Estudo descobre que o Brasil
deve sofrer com o clima severo, prejudicando o rendimento das colheitas e um
dos maiores bancos do setor público do país.
Pesquisadores da Escola de
Política Global e Estratégia da Universidade da Califórnia em San Diego
desenvolveram um novo método para prever os impactos financeiros que a mudança
climática terá na agricultura, o que pode ajudar a apoiar a segurança alimentar
e a estabilidade financeira para países cada vez mais propensos a catástrofes
climáticas.
O estudo, publicado no
Proceedings of the National Academy of Sciences, utiliza dados climáticos e
agrícolas do Brasil. Ele conclui que a mudança climática tem um efeito em cascata
sobre a agricultura, levando ao aumento das inadimplências de empréstimos para
um dos maiores bancos do setor público do país. Nas próximas três décadas, as
inadimplências de empréstimos climáticos podem aumentar em até 7%, de acordo
com o estudo.
As projeções no artigo
revelaram que, embora as temperaturas estejam subindo em todos os lugares, há
uma variação substancial no que parece de região para região, o que ressalta a
necessidade de construir tipos distintos de resiliência física e financeira.
Por exemplo, prevê-se que
partes do norte do Brasil tenham oscilações sazonais mais dramáticas por volta
de 2050, com chuvas mais fortes no inverno e verões mais secos, então os
formuladores de políticas devem estar pensando sobre a necessidade de armazenamento
de água através da construção de barragens e reservatórios, bem como o aumento
da capacidade de armazenamento de águas subterrâneas. Por outro lado, o Brasil
central pode ter um clima bastante estável, mas terá temperaturas gerais mais
altas, apontando para a necessidade de culturas resistentes ao calor.
Os autores do artigo
utilizaram uma abordagem estatística emparelhando dados climáticos passados no
Brasil com informações sobre produtividade agrícola, receita agrícola e
desempenho de empréstimos agrícolas. Eles combinaram esses dados com simulações
climáticas para prever condições climáticas futuras e seus impactos na
agricultura e como essas mudanças afetarão as instituições financeiras.
“Uma dificuldade em estudar os impactos climáticos na agricultura é que há todos os tipos de adaptações acontecendo o tempo todo que não são facilmente observadas, mas são realmente importantes para entender a vulnerabilidade e como o risco está mudando”, disse a coautora Jennifer Burney, professora de ciência ambiental da Escola de Política Global e Estratégia da UC San Diego e Instituição de Oceanografia da Scripps. “Conseguimos distinguir sinais de diferentes tipos de impactos climáticos e quais levaram a esse risco financeiro maior”.
Pensamento sistemático sobre a construção de resiliência contra as mudanças climáticas em todo o mundo
Um dos principais objetivos
da pesquisa é apoiar a segurança alimentar resiliente sob um clima em mudança,
o que requer compreensão de quando pequenas mudanças climáticas podem ter
impactos desproporcionais, derramando-se em regiões ou em outros setores por
meio de instituições como comércio e bancos.
Compreender o risco sistêmico
representado pelas mudanças climáticas é especialmente útil para os
formuladores de políticas e agências de assistência a desastres, já que as
mudanças climáticas se tornaram cada vez mais uma ameaça à segurança nacional.
Para tanto, a abordagem estatística desenvolvida no estudo poderia ser aplicada
em todo o mundo.
“A técnica que desenvolvemos
ajudará as populações a identificar onde elas são mais vulneráveis, como as
mudanças climáticas as prejudicarão mais economicamente e em quais instituições
devem se concentrar para construir resiliência”, disse o coautor do estudo
Craig McIntosh, professor de economia da Escola de Política e Estratégia
Global.
Por exemplo, alguns governos
da região do Pacífico Ocidental compram alimentos extras no mercado global em
anos emergentes do El Nino, quando sua própria produtividade de safra sofre. A
abordagem estatística usada no estudo poderia ajudar os governos de todo o
mundo a entender suas próprias condições climáticas e se as instituições
locais, regionais ou internacionais estarão em melhor posição para abordá-las.
A pesquisa pode ser especialmente útil com o desenvolvimento do fundo de perdas e danos estabelecido pelas Nações Unidas em 2022. O fundo é projetado para ajudar a compensar as nações em desenvolvimento que contribuíram menos para a crise climática, mas têm enfrentado o peso de suas inundações devastadoras, secas e aumento do nível do mar.
“Nossa técnica poderia ajudar os países a pensar onde os retornos de resiliência seriam mais altos para o dinheiro gasto”, disse Krislert Samphantharak, professor de economia da Escola de Política e Estratégia Global. “Essa técnica também ajuda a identificar onde o resseguro internacional pode ser necessário”.
A natureza espacial das mudanças climáticas históricas e projetadas do Brasil
A natureza espacial das mudanças climáticas históricas e projetadas do Brasil, com temperatura mostrada na linha superior e precipitação na fileira inferior. A coluna da esquerda mostra a temperatura média de base e a precipitação anual total no passado recente (1991 a 2020) e a segunda coluna mostra tendências de décadas para temperatura e precipitação. A terceira coluna mostra a diferença na magnitude sazonal total (desvios mensais absolutos de soma) entre o futuro e o passado recente (2040 a 2069 a 1991 a 2020). A quarta coluna mostra a mudança projetada em choques de temperatura e precipitação co-variáveis (em escala nacional), e a coluna final mostra as mudanças médias projetadas nas magnitudes de choque idiossincráticas locais entre o passado futuro e o passado recente. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário