Estudo apresenta ações de economia circular para a descarbonização de grandes cidades.
Pesquisa analisa os Planos de Ação Climática do Rio de Janeiro e de São Paulo e traz recomendações para tornar as cidades mais circulares.
Responsável pela maioria
das emissões de Gases de Efeito Estufa, setor de transportes precisa ser eletrificado
e abastecido por uma matriz energética renovável;
Novo design urbano e
mudanças nas formas de produção e consumo também estão entre as indicações.
Para reduzir as emissões de
Gases de Efeito Estufa (GEE) até 2050 e se aproximar de um cenário net zero, as
cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo terão que focar suas ações em mudanças
no setor de transportes. Esta é uma das conclusões do estudo “Economia Circular
— Cidades do Futuro e Descarbonização”, realizado por pesquisadores do IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e da Exchange 4 Change Brasil, a pedido
da Enel Brasil.
O estudo apresenta um
diagnóstico com base nos Planos de Ação Climática das duas cidades, avaliando o
potencial de aplicação dos princípios de Economia Circular nas ações previstas
para a descarbonização da economia das duas maiores metrópoles brasileiras.
O diagnóstico parte dos dados
de emissões de GEE dos municípios e da análise das ações necessárias para
mitigação e/ou compensação de emissões visando alcançar a neutralidade em 2050.
O estudo propõe uma reflexão com sugestões de como as duas cidades podem
avançar no desenvolvimento de soluções circulares, de forma pragmática e
impactante.
A pesquisa mostra que o setor
de transportes foi responsável por 62% das emissões em São Paulo (dados mais
recentes, de 2018) e por 35% das emissões no Rio de Janeiro (dados mais
recentes, de 2019). Na capital paulista, estima-se que 1/3 das emissões do
transporte rodoviário a diesel tenha como fontes ônibus urbanos municipais.
Diante desse cenário, as
ações voltadas ao setor transportes ganham destaque nas metas de emissões de
GEE traçadas pelas duas capitais para 2050. Em São Paulo, as projeções
apontadas pelo estudo indicam um aumento de 100% até 2050 em relação aos dias
de hoje, se não houver esforços para a mitigação de emissões. No cenário
ambicioso (aquele que prevê ações viáveis e que estejam ao alcance da
administração municipal), ocorre uma redução de 30% em relação aos níveis
atuais.
Já no cenário estendido
(aquele que considera todas as ações necessárias para alcançar o cenário net
zero, inclusive as que ultrapassam a competência da administração municipal), a
redução das emissões de GEE é de 91% em relação aos níveis atuais, percentual
muito próximo da meta de emissões líquidas iguais a zero.
No Rio de Janeiro, o cenário tendencial aponta para um aumento de 59% das emissões até 2050. Com a adoção de medidas mitigadoras, a redução fica em 42% no cenário ambicioso e 88% no cenário estendido. As ações voltadas ao setor de transportes, incluindo o aumento da eficiência energética e a mudança de combustível, representam as maiores reduções de emissões de GEE.
Soluções circulares para descarbonizar
A partir do panorama das
emissões e das metas para alcançar a neutralidade em 2050 nas duas capitais, a
pesquisa apresenta um diagnóstico e traça seis pontos-chaves que apontam
caminhos para as cidades avançarem em soluções circulares que contribuam para a
descarbonização.
Para os pesquisadores, as grandes cidades são vistas como líderes fundamentais para a transição de uma economia linear para o modelo circular. Além de abrigar 70% da população global, nas projeções até 2050, os centros urbanos representam um cenário ideal para esta transição circular, já que reúnem atividades de diversos setores. E os benefícios desta transição vão além da aceleração dos planos de descarbonização. A circularidade proporciona melhores condições de vida e mais oportunidades de emprego. Em uma cidade circular, toda a infraestrutura urbana, materiais e nutrientes são fundamentados no conceito-chave de eliminar resíduos e poluição desde a sua origem.
Redução de distâncias percorridas
Neste cenário, a primeira recomendação do estudo é repensar o modelo das cidades, reduzindo as distâncias a serem percorridas pelos cidadãos, produtos e bens consumidos. A magnitude das emissões associadas ao setor de transportes evidencia a importância desse novo design urbano, além da descarbonização do setor. A pesquisa indica que a área de transportes precisa ser eletrificada e abastecida por uma matriz renovável, contribuindo decisivamente para uma cidade mais saudável, menos poluída, mais resiliente e mais acessível. Um exemplo é o compartilhamento de faixas abaixo das linhas de transmissão da Enel São Paulo, onde a distribuidora forma parcerias que garantem a produção próxima ao consumo, pelo projeto Hortas em Rede. Estes espaços geram quase 10 toneladas de alimentos ao mês e aumentam a renda dos beneficiados.
PPPs para descarbonizar as frotas
O segundo ponto-chave é a
adoção de novos modelos de negócios. Segundo a pesquisa, algumas das medidas
propostas nos Planos de Ação Climática do Rio e de São Paulo terão alcance
limitado, se não estiverem associadas a novos modelos de negócio e a uma
mudança de comportamentos e atitudes da sociedade. Uma sugestão é a adoção de
Parcerias Público-Privadas (PPPs) em cidades que já buscam alternativas para
descarbonizar suas frotas e desenvolver infraestrutura para eletrificação
veicular.
Matriz elétrica verde e
diversa
A diversificação da matriz elétrica brasileira é outra indicação do estudo para evitar o acionamento de termoelétricas em casos de escassez hídrica. É preciso ampliar a capacidade instalada de geração de energia no país, com ênfase no uso de fontes renováveis e limpas, como eólicas, fotovoltaicas e de biomassa, e assim garantir a eletrificação de diferentes setores da economia com energia verde. Nesse caso, o incentivo de governos por meio de políticas públicas às cadeias de fornecimento e o avanço da tecnologia relacionados a esse setor econômico podem trazer ganhos em escala, que tornarão a energia ainda mais barata.
Acesso igualitário a tecnologias
A quarta recomendação do
estudo destaca que as ações para a promoção da circularidade e da
descarbonização nas cidades devem priorizar a qualidade de vida dos cidadãos,
sem acentuar a desigualdade e os problemas sociais característicos das grandes
cidades. Para isso, as políticas públicas devem tornar igualitário o acesso às
tecnologias previstas para a descarbonização, como uso de carros elétricos, a
instalação de painéis fotovoltaicos e sistemas de inteligência artificial.
Mudança nas relações
comerciais
A adoção de processos circulares nas compras públicas e governança é a quinta orientação dos pesquisadores. De acordo com o estudo, as administrações públicas precisam priorizar a aquisição de ativos que tenham em sua composição materiais renováveis, recicláveis ou biodegradáveis e menor emissão de carbono na sua produção. Além disso, a tecnologia também precisa ser vista como uma ferramenta para catalisar a circularidade econômica. A criação de infraestruturas digitais e novas tecnologias permitem mecanismos de planejamento e gestão urbanos mais transparentes e interativos, com maior participação dos cidadãos, além de remodelar as relações comerciais, transformando consumidores em usuários e promovendo novos negócios e serviços.
Novas formas de produção e consumo
A sexta recomendação do
estudo ressalta a importância da participação de toda a sociedade no processo
de descarbonização, com a mudança cultural e de comportamento do consumidor.
Neste processo, é necessário o envolvimento dos setores industrial e comercial,
já que é a mudança nas formas de produção, comercialização e consumo de bens é
imprescindível, assim como as formas de prestação de serviços. O poder público
deve atuar como fomentador da transformação em processos de produção,
estimulando a redução da geração de resíduos e poluição, por meio de estratégias
de regulação e fiscalização dessas atividades. (ecodebate)
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