“Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por
dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã”
- (O Sal da Terra, Beto Guedes)
As grandes potências mundiais e os principais bilionários globais querem construir bases humanas na Lua, em Marte e em outros planetas. O objetivo das potências espaciais, como EUA, Rússia e China é estabelecer bases extraterrestres para os astronautas viverem e começarem a colonização do sistema solar e, quem sabe, do Universo. Dizem que a colonização do espaço sideral trará benefícios para a população terrestre.
O empresário Jeff Bezos (1964 – ) – criador da Amazon e uma das pessoas mais ricas do mundo – sugere que a humanidade se reproduza e gere 1 trilhão de humanos para povoar o planeta e colonizar o Universo. Também o empresário provocador Elon Musk (1971 -), dono da Tesla, SpaceX e do antigo Twitter (agora X), tem dito que “A civilização vai desmoronar se as pessoas não tiverem mais filhos” e que “Marte tem uma grande necessidade de pessoas, visto que a população atualmente é zero. Vamos levar vida a Marte”!
Bezos e Musk colocam o
crescimento populacional como vetor essencial da acumulação de capital e
geração de lucro e tratam as pessoas como cobaias da exploração espacial. Eles
estão mais preocupados com a quantidade de mão-de-obra para as suas empresas e
a quantidade de consumidores para as suas mercadorias do que preocupados com a
qualidade de vida das pessoas e do meio ambiente.
Desta forma, há uma corrida
espacial entre os bilionários – Bezos, Musk e Branson – que investem bilhões na
disputa pela liderança da conquista do espaço e para o turismo espacial. Por
exemplo, um candidato para a nova Estação Espacial Internacional é o Orbital
Reef – uma joint venture entre a empresa espacial de Jeff Bezos, Blue Origin, e
a Sierra Space.
Enquanto o sonho de expandir
a presença humana para outros corpos celestes continua sendo uma utopia, uma
simples tentativa de voo para a Lua tem suas vantagens questionadas, com
efeitos ambientais muito negativos. A SpaceX realizou o terceiro lançamento de
seu veículo Starship, destinado a levar humanos à superfície da Lua ainda nesta
década.
O voo “quase orbital” (não
chega a dar uma volta na Terra, mas demonstra a capacidade de atingir a órbita)
partiu de Starbase, centro da companhia em Boca Chica, no Texas (Estados
Unidos), em 14/03/2024. Os motores do primeiro estágio (o Super Heavy), movidos
a metano e oxigênio líquidos, funcionaram a contento até a separação, e o
segundo estágio (a espaçonave propriamente dita, chamada também de Starship)
fez sua escalada ao espaço, concluída em cerca de oito minutos e meio.
Mas este curto voo da empresa de Elon Musk liberou cerca de 358 toneladas de CO2, que é uma quantia equivalente ao total de emissões geradas por 25 mil carros, 3 mil cabeças de gado, 20 mil pessoas ou 50 voos de Boeings 737, de acordo com dados obtidos do Everyday Astronaut e do Office for National Statistics, apresentado no gráfico abaixo.
Por enquanto, a quantidade global de emissões de gases com efeito de estufa provenientes dos voos espaciais é pequena, equivalente a 1% ou 2% da pegada de carbono da aviação, que por si só representa cerca de 2,5% das emissões globais de gases com efeito de estufa. Mas o número de lançamentos de foguetes tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos. 2023 viu um recorde de 223 tentativas de voos espaciais em todo o mundo. Isso é mais do que o dobro das 85 tentativas feitas em 2016. Só a SpaceX lançou um recorde de 96 foguetes orbitais no ano passado e pretende lançar quase 150 em 2024. As ambições ousadas da SpaceX são o que preocupa cientistas.
Enquanto os engenheiros da
maioria das indústrias coçam a cabeça, pensando como descarbonizar seus
negócios até meados deste século, conforme exigido pelos compromissos
internacionais de proteção climática, Elon Musk e a sua empresa estão
desenvolvendo um negócio intensivo em carbono com impactos extremamente
prejudiciais ao meio ambiente.
Indubitavelmente, não vale a pena destruir a estabilidade do clima na Terra para conquistar o espaço. Os bilhões de dólares gastos na corrida espacial poderiam ser mais bem empregados se fossem direcionados para o bem-estar social e ambiental da Terra.
As emissões globais de CO2 que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram cerca de 40 bilhões de toneladas em 2023. Em consequência, a concentração de CO2 que manteve uma média entre 200 e 300 ppm durante mais de 800 mil anos, começou a subir no século XIX, atingiu 300 ppm em 1920, chegou a 350 ppm em 1987, registrou 400 ppm no ano do Acordo de Paris, em 2015, e marcou o recorde de 422 ppm em 2023
O nível de 350 partes por
milhão (ppm) de CO2 na atmosfera é considerado uma meta
relativamente segura para manter o aquecimento global abaixo de 2ºC, conforme
estabelecido no Acordo de Paris. No entanto, não é exatamente o “nível ideal”,
mas sim uma meta que os cientistas acreditam ser necessário para evitar
impactos catastróficos das mudanças climáticas.
Mas em vez de cair e reduzir o efeito estufa, a concentração de CO2 continua subindo e a variação entre 2022 e 2023 foi a maior já registrada. O atual mês de abril/2024 está batendo todos os recordes de gases de efeito estufa na atmosfera.
Desta forma, não vale a pena emitir toneladas de carbono para ter uma promessa duvidosa de colonização de outros astros e planetas. Antes de pensar em conquistar o espaço é preciso reduzir as desigualdades sociais e conquistar a sustentabilidade ambiental da Terra. (ecodebate)
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