De acordo com estudos
recentes, mais de 320 milhões de toneladas de plásticos são produzidos
anualmente em todo o mundo e grande parte dessa produção é descartada em locais
inadequados. Estima-se que 94% do plástico é destinado a aterros sanitários ou
liberados no meio ambiente natural, enquanto apenas 6% são destinados à
reciclagem. Estes dados alarmantes estão presentes no e-book Microplásticos nos
ecossistemas: impactos e soluções, publicado numa parceria entre o Instituto de
Biociências (IB) e a Escola de Engenharia de Lorena (EEL), ambos da USP, e
disponível para download gratuito neste link.
São 14 capítulos que refletem
as experiências de pesquisadores da USP, discorrendo sobre a presença de
plásticos nos rios, mares, mangues ou reservatórios e com sínteses de estudos
em laboratório ou in situ (no local). Como lembram os organizadores no prefácio
da obra, “no dia a dia, é praticamente impossível escapar dos plásticos”. “A
publicação cobre uma lacuna na literatura nacional, pois há poucas pesquisas
sobre o tema no Brasil, em particular sobre os ecossistemas de água doce”,
explica Marcelo Luiz Martins Pompêo, pesquisador do Departamento de Ecologia do
IB e um dos organizadores do livro. A ideia, de acordo com Pompêo, é ampliar a
discussão sobre essa importante temática ambiental, pois os plásticos já são um
dos mais importantes poluentes mundiais.
Também participaram da organização do livro os pesquisadores Teresa Cristina Brazil de Paiva, coordenadora dos Laboratórios de Ecotoxicologia Aquática e de Caracterização e Tratamento de Efluentes da EEL; Bárbara Rani-Borges, doutora em Engenharia pela Universidade do Minho, de Portugal, e doutoranda em Ciências Ambientais pela UNESP.
Partículas microplásticas na água e no interior dos peixes.
Problema ecológico da
poluição do oceano Risco para a saúde de peças microplásticas em alimentos.
A poluição por plásticos, uma
problemática ambiental
A poluição por plásticos é
relativamente recente, conforme explica Lucas Gonçalves Queiroz, pesquisador do
IB que escreve um dos capítulos. “Nas últimas décadas, o uso de materiais
plásticos tornou-se cada vez mais comum na indústria, agricultura, medicina e
em produtos de uso diário”, diz, informando ainda que o elevado consumo destes
materiais se deve à sua praticidade, durabilidade, baixo custo e resistência.
“Neste contexto, o que parece ser uma grande vantagem do ponto de vista
industrial e comercial, a durabilidade do produto pode significar um grande
problema ambiental. No ambiente natural, os plásticos são altamente
persistentes, podendo levar centenas ou milhares de anos para se degradar”,
explica.
Problemática ambiental que, reforçada pela produção de materiais plásticos, vem aumentando a cada ano. “Recentemente, uma nova abordagem sobre a poluição por plásticos tem ganhado cada vez mais destaque na comunidade científica. Pequenas partículas plásticas têm sido observadas em diferentes ecossistemas, principalmente nos ambientes aquáticos. Estas partículas, denominadas ‘microplásticos’ – que possuem dimensões menores que 5 mm e podem ser gerados a partir de processos industriais ou ainda por agentes ambientais – têm sido alvo de uma série de pesquisas ao redor do mundo”, afirma Queiroz, acrescentando que, à medida que avançam, esses estudos têm demonstrado que os microplásticos podem impactar negativamente organismos expostos a estas partículas resultando em efeitos de nível populacional e, ainda, ecossistêmico.
Capa e páginas do livro sobre microplásticos nos ecossistemas.
Políticas públicas e ações
pessoais podem reduzir o seu uso, garantem os organizadores do livro. Mas eles
alertam que, particularmente no Brasil, não há legislação que determine
monitorar a sua presença nos ecossistemas, visando a avaliar seus impactos para
a qualidade desses ecossistemas e para a qualidade de vida da biota e dos seres
humanos. “Mas há extrema necessidade não só para o tema ser pautado na mídia,
mas que se criem legislações nacionais e internacionais, visando a avaliar a
quantidade de plásticos presente nos ecossistemas, e que também permitam
acompanhar os impactos que causam, além de propor formas de reuso e de
descartes adequados. Ao mesmo tempo, estas normativas também deverão permitir
criar mecanismos que visem a mitigar os problemas encontrados, protegendo os
ambientes menos impactados e recuperando aqueles mais comprometidos”, reforçam.
O livro, segundo os
organizadores, é uma contribuição que tem como objetivo incentivar novos
estudos, permitindo constituir grupos de pesquisas em todo o território
brasileiro, estudando plásticos e seus impactos em todos os biomas nacionais, e
auxiliando na elaboração de políticas públicas.
Você sabia que o plástico
está em praticamente tudo que consumimos?
Segundo os organizadores do livro Microplásticos nos ecossistemas: impactos e soluções, ele nos acompanha em quase todos os momentos de nossa vida. “O plástico pode ser observado em diversas cores e formatos, no interior dos carros, nos diversos tipos de embalagens que utilizamos, empregadas na indústria alimentícia, de remédios, nos supermercados, nos hospitais, nas feiras, etc. Vestimos ele, passamos micropartículas de plástico nas nossas bocas, para auxiliar na limpeza de nossos dentes. São copos e garrafas de inúmeros volumes, canudos, sacos plásticos, bolsas, fios, bolas, tubos de todas as bitolas, brinquedos e outros inúmeros formatos e para centenas de diferentes usos”.
Para ler gratuitamente o e-book Microplásticos nos ecossistemas: impactos e soluções clique aqui. (ecodebate)
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