Em artigo, publicado na
revista científica Nature Ecology & Evolution, pesquisadores do Brasil e do
exterior alertam que os incêndios se tornaram o principal fator de degradação
da Amazônia brasileira, passando a ameaçar ganhos ambientais na proteção do
bioma, como a efetividade do PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal).
O grupo de cientistas
recomenda esforços “urgentes e coordenados” para eliminar os riscos do fogo
descontrolado, incluindo a cooperação e apoio internacional em pesquisa e
governança.
“Primeiro, é preciso entender
o que levou ao aumento do fogo. Com mais dados em mãos, as políticas podem ter
maior efetividade. Uma das hipóteses que consideramos para explicar a alta nos
incêndios é a ocorrência de uma queima antecipada, aproveitando o início da
estação seca amazônica, para evitar sanções mais severas no final do ano,
quando teremos que lidar com os efeitos fortes e esperados do El Niño”, explica
Paulo Moutinho, cientista sênior no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia) e um dos autores do artigo.
Apesar da queda de 42% registrada no desmatamento da Amazônia brasileira no primeiro semestre de 2023, na comparação com o mesmo período do ano passado, o fogo continuou subindo. De janeiro a julho deste ano, os focos de incêndio no bioma tiveram alta de 10,76% em relação a 2022.
Amazônia - 38% do que resta da área da floresta sofre com degradação causada por humanos.
Pela primeira vez, indicam os
pesquisadores, o fogo parece se desassociar do desmatamento na região.
Atividades que costumavam aparecer uma depois da outra nos indicadores, agora
seguem rumo inverso.
“O fogo na Amazônia
geralmente ocorre em áreas que foram desmatadas, ou seja, uma ilegalidade
conectada à outra. Por isso, chamamos fogo de desmatamento. Além desse, há
outros tipos de fogo característicos do bioma, como o fogo de manejo em
pastagens. Mas o fogo de desmatamento era o mais comum, muitas vezes causando
incêndios de grande proporção”, comenta Ane Alencar, diretora de Ciência no
IPAM, também autora do texto.
Só 19% dos focos detectados
pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), nos primeiros seis meses
de 2023, estavam relacionados a desmatamentos recentes – uma queda, cita a
publicação, comparada aos 39% registrados em 2022.
Além da ação humana, o
contexto climático oferece condições para o aumento do fogo: um El Niño ativo,
com efeitos de mais calor e mais seca, em retroalimentação com as mudanças
climáticas, que têm como consequência a alteração de padrões e ciclos naturais,
como o da chuva.
“O futuro da Amazônia sob as mudanças climáticas – mesmo se o desmatamento ilegal for zero – permanece pouco claro com as ameaças da emergência no clima, da seca e do fogo”, dizem os pesquisadores em um trecho. “As consequências da inação sobre o fogo na Amazônia e a desatenção aos tipos e causas do fogo são severas e devem ser evitadas”, ressaltam em outro.
Junto à articulação internacional, os autores indicam o comprometimento de países amazônicos para os avanços considerados necessários na gestão “equitativa e segura” contra os incêndios. Também sinalizam que a perda de vegetação nativa deve ser reduzida de maneira concomitante, bem como a transição de uma economia baseada em commodities agrícolas para uma bioeconomia sustentável. (ecodebate)
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