Nas últimas décadas, o Brasil
tem apresentado um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) menor do que o da
média global, enquanto a Malásia cresce em ritmo mais acelerado e já tem uma
renda per capita no patamar das economias avançadas.
A Malásia é um país do Leste
asiático, que abarca dois territórios não contíguos, ocupando uma parte da
península Malaia ao sul da Tailândia e ao norte de Singapura e da Indonésia e
outra parte ocupando o norte da ilha de Bornéu, fazendo fronteira marítima com
o Vietnã e as Filipinas. A área territorial da Malásia é de 330 mil km2 e a
densidade demográfica é de 104 habitantes por km2, em 2023. Para
efeito de comparação a Malásia tem uma área geográfica menor do que a do estado
do Mato Grosso do Sul e uma população menor do que a do estado de São Paulo.
Os gráficos abaixo, da Divisão de População da ONU, mostram as populações dos dois países entre 1950 e 2022, com um leque de projeções até 2100. A população brasileira era de 54 milhões de habitantes em 1950, passou para 215 milhões em 2022, deve atingir o pico populacional em 2046, com 231 milhões de pessoas, com a média das projeções indicando 185 milhões de habitantes em 2100. Já a população da Malásia era de 6 milhões de habitantes em 1950, passou para 34 milhões em 2022, deve atingir o pico populacional em 2066, com 42,2 milhões de pessoas, com a média das projeções indicando 39,5 milhões de habitantes em 2100 (gráficos da esquerda).
Os gráficos da direita mostram a população em idade ativa (PIA) dos dois países. A PIA brasileira vai começar a diminuir em meados da década de 2030 e a PIA malaia de começar a decrescer na década de 2040. Isto quer dizer que a fase de “oferta ilimitada” de trabalho está com os dias contatos. Isto coloca desafios, mas também oportunidades para se consolidar uma força de trabalho mais qualificada e com maior produtividade e bem-estar.
Cabe destacar que os dois países estão em fases avançadas da transição demográfica, com redução importante das taxas de mortalidade e natalidade. O gráfico abaixo mostra que o mundo, o Brasil e a Malásia tinham uma expectativa de vida ao nascer abaixo de 50 anos em meados do século passado. Em 2019 os valores já tinham passado de 70 anos. Com a pandemia da covid-19 houve queda da expectativa de vida. Mas os níveis já foram recuperados e o Brasil e a Malásia devem ter uma vida média de cerca de 88 anos, para uma expectativa de vida ao nascer de 82 anos na média mundial.
O gráfico abaixo apresenta a Taxa de Fecundidade Total (TFT) para o mundo, o Brasil e a Malásia no período de 150 anos. Nota-se que, em meados do século XX, o número médio de filhos estava em torno de 5 filhos por mulher no mundo e acima de 6 filhos no Brasil e na Malásia. A transição de altos para baixos níveis da TFT começou na segunda metade da década de 1960 e a queda foi mais rápida no Brasil. A TFT ficou abaixo do nível de reposição por volta de 2005 no Brasil e por volta de 2015 na Malásia, enquanto no mundo a taxa só ficará abaixo de 2,1 filhos por mulher por volta de 2060. Uma TFT ficando abaixo do nível de reposição no longo prazo significa que a população total irá decrescer no futuro.
A transição da fecundidade implica, deterministicamente, em uma transição da estrutura etária, com o avanço do processo de envelhecimento. Os gráficos abaixo mostram como as pirâmides etárias do Brasil e da Malásia passam por uma redução da base, seguido por um alargamento do meio da pirâmide (época do chamado 1º bônus demográfico) e um alargamento do topo no futuro. Portanto, o envelhecimento populacional é uma tendência inexorável.
Uma maneira simples de medir o processo de envelhecimento populacional é por meio da análise da evolução da idade mediana da população, conforme mostra o gráfico abaixo. Nota-se que a idade mediana da população mundial estava pouco acima de 20 anos na segunda metade do século passado, enquanto a idade mediana no Brasil e na Malásia estava pouco abaixo de 20 anos. Mas no século XXI o envelhecimento populacional avançou rapidamente com a estimativa de uma idade mediana de 42,3 anos no mundo, de 48 anos na Malásia e de 50,4 anos no Brasil. Ou seja, metade da população brasileira terá menos de 50 anos e a outra metade terá mais de 50 anos no final do atual século.
O avanço do envelhecimento populacional significa o fim do 1º bônus demográfico, que é a fase em que existe uma alta proporção de pessoas em idade ativa. Quando a disponibilidade de força de trabalho diminuiu, a única possibilidade de progresso é via o 2º bônus demográfico (bônus da produtividade) e via 3º bônus demográfico (bônus da longevidade). Mas, sem dúvida, até hoje, todo país que enriqueceu deu o salto para o grupo das economias ricas antes do envelhecimento. Portanto, existe uma relação forte entre demografia e economia.
Como visto no gráfico acima,
o envelhecimento populacional no Brasil é um pouco mais rápido do que na
Malásia e na média mundial. O que preocupa no caso brasileiro é que a renda per
capita não avançou no ritmo necessário para “enriquecer antes de envelhecer”.
O gráfico abaixo mostra a renda per capita, a preços constantes em poder de paridade de compra, do Brasil e da Malásia de 1980 a 2028. A renda per capita brasileira era de US$ 11,4 mil em 1980, bem acima da renda malaia que era de US$ 7,5 mil na mesma data. Em 1991, a Malásia ultrapassou o Brasil. Nos anos seguintes a diferença se ampliou e a renda per capita da Malásia chegou a US$ 29 mil em 2022, contra US$ 15,2 mil do Brasil. Segundo as projeções do FMI, em 2028, a renda per capita do Brasil será de US$ 15,8 mil e da Malásia será de US$ 34,9 mil, mais do dobro da renda brasileira. Ou seja, a Malásia vai entrar no clube dos países ricos com uma renda semelhante à renda grega e um pouco menor do que a renda de Portugal.
Quando se analisa o tamanho da economia de cada país na economia global se percebe que a economia da Malásia cresce e a economia do Brasil decresce. O gráfico abaixo mostra que, em 1980, o PIB brasileiro representava 4,3% do PIB global e o PIB da Malásia representava 0,35%. Mas em 2022 os números passaram para 2,35% e 0,69%. Para 2028, a projeção indica uma participação brasileira de 2,2% e a participação malaia de 0,75% na economia mundial. Ou seja, em termos relativos, aproximadamente, o PIB brasileiro encolheu pela metade, enquanto o PIB da Malásia dobrou de tamanho.
O gráfico abaixo, do site, Our World in Data, mostra que, na década de 1990, a parcela da população mundial vivendo abaixo da linha da extrema pobreza, de $2,15 ao dia, estava acima de 35%, no Brasil estava em torno de 25% e na Malásia abaixo de 5%. Em 2019, os números mundiais caíram para cerca de 10% e para cerca de 5% no Brasil (com o auxílio emergencial em 2020 no Brasil a pobreza caiu um pouco mais). Porém, a extrema pobreza foi eliminada na Malásia em 2015.
O gráfico abaixo mostra que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Malásia já era maior do que o IDH brasileiro em 1990 e a diferença aumentou a favor da Malásia nas últimas 3 décadas. O IDH é um índice sintético que mostra que o bem-estar social é mais avançado no país asiático.
Sem dúvida, os dados confirmam que o Brasil e a Malásia possuem uma dinâmica demográfica semelhante, mas o país asiático possui um desempenho econômico e social bem acima do desempenho brasileiro. Embora a Malásia tenha um volume populacional e econômico menor do que o Brasil, tem uma melhor qualidade de vida para seus habitantes.
Os 4 Tigres Asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura) sempre aparecem nos estudos que falam dos países que tiveram sucesso e saíram da pobreza, superaram a armadilha da renda média e entraram no clube dos países desenvolvidos. Mas a Malásia está trilhando o mesmo caminho e está à beira de conquistar o status de país desenvolvido. O Brasil tem muito a aprender com a Malásia. (ecodebate)
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