O desmatamento no Cerrado
atingiu 491 mil hectares no primeiro semestre de 2023, área sete vezes maior
que a cidade de Salvador. Esse número representa um aumento de 28% em relação
ao mesmo período no ano passado, quando foram desmatados quase 383 mil
hectares, segundo dados detectados e confirmados pelo SAD Cerrado (Sistema de
Alerta de Desmatamento do Cerrado) divulgados em 18/07/23 pelo
IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Além disso, foram confirmados
126 mil hectares de desmatamento no mês de junho, um aumento 20,6% em relação
ao ano passado. Estados do Matopiba – fronteira agrícola composta por áreas dos
estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – responderam por 74,7% de todo o
desmatamento no bioma, cerca de 367 mil hectares.
De acordo com levantamento
realizado pelo SAD Cerrado, o desmatamento tem sido caracterizado por grandes
áreas desmatadas rapidamente dentro de propriedades privadas observadas nos
últimos meses. Grandes propriedades concentraram 48% (ou 193 mil hectares) do
desmatamento ocorrido dentro de áreas privadas nesse primeiro semestre de 2023,
seguido por propriedades médias (33%, por volta de 133 mil hectares) e pequenas
(19%, 76 mil hectares).
O perfil de desmatamento
também foi marcado pelas grandes áreas desmatadas dentro de poucas
propriedades. Em São Desidério, município líder de desmatamento no primeiro
semestre de 2023, apenas 30 propriedades foram responsáveis pelo desmatamento
de 18,2 mil hectares – cerca de 76% de tudo que foi desmatado pelo município no
semestre.
Em Mirador, cidade que mais
desmatou o Cerrado em junho deste ano, 68% de todo o desmatamento se concentrou
em apenas 20 propriedades. O município maranhense havia desmatado apenas 3,5
mil hectares entre janeiro e maio, mas seus números dispararam, chegando a 6
mil hectares perdidos apenas no mês passado, um aumento de 188,5% em apenas 30
dias.
O SAD é um sistema de monitoramento desenvolvido por pesquisadores do IPAM que fornece alertas de desmatamento de vegetação nativa em todo o Cerrado. O projeto faz uso de imagens do satélite Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia, e técnicas avançadas de processamento de imagem.
Chegada da seca
Dados para o primeiro
semestre confirmam o aumento acelerado do desmatamento observado no início do
ano. Com a chegada do período seco no Cerrado, pesquisadores do SAD também
alertam para a possibilidade de números ainda maiores nos próximos meses. Para
Tarsila Andrade, pesquisadora do IPAM, o volume de desmatamento, ainda no
início da seca, tem sido alarmante.
“Durante o período da seca, a expansão agropecuária tende a aumentar devido às condições climáticas propícias para as atividades agrícolas. No entanto, os índices de desmatamento no Cerrado estão alcançando níveis recordes já nos primeiros meses da estação seca deste ano. Esse aumento evidencia a intensidade e velocidade do processo de destruição do bioma. Por isso é fundamental o estabelecimento de políticas e ações efetivas que visem à proteção e preservação do Cerrado, considerando seus ecossistemas únicos, a biodiversidade e o papel crucial que desempenham na mitigação das mudanças climáticas”, destacou.
Maiores desmatadores
O município de São Desidério,
no oeste da Bahia, liderou o ranking de desmatamento no Cerrado durante o
primeiro semestre de 2023, seguido por Balsas, no sul do Maranhão, e
Correntina, também na Bahia. Juntos, os três municípios totalizaram 51,5 mil
hectares desmatados. Os municípios da Bahia e do Maranhão ocupam 8 das 10
primeiras posições do ranking de desmatamento nos primeiros seis meses do ano.
“Nos últimos meses, temos
visto um aumento da expansão do agronegócio em diferentes regiões do Matopiba,
onde também estão concentrados os últimos grandes remanescentes de vegetação
nativa do Cerrado. O aumento repentino do desmatamento em Mirador pode ser
parcialmente explicado pela expansão agrícola em direção aos últimos
remanescentes, juntamente com outros fatores locais”, destacou Fernanda
Ribeiro, pesquisadora do IPAM.
Apesar do domínio de São Desidério, que liderava os relatórios mensais desde fevereiro, o mês de julho foi marcado por um novo líder para a lista de maiores derrubadores de Cerrado: Mirador. O crescimento do desmatamento no município acompanha um aumento das detecções de novas áreas abertas na região sul do Maranhão, estado que liderou a lista no último mês com 45,7 mil hectares perdidos. No mês de junho, 6 dos 10 municípios que mais perderam vegetação nativa estão no Maranhão.
Sobre o SAD Cerrado
O Sistema de Alerta de
Desmatamento do Cerrado é um projeto de monitoramento mensal e automático que
utiliza imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial
Europeia. O SAD Cerrado é uma ferramenta analítica que fornece alertas de
supressão de vegetação nativa para todo o bioma, trazendo informações sobre
desmatamento no bioma desde agosto de 2020.
A confirmação de um alerta de
desmatamento é realizada a partir da identificação de ao menos dois registros
da mesma área em datas diferentes, com intervalo mínimo de dois meses entre as
imagens de satélite. A metodologia é detalhada no site do SAD Cerrado.
Relatórios de alertas para o
mês de abril e períodos anteriores estão disponíveis neste link. No painel
interativo, é possível selecionar estados, municípios, categorias fundiárias e
o intervalo temporal para análise.
O objetivo do sistema é fornecer alertas de desmatamentos maiores de 1 hectare, atualizados mês a mês. Pesquisadores entendem que o SAD Cerrado pode se constituir como uma ferramenta complementar a outros sistemas de alerta de desmatamento no bioma, como o DETER Cerrado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), otimizando o processo de detecção em contextos visualmente complexos.
Acesse os dados georreferenciados clicando aqui. (ecodebate)
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