No relatório anual Avaliação Global
de Recursos Florestais, a agência da ONU mostra que o Brasil lidera a lista do
desmatamento, com 1,5 milhão de hectares perdidos a cada ano na década 2011-20.
Angola surge no quarto lugar, perdendo 555 mil hectares em média todos os anos,
exatamente o mesmo valor que perdia na década anterior, mas um grande aumento
em relação à década de 1990-2000, quando eram destruídos 155 mil hectares todos
os anos.
O aumento do desmatamento
decorre da expansão da área dedicada as atividades agropecuárias e do forte
crescimento da demanda por carvão. O alto crescimento populacional aumenta a
demanda por carvão vegetal, já que o consumo de lenha é mais barato do que o
uso de combustíveis fósseis. A expansão das atividades antrópicas ocorre em
função da degradação dos ecossistemas.
A perda de área verde é uma
das grandes responsáveis pela redução do superávit ambiental do país. Angola
tinha uma situação ambiental confortável, como mostram os dados da Global
Footprint Network. Em 1961, a biocapacidade per capita era de 10,3 hectares
globais (gha) para uma pegada ecológica per capita de somente 0,85 gha. Porém,
mesmo mantendo uma pegada ecológica muito baixa (de 0,86 gha em 2018) a
biocapacidade do país diminuiu radicalmente e atingiu apenas 1,84 gha em 2014.
No ritmo dos últimos 50 anos, Angola terá déficit ambiental na atual década.
O gráfico abaixo, da Divisão
de População da ONU (revisão 2019), mostra que a população de Angola era de 4,5
milhões de habitantes em 1950 e passou para 35 milhões em 2020. Este rápido
crescimento demográfico foi o responsável pela redução da biocapacidade per
capita do país, pois a Pegada Ecológica ficou estável e a biocapacidade per
capita diminuiu de 10,3 gha para 1,84 gha, como vimos no gráfico anterior.
Para o final do século XXI,
as projeções da ONU indicam uma população de 191 milhões de habitantes em
Angola. A biocapacidade total de Angola é de 57 milhões de gha e deve se manter
mais ou menos neste mesmo nível até 2100. Assim, a biocapacidade per capita no
final do século deve ficar em 0,3 gha (57 milhões de gha dividido por 191
milhões de habitantes). Portanto, mesmo que a Pegada Ecológica continue em
nível baixo (em torno de 0,9 gha), Angola terá um grande déficit ambiental no
final do atual século.
O fato é que Angola precisa
avançar na transição demográfica para aproveitar as vantagens de uma estrutura
etária favorável e dar um salto de qualidade de vida. O apoio da comunidade
internacional é fundamental, mas o povo de Angola precisa tomar consciência de
seus problemas e tomar medidas para evitar o colapso ecológico total. A ajuda
para se levantar é essencial, mas são os próprios angolanos que devem caminhar
de maneira independente e sustentável.
Estado de Emergência
Ambiental Global – Consequências para Angola. (ecodebate)
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