo do povo, pelo aumento da produção de hidrocarbonetos. No Brasil é geral a demanda pela redução do preço dos combustíveis e muito pouco é feito na transição energética e na redução do desmatamento. O desejo de aumentar o consumo, em geral, supera as preocupações com as questões ambientais e climáticas.

Não faltam alertas sobre a crise atual. No dia 09/07/2017, o jornalista David Wallace-Wells publicou uma matéria denominada “The Uninhabitable Earth”, na revista New York Magazine (NYMag), pintando um cenário apocalíptico para o Planeta – um Armagedon climático – caso as tendências atuais não fossem alteradas. O texto começou assim: “It is, I promise, worse than you think” (Prometo, é pior do que você pensa). Muitos críticos disseram que o artigo era catastrofista e não ajudava na luta contra o aquecimento global.

Mas o artigo se tornou viral e foi comentado amplamente em diversos países do mundo e passou a ser o artigo mais lido da revista em todos os tempos. Em 2019 foi publicado o livro “The Uninhabitable Earth: Life after Warming”, enquanto os indicadores climáticos mostram que o equilíbrio homeostático do Planeta está sendo alterado e Terra está ficando cada vez mais inóspita e inabitável (Alves, 2019).

Todavia, não será somente a humanidade que irá sofrer com a crise climática e ambiental, mas principalmente as demais espécies vivas do Planeta. A perda de biodiversidade e a 6ª extinção em massa das espécies vai provocar não apenas uma tragédia ecológica, mas também deve reverberar sobre a civilização, pois a extinção dos polinizadores e a destruição das florestas vão acelerar o aquecimento global e agravar a crise alimentar.

Portanto, a emergência climática e ambiental deve provocar mais mortes e mais sofrimento do que a emergência sanitária da covid-19. Mas os negacionistas acusam os verdadeiros ambientalistas de catastrofistas e nada fazem para conter a catástrofe ambiental. Mas, indubitavelmente, é preciso saber ouvir os “catastrofistas” e colocar em prática o princípio da precaução e não ficar procrastinando as ações.

Como disse Greta Thunberg em atividade preparatória para a COP26 em Glasgow: “Isso é tudo o que ouvimos por parte dos nossos líderes: palavras. Palavras que soam bem, mas que não provocaram ação alguma. Nossas esperanças e sonhos se afogam em suas palavras de promessas vazias. Não existe um planeta B, não existe um planeta blá-blá-blá, economia verde blá-blá-blá, neutralidade do carbono para 2050 blá-blá-blá”. Ela completou: “30 anos de blá-blá-blá dos líderes mundiais e sua traição com as gerações atuais e futuras“.

A humanidade precisa reconhecer os seus erros e parar de acreditar em notícias falsas (fake news). A Terra é esférica e finita, mas existem alguns negacionistas que dizem que a Terra é plana e outros que negam os limites do crescimento e agem como se a Terra fosse infinita. A humanidade já superou a capacidade de carga da Terra e trata a atmosfera com total desprezo, despejando toneladas de CO2 todos os dias. O agravamento do efeito estufa é o resultado da “Tragédia dos Comuns”, pois o que é um bem público está sendo tratado como uma lixeira.

Somente um corte drástico nas emissões de gases de efeito estufa pode evitar um aquecimento global catastrófico. Para tanto é preciso planejar o decrescimento demoeconômico ao longo do século XX. Para salvar a humanidade e a biodiversidade é preciso reduzir o tamanho da população e das atividades antrópicas, especialmente as mais poluidoras, como aquelas decorrentes do uso de combustíveis fósseis. O decrescimento demoeconômico é um imperativo que deverá ser colocado em prática, ou toda a vida do Planeta estará colocada em perigo. (ecodebate)

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