above 0.950 0.900-0.949 0.850-0.899 0.800-0.849 0.750-0.799 |
0.700-0.749 0.650-0.699 0.600-0.649 0.550-0.599 0.500-0.549 |
0.450-0.499 0.400-0.449 0.350-0.399 0.300-0.349 under 0.300 n/a |
Marrocos e a Tunísia vão
apresentar decrescimento demográfico nas últimas décadas do atual século porque
as taxas de fecundidade estarão abaixo do nível de reposição.
A África terá um grande crescimento demográfico ao longo do século XXI, como mostra o gráfico abaixo. A população mundial era de 2,5 bilhões de habitantes em 1950, sendo 228 milhões na África (com 9,1% do total global). Em 2022, a população mundial passou para 8 bilhões de habitantes, sendo 1,43 bilhão na África (17,9% do total). Segundo as projeções da Divisão de População da ONU, em 2100, a população mundial será de 10,3 bilhões de habitantes, sendo 3,9 bilhões na África (37,9% do total).
O alto crescimento demográfico da África se deve aos altos níveis de fecundidade. O artigo Africa’s unique fertility transition, do demógrafo John Bongaarts, publicado na prestigiosa revista acadêmica Population and Development Review (PDR), em 2017, mostra que a diferença da África Subsaariana em relação à outras regiões do mundo é que a transição demográfica acontece de maneira tardia (later), em ritmo mais lento (slower), teve início em um limiar de desenvolvimento mais baixo (Earlier). O nível da fecundidade é mais elevado (higher) do que em outras regiões do mundo, assim como é menor o uso de métodos contraceptivos.
Desta forma, a lenta
transição da fecundidade na África – ao manter alto crescimento populacional e
uma alta razão de dependência de jovens – retarda o aproveitamento do bônus
demográfico, agrava a situação da “armadilha da pobreza”, comprometendo a
possibilidade de um futuro de bem-estar social.
Mas nem todos os países
africanos vão crescer ininterruptamente nas próximas décadas. O Marrocos e a
Tunísia devem apresentar decrescimento populacional no final do atual século,
como mostram os gráficos abaixo.
A população do Marrocos era
de 8,9 milhões de habitantes em 1950, subiu para 37 milhões em 2022 e deve
atingir o pico populacional em 2070, com 46,5 milhões. A partir de 2071
iniciará um período inédito de decrescimento demográfico e deve chegar a 43,9
milhões de habitantes em 2100.
A população da Tunísia era de 3,6 milhões de habitantes em 1950, subiu para 12,5 milhões em 2022 e deve atingir o pico populacional em 2060, com 14,5 milhões de habitantes. A partir de 2061 iniciará um período inédito de decrescimento demográfico e deve chegar a 13,5 milhões de habitantes em 2100.
A taxa de fecundidade total (TFT) do mundo é de 2,3 filhos por mulher em 2022. A TFT da África estava acima de 6,5 filhos por mulher entre 1950 e 1980 e caiu para pouco acima de 4 filhos por mulher em 2022, só devendo atingir o nível de reposição (2,1 filhos por mulher) no final do atual século.
O Marrocos e a Tunísia também
tinham TFT acima de 6 filhos por mulher em meados do século passado, mas
passaram pela transição da fecundidade nas últimas décadas. A Tunísia já
atingiu o patamar da taxa de reposição e deve continuar com níveis abaixo de
2,1 filhos por mulher. O Marrocos está próximo de atingir o nível de reposição,
que é aquele que delimita as tendências futuras da dinâmica demográfica.
Mantida acima de 2,1 filhos por mulher, no longo prazo, a população cresce e
mantida abaixo de 2,1 filhos a população decresce.
Portanto, o Marrocos e a Tunísia vão apresentar decrescimento demográfico nas últimas décadas do atual século porque as taxas de fecundidade estarão abaixo do nível de reposição daqui em diante. Quanto maior for a queda da TFT, maior será o decrescimento futuro.
A queda da fecundidade é fundamental para a redução da pobreza. Segundo Costa Azariadis, no artigo “The theory of poverty traps: What have we learned?”, publicado no livro Poverty Traps (2006), um país encontra-se em círculo vicioso quando a situação de pobreza convive com baixos níveis de investimento em educação e saúde pública, quando existem altas taxas de mortalidade infantil, grande insegurança pública, baixa esperança de vida, reduzido tempo de vida dedicado ao trabalho produtivo, baixo investimento em infraestrutura e baixos investimentos em setores produtivos, ciência e tecnologia, etc. A armadilha da pobreza seria uma situação em que o alto crescimento do número de pessoas pobres dificultaria a redução da percentagem da população pobre do país.
Azariadis considera que para sair da armadilha da pobreza é preciso garantir uma boa governança, manter a estabilidade institucional, combater os governos cleptomaníacos, aumentar os investimentos em políticas públicas de educação, saúde e habitação, reduzir as taxas de mortalidade infantil e de fecundidade, aumentar o percentual da população em idade ativa, aumentar a esperança de vida, aumentar as taxas de poupança e investimentos, aprofundar a base técnica para a produção de bens e serviços e para a maior geração de empregos e proteção social.
A expectativa de vida está abaixo de 50 anos na maior parte dos países africanos, e abaixo de 60 anos, em todos os países, exceto para a África do Norte.
A transição demográfica é
fundamental para se atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Desta forma, somente com mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais se
pode passar do círculo vicioso da pobreza para o círculo virtuoso do desenvolvimento
humano e ambientalmente sustentável.
O Marrocos e a Tunísia vão
viver a oportunidade de aproveitar o 1º bônus demográfico e poderão servir de
exemplo para todo o continente. (ecodebate)
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