terça-feira, 29 de novembro de 2022

A população da República Democrática do Congo de 1950 a 2100

Os cenários futuros indicam a necessidade de criar milhões de empregos anuais e elevar os níveis da renda per capita para reduzir a pobreza e elevar as condições de vida da população

A República Democrática do Congo (RDC) tem a segunda maior floresta tropical do mundo e é o país mais rico em reservas de cobalto, um metal essencial para a produção de turbinas de avião, baterias de celulares, computadores, carros, etc. Mas em termos de bem-estar da população, a RDC é um país pobre, com muitos emigrantes (que geralmente são vítimas da violência física e da xenofobia) e que está preso na armadilha da pobreza. A área da RD do Congo é de 2,4 milhões de km2 e tem uma densidade demográfica de 43 habitantes por km2 em 2022, maior do que a densidade brasileira (26 hab/km2).

A República Democrática do Congo tinha apenas 12,3 milhões de habitantes em 1950 (com uma densidade demográfica de 5,4 hab/km2), saltou para 99 milhões em 2022 (com densidade de 44 hab/km2) e deve atingir, na projeção média, 432 milhões em 2100 (com densidade demográfica de 191 hab/km2), como mostra o gráfico abaixo do painel da esquerda. A projeção alta da ONU aponta que a população da RD do Congo, caso não caiam as taxas de fecundidade, pode chegar a 1,4 bilhão de habitantes em 2100.

A população da RDC em idade ativa, de 15-59 anos, deu um salto de cerca de 6,3 milhões de pessoas em meados do século passado para 48 milhões em 2022 e deve atingir 267 milhões de pessoas no final do atual século. Portanto, a RDC terá uma grande necessidade de geração de emprego nas próximas 8 décadas (conforme mostra o gráfico abaixo, no painel da direita).

Os gráficos abaixo mostram a evolução das taxas de fecundidade total (TFT) e a expectativa de vida. A República do Congo manteve uma média de mais de 6 filhos por mulher entre 1950 e 2022 e é um dos países que ainda mantém taxas de fecundidade muito elevadas. Mas as projeções da Divisão de População da ONU indicam uma queda na TFT nas próximas 8 décadas até atingir o nível de reposição (2,1 filhos por mulher) em 2100, como mostra o gráfico abaixo, no painel da esquerda.

A expectativa de vida ao nascer, que estava abaixo de 40 anos em 1950, subiu nos anos seguintes (com algumas oscilações) e chegou a 60 anos em 2020. Houve uma queda em decorrência da pandemia. Na projeção média da ONU a expectativa de vida ao nascer, para ambos os sexos, deve ficar em torno de 70 anos em 2100 (como mostra o gráfico abaixo, painel da direita).

Em decorrência das altas taxas de fecundidade, a população jovem de 0-14 anos da RDC vai continuar crescendo até o final do século XXI, como mostra o gráfico abaixo (painel da esquerda). Já o número de idosos (gráfico da direita) cresceu lentamente entre 1950 e 2022 e deve acelerar o crescimento na segunda metade do século XXI.

A lenta mudança da estrutura etária tem mantido as pirâmides etárias da RDC com uma base larga e o topo estreito, conforme mostrado nos gráficos abaixo. As pirâmides etárias de 1950 e 2022 mantiveram o modelo clássico de estrutura rejuvenescida. Assim, o país mantém uma alta razão de dependência de jovens e uma baixa proporção de pessoas em idade ativa. Se a queda da fecundidade se aprofundar poderá haver o aproveitamento do 1º bônus demográfico, que é uma condição essencial para a redução da pobreza e o a melhoria do padrão de vida da população. A pirâmide de 2100 vai apresentar uma leve redução relativa da base e um crescimento do meio da distribuição etária. As faixas verdes e amarelas representam as possibilidades para os casos de lenta redução da fecundidade.

A RD do Congo terá uma situação demográfica favorável à oferta de força de trabalho no restante do século XXI, pois a razão de dependência vai diminuir de cerca de 100 atualmente para cerca de 60 entre 2070 e 2100, como mostra o gráfico abaixo. Se a economia reagir e conseguir gerar grande quantidade de emprego, a RDC poderá avançar no processo de desenvolvimento humano. Mas se a economia fracassar, o país terá uma bolha de jovens, que na falta de perspectivas de mobilidade social ascendente, poderá criar instabilidade política e grande anomia social.

RDC tinha uma participação no PIB global em torno de 0,15% em 1980 e caiu para 0,04% entre 2000 e 2010, apresentou aumento nos últimos anos e deve ficar com cerca de 0,09% em meados da atual década, conforme mostra o gráfico abaixo (lado esquerdo). A renda per capita da República do Congo (em preços correntes em poder de paridade de compra) era de apenas US$ 807 em 1980, bem abaixo da renda per capita mundial. Depois de uma queda acentuada na década de 1990, nos últimos anos a renda cresceu para US$ 1,3 mil em 2022 e deve chegar a US$ 1,6 mil em 2026, para uma renda média global de US$ 25 mil, conforme mostra o gráfico abaixo (lado direito). Portanto, a RDC tem renda bem abaixo da média mundial e é um dos países mais pobres do mundo.

A República Democrática do Congo tinha um dos maiores superávits ambientais do mundo. Segundo o Instituto Global Footprint Network a RDC tinha, em 1961, uma Pegada Ecológica per capita de 0,96 hectare global (gha) e uma Biocapacidade per capita de 13,51 gha. Mas com o alto crescimento demográfico, a Biocapacidade per capita caiu para 2,16 gha em 2018, a despeito da queda da Pegada Ecológica per capita que passou para 0,78 gha em 2018. Assim, a RDC ainda mantém superávit ecológico, mas em níveis cada vez menores, conforme mostra a figura abaixo.

Líderes dos países africanos estão se preparando para usar a próxima cúpula climática da ONU (a COP27 no Egito, em novembro/22) para pressionar por novos investimentos maciços em combustíveis fósseis, de acordo reportagem do jornal The Guardian (01/08/22). Um documento técnico preparado pela União Africana, indica uma posição comum para pressionar por uma expansão de produção de combustíveis fósseis em todo o continente. Ou seja, os países africanos exigem o “direito” de cometer o mesmo erro dos países desenvolvidos, às custas do aumento das emissões de CO2 e da possibilidade de um colapso ambiental ainda mais catastrófico.

Evidentemente, o caminho não pode ser este. A melhor alternativa para os países africanos é aprofundar na transição demográfica e na transição energética, visando lutar contra a pobreza sem comprometer ainda mais a sustentabilidade ambiental. Sem dúvida, a África precisa da ajuda internacional para aumentar o bem-estar humano e ecológico, sendo que as metas do Acordo de Paris devem ser seguidas e aprofundadas por todos.

Os cenários futuros da República Democrática do Congo indicam a necessidade de criar milhões de empregos anuais e elevar os níveis da renda per capita para reduzir a pobreza e elevar as condições de vida da população. Mas passar de cerca de 100 milhões de habitantes atualmente para mais de 400 milhões no final do século colocará uma grande pressão sobre o meio ambiente.

Em 2100, a RDC terá uma densidade demográfica de 191 hab/km2, muito superior à densidade chinesa que será de 80 hab/km2. Desta forma, aprofundar a transição demográfica e aproveitar a estrutura etária favorável do bônus demográfico é uma tarefa urgente e fundamental para garantir o desenvolvimento humano e a proteção ambiental. (ecodebate)

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