“Se os governos continuarem
com as mesmas políticas ambientais atualmente em vigor, o mundo ficará 2,8°C
mais quente até o final do século, o que seria uma sentença de morte para a
vida na Terra” – Secretário-geral da ONU, António Guterres.
O Dia da Terra foi criado em
22/04/1970 a partir da iniciativa do senador norte-americano Gaylord Nelson e
ocorreu antes da Conferência de Estocolmo de 1972. A data tinha a finalidade de
criar uma consciência comum sobre os problemas da contaminação, conservação da
biodiversidade e outras preocupações ambientais para proteger o Planeta.
Infelizmente, o cenário ambiental e climático atual é cada vez mais desafiador,
após 53 anos de muito blá-blá-blá e pouca ação para evitar uma catástrofe
ecológica.
O relatório “State of the
Global Climate 2022”, elaborado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM),
divulgado em 21/04/23, adverte que os últimos oito anos foram os mais quentes
já registrados no Holoceno (últimos 12 mil anos), provocando o aumento da
concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, aumento do aquecimento dos
solos e dos oceanos, aumento do degelo dos polos, da Groenlândia e dos
glaciares, elevação do nível dos oceanos e um agravamento dos eventos
climáticos extremos, trazendo mais secas, inundações e ondas de calor para
várias partes do mundo, colocando em risco as vidas humanas e não humanas.
A seca tomou conta da
África Oriental. A precipitação tem estado abaixo da média em cinco estações
chuvosas consecutivas, a mais longa sequência desse tipo em 40 anos. Em janeiro
de 2023, estimava-se que mais de 20 milhões de pessoas enfrentavam insegurança
alimentar aguda em toda a região, sob os efeitos da seca e de outros choques.
A chuva recorde em julho e
agosto levou a grandes inundações no Paquistão. Houve mais de 1.700 mortes e 33
milhões de pessoas foram afetadas, enquanto quase 8 milhões de pessoas foram
deslocadas. Os danos totais e as perdas econômicas foram avaliados em US$ 30
bilhões. Julho (181% acima do normal) e agosto (243% acima do normal) foram os
mais chuvosos já registrados nacionalmente.
Ondas de calor recorde
afetaram a Europa durante o verão. Em algumas áreas, o calor extremo foi
combinado com condições excepcionalmente secas. O excesso de mortes associadas
ao calor na Europa ultrapassou 15.000 no total na Espanha, Alemanha, Reino
Unido, França e Portugal.
A China teve a sua onda de
calor mais extensa e duradoura desde o início dos recordes nacionais,
estendendo-se de meados de junho até o final de agosto e resultando no verão
mais quente já registrado por uma margem de mais de 0,5º C. Foi também o
segundo verão mais seco já registrado.
Insegurança alimentar: em
2021, cerca de 2,3 bilhões de pessoas enfrentavam insegurança alimentar, das
quais 924 milhões enfrentavam insegurança alimentar grave. As projeções estimam
que 767,9 milhões de pessoas enfrentarão desnutrição em 2021, 9,8% da população
global. Metade deles está na Ásia e um terço na África.
Ondas de calor na estação pré-monções de 2022 na Índia e no Paquistão causaram uma queda no rendimento das safras. Isso, combinado com a proibição das exportações de trigo e restrições às exportações de arroz na Índia após o início do conflito na Ucrânia, ameaçou a disponibilidade, o acesso e a estabilidade de alimentos básicos nos mercados internacionais de alimentos e impôs altos riscos aos países já afetados pela escassez de alimentos básicos.
Deslocamento: Na Somália, quase 1,2 milhão de pessoas foram deslocadas internamente devido aos impactos catastróficos da seca nos meios de subsistência pastoris e agrícolas e da fome durante o ano, das quais mais de 60.000 pessoas cruzaram para a Etiópia e o Quênia durante o mesmo período. Ao mesmo tempo, a Somália estava hospedando quase 35.000 refugiados e requerentes de asilo em áreas afetadas pela seca. Outros 512.000 deslocamentos internos associados à seca foram registrados na Etiópia.
As inundações no Paquistão
afetaram cerca de 33 milhões de pessoas, incluindo cerca de 800.000 refugiados
afegãos alojados nos distritos afetados. Até outubro, cerca de 8 milhões de
pessoas foram deslocadas internamente pelas enchentes, com cerca de 585.000
abrigadas em locais de socorro.
Ambiente: As alterações
climáticas têm consequências importantes para os ecossistemas e para o
ambiente. Por exemplo, uma avaliação recente com foco na área única de alta
elevação ao redor do planalto tibetano, o maior depósito de neve e gelo fora do
Ártico e da Antártica, descobriu que o aquecimento global está causando a
expansão da zona temperada.
A mudança climática também
está afetando eventos recorrentes na natureza, como quando as árvores florescem
ou os pássaros migram. Por exemplo, o florescimento da flor de cerejeira no
Japão foi documentado desde 801 DC e mudou para datas anteriores desde o final
do século XIX devido aos efeitos das mudanças climáticas e do desenvolvimento
urbano. Em 2021, a data de floração completa foi 26 de março, a mais antiga
registrada em mais de 1200 anos. Em 2022, a data de floração foi 1º de abril.
Nem todas as espécies em um ecossistema respondem às mesmas influências climáticas ou nas mesmas taxas. Por exemplo, os tempos de chegada da primavera de 117 espécies de aves migratórias europeias ao longo de cinco décadas mostram níveis crescentes de incompatibilidade com outros eventos da primavera, como a saída de folhas e o voo de insetos, que são importantes para a sobrevivência das aves. É provável que tais incompatibilidades tenham contribuído para o declínio populacional de algumas espécies migratórias, particularmente aquelas que invernam na África subsaariana.
O relatório da OMM é realmente assustador. O fato é que quanto mais tempo ignoramos os avisos explícitos de que o aumento das emissões de carbono está aquecendo perigosamente a Terra, maior será o preço a pagar. E o que surpreende na tendência ao colapso climático é a velocidade com que a temperatura média global aumenta e se traduz em clima extremo. Porém, por mais sombrio que seja o cenário climático, isto não deve inibir as ações para mitigar o aquecimento global para impedir que um futuro angustiante se torne ainda mais verdadeiramente cataclísmico.
O livro “Hothouse Earth: An
Inhabitant’s Guide”, do professor de ciências da Terra da University College
London, Bill McGuire argumenta que, depois de anos ignorando os avisos dos
cientistas, é tarde demais para evitar os impactos catastróficos das mudanças
climáticas. Ele diz que já é um mundo diferente lá fora e em breve será
irreconhecível para todos nós, pois o colapso total do clima se tornou
inevitável. Muitos cientistas climáticos, disse ele, estão mais assustados com
o futuro do que estão dispostos a admitir em público.
McGuire chama a relutância da maioria dos cientistas em participar de ações civis contra os promotores da crise climática de “apaziguamento climático” e diz que isso só piora as coisas. Por isto é tão importante a participação de ativistas como Greta Thunberg, que no Fórum Econômico de Davos, em 21/01/2020, disse: “Nossa casa ainda está pegando fogo. Sua inação está alimentando as chamas a cada hora. Ainda estamos dizendo para vocês entrarem em pânico e agir como se vocês amassem seus filhos acima de tudo”.
Segundo McGuire, a mudança climática severa é agora inevitável e irreversível. A sentença de morte foi decretada. Evidentemente, ainda é possível revogar a “sentença de morte”, se agirmos para tentar impedir que as condições materiais se deteriorem ainda mais. Também há necessidade de tomar medidas para a adaptação climática. O futuro será cada vez mais desafiador, mas a humanidade não deveria desistir de buscar uma política de redução de danos no curto e médio prazo e buscar reduzir a Pegada Ecológica no longo prazo para reduzir os efeitos de uma “Terra estufa”. (ecodebate)
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