terça-feira, 19 de novembro de 2024

Brasil reduzirá 80% das emissões energéticas com economia crescendo

Brasil pode reduzir 80% das emissões por energia mesmo com economia crescendo.

Observatório do Clima mostra que país não precisa recorrer a soluções falsas como captura e armazenamento de carbono nem continuar expandindo produção de combustíveis fósseis.

Em novo estudo, Observatório do Clima (OC) traça cenários para futuro do setor energético no país e aponta caminho para a transição justa e abandono gradual de fósseis. Para atingir a redução de emissões proposta pelo OC, a energia solar deveria ampliar sua capacidade instalada para 224 GW até 2050, com 133 GW só de geração distribuída.
O Brasil poderá chegar a 2050 emitindo cerca de 102 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) no setor de energia, cerca de 80% a menos do que é emitido atualmente, sem recorrer a captura e armazenamento de carbono (CCS) e sem a necessidade de expandir a produção de combustíveis fósseis. Essa é a conclusão do relatório Futuro da Energia: visão do Observatório do Clima para uma transição justa no Brasil, lançado em 22/10/24.

Entretanto, o estudo alerta que, caso as tendências atuais para o setor de energia se mantenham – mesmo incluindo compromissos positivos relacionados à produção de biocombustíveis e ao aumento de fontes renováveis –, o setor de energia brasileiro deverá chegar a 2050 emitindo 558 milhões de toneladas de CO2e, número superior ao pico alcançado em meados da década passada. Em 2022, as emissões do setor ficaram em 490,6 milhões de toneladas de CO2e, segundo dados do SEEG/Observatório do Clima.

Elaborado pelas organizações que formam parte do Grupo de Trabalho (GT) de Energia do OC, o documento detalha uma proposta de diretrizes em áreas como transportes de carga e de passageiros, produção de combustíveis e biocombustíveis, indústria e geração de eletricidade. Também são abordadas questões como as perspectivas para a produção de hidrogênio verde, o fechamento de termelétricas a carvão, o crescimento das fontes eólica e solar e o papel das térmicas a gás fóssil em médio e longo prazos.

Apresentadas como Visão do OC, alternativa ao cenário em que as políticas atuais são mantidas, as propostas buscam que o Brasil reduza em 92% as emissões líquidas até 2035 em relação aos níveis de 2005, número defendido pelo OC para uma nova proposta brasileira de NDC (meta atualizada para o Acordo de Paris). Isso significaria diminuir as emissões líquidas de gases de efeito estufa de 2,44 bilhões de toneladas de CO2e, cifra de 2005 estimada pelo SEEG, para no máximo 200 milhões de toneladas de CO2e.

Brasil pode reduzir 80% das emissões por energia mesmo com economia crescendo

Em estudo inédito, Observatório do Clima (OC) traça cenários para futuro do setor energético no país e aponta caminho para a transição justa e abandono gradual de fósseis.

Os objetivos também se inserem na Estratégia Brasil 2045, do Observatório do Clima, que defende que o país pode se tornar a primeira grande economia do mundo a sequestrar mais gases de efeito estufa do que emite, tornando-se negativo em carbono até o ano de 2045.

“O relatório mostra que é possível reduzir o uso de combustíveis fósseis mesmo num cenário de crescimento econômico. Com análises técnicas sólidas, demonstra que podemos alterar rotas equivocadas e contribuir no setor de energia para que o Brasil se torne um país carbono negativo até o ano de 2045”, afirma a coordenadora de políticas públicas do OC, Suely Araújo.

Estudo foi motivado pelo entendimento de que embora imprescindível, zerar o desmatamento da Amazônia e de outros biomas não é o suficiente para que o Brasil cumpra as metas de Paris. O país larga na frente por conseguir gerar 90% de sua energia elétrica a partir de fontes renováveis, mas ainda assim há um longo trabalho a ser feito nas atividades que mais emitem gases de efeito estufa do setor de energia.

Para que ocorra uma transição justa, o GT de Energia do OC também se debruçou sobre os impactos socioambientais – que já ocorrem – das novas fontes renováveis e da mineração de metais estratégicos, apontando quais salvaguardas e iniciativas de mitigação o poder público deve adotar. Além disso, abordou temas como a reforma do setor elétrico, trouxe diretrizes sobre como superar a pobreza energética e corrigir injustiças, além de apontar os caminhos para melhorar a eficiência energética de diversos setores.

Crescimento da geração solar na Visão do Observatório do Clima

O caso de referência do estudo, que considera as projeções oficiais de crescimento para o setor de energia, considera a que a fonte solar somaria 139 GW em 2050, dos atuais 47 GW. Já seguindo as diretrizes propostas pelo Observatório do Clima, a fonte chegaria a 224 GW no mesmo período, sendo 133 GW só na geração distribuída.

Estimativa mais conservadora do Plano Nacional de Energia é de 27 GW de capacidade instalada de usinas solares centralizadas conectadas ao SIN até 2050. Esse número pode ser facilmente superado, tendo em vista que as centrais solares superaram os 15 GW já em agosto/2024. Em relação à energia solar fotovoltaica distribuída, o cenário de referência do PDE 2034 estima em 58,8 GW a capacidade instalada em 2034. Projetando linearmente essa tendência, chega-se a uma potência instalada de 112,8 GW de potência em 2050.
Já no cenário Visão do OC, o Brasil deve chegar em 2034 com uma capacidade de geração distribuída de até 70,5 GW, conforme a estimativa mais otimista do PDE. É um número factível diante do rápido crescimento do setor, mas, com as mudanças regulatórias ainda em curso, existe uma tendência de estabilização da curva de crescimento.

Nesse cenário, o Brasil se espelharia nas diretrizes propostas pela Agência Internacional de Energia para que edificações construídas a partir de 2030 sejam carbono neutro e que até 85% dos já existentes passem por retrofit até 2050, neutralizando suas emissões. O país precisaria para tanto aumentar a produção de eletricidade por micro e minigeração distribuída de 5,3 TWh em 2020, segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEN) 2021, para 124,5 TWh em 2050 — podendo atingir 164 TWh, de acordo com o cenário superior do PDE 2034, projetado linearmente para 2050. Em relação à capacidade instalada, o Brasil sairia de 4,8 GW de potência em 2020 para cerca de 133 GW em 2050, ainda segundo essa projeção.

No caso da fonte solar centralizada, o cenário mais otimista do Observatório do Clima considera a projeção do PNE 2050 que tem uma sensibilidade às restrições à expansão das hidrelétricas, seja por questões legais ou por efeitos das mudanças climáticas, que fazem com que as grandes centrais solares compensem essa limitação. A capacidade pode facilmente chegar a 91 GW de potência instalada em 2050, como prevê a estimativa mais otimista do PNE, podendo ultrapassar os 100 GW como forma de compensar uma eventual expansão mais modesta de outras fontes renováveis.

Duas referências de PIB

O trabalho considerou um crescimento médio do PIB de 2,1% ao ano até 2050, projeção usada para calcular a demanda energética e as emissões de gases de efeito estufa de cada atividade do setor de energia sob as premissas e diretrizes defendidas pelo OC. Foi a partir dessa projeção de crescimento que se chegou à previsão de 102 milhões de toneladas de CO2e emitidos pelo setor de energia em 2050.

O relatório também considerou um cenário de crescimento inferior, de 1,3% ao ano, e superior, de 2,8% ao ano, mostrando como mudariam a demanda energética e as emissões de gases de efeito estufa no país.

Os resultados que seriam alcançados a partir dos compromissos defendidos pelo OC são comparados com os obtidos em um cenário tendencial, que buscou projetar as emissões a partir das tendências para os próximos anos. Para isso, foram analisados os compromissos – positivos ou negativos – assumidos pelo poder público, com foco nos programas do governo federal e nas legislações discutidas no Congresso, além das tendências de mercado e dos planos estratégicos de empresas como a Petrobras.

Considerando um crescimento médio do PIB de 2,1% ao ano e as diretrizes deste cenário tendencial, o setor de energia chegará em 2050 emitindo 558 milhões de toneladas de CO2e.

Entre as conclusões, cabe ressaltar que o transporte de cargas, majoritariamente rodoviário, continuará sendo a principal atividade emissora do setor de energia. Mesmo considerando as diretrizes propostas pelo OC, a atividade é a que apresenta os maiores desafios por conta das dificuldades de eletrificar caminhões pesados e semipesados, seja pelos custos das baterias e de outros componentes, seja pelas longas distâncias percorridas.

Assim, a redução dessas emissões deverá ser relativamente lenta até 2040, com o aumento do uso de biodiesel, eletrificação parcial, concentrada em caminhões médios e leves, e aumento de eficiência. A partir de 2040, contudo, a redução de emissões deve se acelerar com a maior inserção do diesel verde. Os cálculos indicam que o nível de emissões deve cair de 115 milhões de toneladas de CO2e em 2022, segundo dados do SEEG, para 38 milhões de toneladas em 2050 – isto é, 38% das emissões projetadas para o setor de energia.
Brasil pode fazer transição energética sem expandir exploração do petróleo, diz estudo

Trabalho apresenta caminhos para Brasil se tornar 1ª grande economia do mundo a sequestrar mais gases de efeito estufa do que emite.

A maior oportunidade para reduzir as emissões rapidamente está no transporte de passageiros. As diretrizes do OC vão além da mera substituição da gasolina por etanol nos veículos flex e na gradual eletrificação da frota. Para que essa atividade deixe de emitir 102 milhões de toneladas de CO2e, conforme registrou o SEEG em 2022, e passe a emitir somente 16 milhões de toneladas, como projeta a Visão do OC, é preciso mudar os paradigmas das cidades, que devem ser mais compactas e com deslocamentos menores, e aumentar os investimentos em transporte público coletivo por ônibus, metrô, VLT e na infraestrutura para o uso das bicicletas em detrimento dos automóveis individuais. (pv-magazine-brasil)

Nenhum comentário:

Aumento nível do mar devido às mudanças climáticas inundará portos de petróleo

Aumento do nível do mar devido às mudanças climáticas deverá inundar os principais portos de petróleo pelo mundo, diz estudo. Cientistas d...