quarta-feira, 5 de junho de 2024

Pico nascimentos mundial e nos 4 países mais populosos

O pico dos nascimentos no mundo e nos quatro países mais populosos.

“Diferentemente das pragas da idade das trevas ou das doenças contemporâneas que ainda não compreendemos, a praga moderna da superpopulação é solúvel pelos meios que descobrimos e com os recursos que possuímos. O que falta não é conhecimento suficiente da solução, mas consciência universal da gravidade do problema e educação dos bilhões que são suas vítimas” - Martin Luther King (1966).
A transição demográfica é o fenômeno de mudança de comportamento de massa mais importante da história da humanidade. Desde o surgimento do Homo sapiens, há mais de 200 mil anos, o ser humano lutou contra as altas taxas de mortalidade e teve que manter altas taxas de natalidade para compensar o grande número de óbitos.

Mas esta história mudou nos últimos dois séculos. As taxas de mortalidade começaram a cair ainda no século XIX e continuaram caindo desde então. As taxas de natalidade também começaram a cair em alguns países mais ricos, especialmente na primeira metade do século XX, mas passou a apresentar uma queda global a partir do final da década de 1960.

Em decorrência da transição demográfica, que vem se desenrolando nos últimos 2 séculos, o número de nascimentos no mundo já chegou ao pico, ou seja, o número de bebês que vinha crescendo até a segunda metade do século XX, estabilizou na virada do milênio, atingiu um valor máximo, passou a diminuir e vai continuar decrescendo ao longo do atual século. É o prelúdio de um decrescimento da população total que será a grande novidade no final do século XXI.

Número de nascimentos no mundo era de 92 milhões de bebês em 1950, subiu para 142 milhões em 1990, caiu para 134 milhões no ano 2000 e atingiu o pico de 144,2 milhões de bebês em 2012. Em 2023, nasceram 134 milhões de bebês, este número deve subir até 139 milhões em 2042 e vai apresentar um declínio contínuo até 111 milhões de bebês em 2100, segundo a Divisão de População da ONU.

A população mundial era de 2,5 bilhões de habitantes em 1950, chegou a 5 bilhões em 1987 (dobrou em 27 anos), alcançou 8 bilhões de habitantes em 2022 e deve atingir 9 bilhões em 2037. O pico populacional global está estimado em 10,43 bilhões em 2086 e a Divisão de População da ONU prevê um decrescimento para 10,35 bilhões em 2100. Mas o grupo etário 0 a 14 anos que era de 868 milhões de pessoas em 1950, chegou ao pico em 2001, com 1,86 bilhão de pessoas. Portanto, o grupo global de crianças e adolescentes (0-14 anos) já começou a diminuir desde 2002 e deve chegar a 1,70 bilhão de pessoas em 2100.

A transição demográfica também está em estágio avançado nos 4 países mais populosos do mundo. O gráfico abaixo, com dados da projeção média da Divisão de População da ONU (revisão 2022), mostra o número de nascimentos na Índia, China, EUA e Indonésia, de 1950 a 2100.

Nota-se que, na China, nasciam cerca de 25 milhões de bebês em medos do século passado, caiu durante a crise do “Grande Salto para a Frente”, ultrapassou a casa de 30 milhões de nascimentos durante a Revolução Cultural, caiu novamente nas décadas de 1970 e 1980 e chegou a 28 milhões de nascimentos em 1990. A partir de 1991 a diminuição do número de nascimentos foi muito grande, atingiu 10 milhões de bebês em 2023 e deve ficar abaixo de 5 milhões no final do século. Entre 1964 e 2024, o número de nascimentos caiu 3 vezes, de cerca de 30 milhões para 10 milhões. Entre 1964 e 2100, o número de nascimentos deve cair 6 vezes, de 30 milhões para 5 milhões por ano.

Na Índia, o número de nascimentos foi de 15,7 milhões em 1950, cresceu até o pico de 29 milhões em 2001, caiu para 23 milhões de bebês em 2023 e deve diminuir para 13 milhões no final do atual século. Nos Estados Unidos da América (EUA), o número de nascimentos foi de 3,4 milhões em 1950, subiu para 4,1 milhões em 1990 caiu nos anos seguintes e atingiu o pico de 4,3 milhões de bebês em 2007. O número de nascimentos caiu para 3,7 milhões em 2023 e deve ficar em 3,6 milhões de bebês em 2100.

Na Indonésia, o número de nascimentos era de 2,8 milhões em 1950, chegou ao pico de 5,1 milhões em 1982, caiu para 4,4 milhões em 2023 e deve ficar em 2,9 milhões de bebês em 2100. Há várias décadas nascem mais bebês na Indonésia do que nos EUA, mas a população americana continua maior por conta do maior saldo migratório dos EUA.
A diminuição do número de nascimentos é um prenúncio do decrescimento futuro da população total. Como a queda do número de nascimentos na China começou na década de 1970 e caiu rápido nas décadas seguintes, a população total da China já está diminuindo desde 2022 e vai ter uma queda gigante até 2100. Já a Índia se tornou o país mais populoso do mundo em 2023, vai continuar crescendo até 1 bilhão e 697 milhões de habitantes em 2063 e apresentará um decrescimento para 1,53 bilhão de pessoas em 2100.

Os EUA são o terceiro país mais populoso do mundo e segundo as mais novas projeções do US Census Bureau (o IBGE dos EUA), a população do país deve crescer até 370 milhões de habitantes em 2080, para iniciar uma fase de decrescimento demográfico para 366 milhões de habitantes em 2100. A população da Indonésia era de 70 milhões de habitantes em 1950, chegou a 275 milhões em 2022, deve atingir o pico populacional em 2061, com 319 milhões, para apresentar um decrescimento para 297 milhões de habitantes em 2100.

O importante a destacar é que todo país com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) passou pela transição demográfica. Não existe país com alto nível de bem-estar com taxas de mortalidade e natalidade elevadas.

Como escreveu Martin Luther King, em 1966, o alto crescimento demográfico dificulta o combate à pobreza e dificulta a melhoria das condições de educação, saúde, moradia, etc.

A diminuição do número de nascimentos é uma excelente notícia, tanto em termos sociais, quanto em termos ambientais. A redução do número de crianças abre espaço para o investimento na qualidade de vida das novas gerações, para a ampliação dos direitos de cidadania e para a melhor qualificação da força de trabalho. Por exemplo, ao invés de investir em novas instalações escolares, a diminuição do número de potenciais estudantes permite se investir na melhoria da qualidade da educação e na expertise profissional.

Em termos ambientais é uma notícia alvissareira, pois diminui a demanda por serviços ecossistêmicos e reduz, inevitavelmente, a poluição gerada pelas atividades antrópicas. O decrescimento demoeconômico com prosperidade social abre caminho para as políticas de mitigação e adaptação frente aos desafios da emergência climática e para o fortalecimento do meio ambiente, juntamente com a aceleração da restauração ecológica.
O decrescimento demográfico de China, Índia, EUA e Indonésia – que juntos possuem mais de 3 bilhões de habitantes – é uma boa notícia que, juntamente com o decrescimento da população global, vai se concretizar ao longo do século XXI, abrindo espaço para um Planeta com menos pessoas, mas com maior qualidade de vida social e ambiental. (ecodebate)

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