A chuva que causou enchentes
massivas no Rio Grande do Sul, levando à maior tragédia climática da região,
foi mais intensa devido às mudanças climáticas induzidas pelo ser humano, de
acordo com uma nova análise rápida realizada pelo consórcio ClimaMeter.
Análise reforça que o El Niño
e outros fenômenos naturais podem ter desempenhado um papel em agravar a chuva,
mas sua contribuição foi menor do que o impacto do aquecimento do planeta.
Cientistas analisaram as
condições meteorológicas que atingiram a região Sul do país entre o final de
abril e início de maio e concluíram que as mudanças climáticas em curso,
causadas pela ação humana, tornaram as chuvas 15% mais intensas.
A análise do grupo de
pesquisadores ClimaMeter aponta que as alterações do clima desempenharam um
papel importante em alimentar este episódio de chuvas intensas, pois a
contribuição do El Niño sozinho não pode explicar a intensidade do evento
observado.
O evento extremo que levou a
uma das maiores tragédias climáticas da história do país foi provocado por um
sistema de baixa pressão sobre o sul do Brasil, que trouxe grandes quantidades
de chuva para o Rio Grande do Sul, com regiões do estado acumulando mais de 200
mm de precipitação ao longo de três dias.
“Os achados do ClimaMeter
destacam que as inundações no Rio Grande do Sul foram intensificadas pela
queima de combustíveis fósseis, não pelo El Niño. Essas inundações impactam de
forma desproporcional comunidades vulneráveis que são injustamente
sobrecarregadas pelas consequências, apesar de terem pouca responsabilidade
pelas mudanças climáticas”, diz Davide Faranda, pesquisador do Instituto
Pierre-Simon Laplace de Ciências do Clima e um dos autores do estudo. “No
entanto, ainda existem maneiras de mitigar esses riscos. Ao abordar as mudanças
climáticas em escalas regional e global, podemos proteger vidas humanas e
limitar a frequência e a intensidade de eventos climáticos extremos. Isso
envolve uma redução imediata das emissões de combustíveis fósseis e medidas
proativas para proteger áreas vulneráveis de padrões de precipitação cada vez
mais erráticos. Tomar medidas decisivas agora para combater as mudanças
climáticas é crucial para construir comunidades mais seguras, capazes de
resistir aos desafios climáticos futuros”.
Também autora do estudo, a
pesquisadora brasileira Luiza Vargas, graduada pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, reforça que o estado historicamente sente os efeitos do El Niño,
que aumenta a precipitação sobre a região e causou inundações no passado. No
entanto, a análise mostra que o evento atual foi intensificado pelas mudanças
climáticas, quebrando recordes de inundação em várias cidades.
“A infraestrutura projetada para proteger contra precipitações extremas e inundações tem sido insuficiente no evento atual, deslocando milhares de famílias, especialmente aquelas com menor status socioeconômico. Há uma clara necessidade de investimentos em infraestrutura e planos de contingência de emergência para mitigação de tais eventos extremos, pois espera-se que aumentem sob as mudanças climáticas”, fala Luiza.
Mudanças climáticas agravaram as chuvas no Rio Grande do Sul
Governo do Rio Grande do Sul
engavetou planos para lidar com mudanças climáticas.
Notas complementares de
autoras do estudo:
Erika Coppola, The Abdus
Salam International Centre for Theoretical Physics, Itália:
“O Sudeste da América do Sul
é uma das regiões onde tanto as tendências observadas no passado quanto as
projeções climáticas futuras concordam que a intensidade e a frequência de
eventos extremos de precipitação e inundações pluviais aumentaram e continuarão
a aumentar até que cessem as emissões de combustíveis fósseis.
“A mensagem é clara e nossos
resultados nos direcionam para a mesma direção, identificando o componente
humano como responsável por isso. Não há tempo para esperar por ações, dada a
alta vulnerabilidade da região a eventos climáticos extremos e seus impactos na
segurança alimentar, infraestrutura e saúde”.
O rompimento parcial da Barragem 14 de Julho, localizada entre Cotiporã e Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul, devido às intensas chuvas de maio de 2024.
Gabriele Messori, Uppsala University, Suécia:
“A análise do ClimaMeter destaca que, embora o El Niño-Oscilação Sul tenha favorecido a precipitação intensa no Sul do Brasil, não explica por que esses eventos se intensificaram localmente em comparação com o passado. A análise mostra que as mudanças climáticas causadas pelo homem desempenharam um papel, e podemos esperar que isso só aumente no futuro, a menos que ajamos rapidamente para minimizar mais mudanças climáticas”. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário