sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Primeiro BIPV multifamiliar de SC

A arquitetura solar avança no país: lançamento do primeiro BIPV multifamiliar de SC.

Com soluções inovadoras que unem estética e sustentabilidade, o projeto Sungarden exemplifica a importância de integrar a tecnologia fotovoltaica desde as fases iniciais de um projeto arquitetônico. Em novo artigo para a pv magazine, Clarissa Zomer compartilha como aconteceu o processo de integração fotovoltaica na arquitetura a partir do projeto arquitetônico original.
Fachada principal do Sungarden com brises fotovoltaicos verticais na fachada norte e pergolado semitransparente no terraço.

A Arquitetura Solar, conhecida como Building-Integrated Photovoltaics (BIPV), é uma inovação que vai além da sustentabilidade, tornando-se uma oportunidade de investimento para empresários, arquitetos, integradores e clientes finais. Entender que este mercado está em plena expansão e que as decisões tomadas na fase de concepção de um projeto arquitetônico podem influenciar diretamente a capacidade de geração de energia da edificação é essencial. A colaboração multidisciplinar entre profissionais é fundamental para otimizar sistemas que respeitem a estética e a funcionalidade da construção.

Com esse entendimento, fui convidada pelo Dr. Andrigo Antoniolli, engenheiro civil, especialista em energia solar e proprietário da Antoniolli Engenharia, para integrar a equipe de especialistas no desenvolvimento do Sungarden, um empreendimento multifamiliar de uso misto que prioriza inovação e sustentabilidade. O projeto arquitetônico é assinado por Thiago Dorini, da Dorini Arquitetura.

Neste artigo, compartilho como aconteceu o processo de integração fotovoltaica na arquitetura a partir do projeto arquitetônico original.

Sobre o empreendimento

O Sungarden possui um projeto arquitetônico inovador que redefine o conceito de moradia em Florianópolis. Com uma estética minimalista e contemporânea, o edifício combina elementos naturais como concreto, madeira, aço e vidro, criando uma atmosfera leve e atemporal. Dorini planejou cada detalhe para proporcionar beleza e funcionalidade, com soluções que garantem eficiência energética através de amplas aberturas que favorecem a iluminação e ventilação natural e geração de energia de forma integrada à arquitetura.

Antoniolli destaca que sua localização privilegiada próxima à praia da Cachoeira do Bom Jesus permite que todas as unidades tenham uma vista impressionante da paisagem, conectando os moradores à natureza. No rooftop, há uma piscina, área fitness e espaços de convivência que promovem o bem-estar. Assim, o Sungarden busca unir conforto, sustentabilidade, boa arquitetura e a beleza incomparável de Florianópolis.

Como o arquiteto projetou a edificação com o uso da energia solar em mente, o primeiro passo foi avaliar o potencial das áreas destinadas à geração energética, através do Diagnóstico Solar.

Diagnóstico Solar

No diagnóstico do Sungarden, avaliamos as características do edifício e seu entorno para propor as melhores soluções de integração fotovoltaica. Em seu projeto arquitetônico, o arquiteto previu o uso de energia solar no pergolado e nos brises frontais.
Identificação das possibilidades de integração fotovoltaica à arquitetura no empreendimento.

Utilizando a ferramenta Ábaco Solar da cidade de Florianópolis, foi possível buscar a combinação de desvio azimutal e inclinação dos elementos arquitetônicos para quantificar o aproveitamento solar. A disponibilidade de irradiação no pergolado do terraço será de 96% da máxima irradiação disponível em Florianópolis, enquanto os brises alcançarão 62%.

Identificação do aproveitamento de irradiação em cada possibilidade de integração arquitetônica através da ferramenta ábaco solar.

Imagem: Arquitetando Energia Solar

Isso significa dizer que a irradiação anual disponível nos pergolado será de 1.656 kWh/m² enquanto os brises receberão 1.092 kWh/m² no mesmo período. A variabilidade mensal demonstrou a maior contribuição do pergolado nos meses de verão e a similaridade de contribuição mensal entre todas as opções nos meses de maio a julho.

Em seguida, a análise de sombreamento revelou que o pergolado terá pouca interferência das elevações ao redor, com sombra apenas em pontos próximos à torre técnica (Pontos 7 e 8), antes das 10h e após às 16h. Nos brises, o sombreamento ocorrerá antes das 9h e após as 16h, variando de acordo com o mês.

Análise com máscara de sombreamento no pergolado e nos brises.

Imagem: Arquitetando Energia Solar

Proposta BIPV e expectativa de geração energética

Com base nos estudos de irradiação e sombreamento, selecionamos as tecnologias mais adequadas e dimensionamos o sistema BIPV. No Sungarden, o pergolado terá um sistema de 19,3 kWp, composto por módulos semitransparentes, enquanto os brises contarão com 8,8 kWp de módulos fotovoltaicos fabricados no Brasil. A potência total do sistema será de 28,1 kWp, com geração média de 2.420 kWh/mês, ou cerca de 30.000 kWh ao ano.

Custos de implantação

Diferente dos sistemas fotovoltaicos convencionais, que são sobrepostos a telhados ou lajes, os sistemas BIPV requerem uma estrutura de fixação personalizada, que desempenha tanto uma função arquitetônica quanto energética. No caso do pergolado do Sungarden, a estrutura foi projetada para manter a estética original enquanto acomoda os módulos semitransparentes, vedando a cobertura. Para os brises, desenvolvemos uma estrutura sob medida que harmoniza com o projeto original.

Em termos de custo, o sistema BIPV + estrutura do pergolado será de R$2.000,00/m² e o dos brises de R$2.200,00/m². Quando comparados ao CUB (Custo Unitário Básico) de edificações residenciais e comerciais em Florianópolis, que é de R$2.841,00/m² e R$3.059,00/m², respectivamente, esses valores mostram-se bem competitivos. Além disso, é importante considerar os custos evitados com materiais que seriam substituídos pelos módulos fotovoltaicos e os benefícios obtidos com eficiência energética, marketing e valorização imobiliária.

Parceiros

O projeto BIPV do Sungarden conta com a parceria da Garantia Solar BIPV e da Eternit no desenvolvimento de soluções estéticas, funcionais e eficientes para atender a demanda específica esta obra, conforme análises e projeto da Arquitetando Energia Solar.

 Conclusão

Quando a integração da energia solar é planejada desde a concepção do projeto, o resultado é uma edificação que harmoniza estética, funcionalidade e eficiência energética. O Sungarden é um exemplo claro de como essa abordagem pode transformar um empreendimento, garantindo que as soluções fotovoltaicas estejam perfeitamente integradas à arquitetura. Ao considerar as possibilidades de geração de energia solar desde o início, é possível criar projetos que não apenas respeitam o design original, mas o elevam, agregando valor estético e sustentável. Essa visão proativa, que une arquitetura e tecnologia, não só otimiza o desempenho energético, como também impulsiona a inovação no mercado imobiliário, trazendo benefícios duradouros para moradores, incorporadores e o meio ambiente.

Universidade Federal de Santa Catarina inaugurou prédio exemplar na produção de energia limpa

O edifício tem 4 andares e foi projetado para aproveitar ao máximo a luz do sol e, assim, gerar energia elétrica suficiente para abastecer o equivalente a 65 casas com até 4 moradores.

Projeto especializado no Brasil

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Sobre a autora: Clarissa Zomer é arquiteta, doutora em Engenharia Civil, especialista em sistemas fotovoltaicos integrados à arquitetura. Atuou como pesquisadora do Laboratório Fotovoltaica UFSC por 17 anos e em 2020 fundou a Arquitetando Energia Solar para prestar consultorias, realizar projetos, e oferecer cursos e palestras sobre arquitetura solar. Foi responsável por grandes projetos BIPV, como o próprio Laboratório Fotovoltaica UFSC, por estudos de viabilidade técnica BIPV, como o Mineirão Solar e a Megawatt Solar da Eletrosul e, recentemente, como os Brises Fotovoltaicos do Instituto Germinare. Possui mais de 60 MWp de projetos de sistemas fotovoltaicos integrados à arquitetura e mais de 60 artigos publicados em revistas internacionais, nacionais e em congressos. Clarissa é também Diretora de BIPV – Fotovoltaica na Arquitetura e Construção da ABGD e Diretora de Projetos Arquitetônicos da Garantia Solar BIPV.

Impressão da vegetação entre os painéis fotovoltaicos

Telhados com vegetação e irrigamento resfriam sistemas fotovoltaicos

Cientistas avaliaram como os chamados telhados “verde-azulados” podem ajudar a reduzir a temperatura dos painéis fotovoltaicos, com efeito de resfriamento significativo. O sistema de irrigação utilizado na pesquisa conta com um abastecimento adicional de água proveniente de águas cinzas de chuveiro. (pv-magazine-brasil)

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